quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Diário da Mídia (nova série)

                               

Situação do Ministro Levy

    
        Não é de estranhar que a atual condição do Ministro Joaquim Levy que em breves meses de sua posição de deus ex machina na economia caíu para a de um ministro marginalizado nas principais questões seja objeto dos comentários dos principais colunistas.

       O mais pungente se a afigura Elio Gaspari que diz ‘Levy saíu do prazo de garantia’. Assim na cruel definição: ‘não é mais o que seria, mas, na verdade, nunca chegou a sê-lo’. Agora, sempre segundo o colunista falta saber quanto tempo lhe resta ‘para sair do prazo de validade’.

       Ainda consoante Gaspari, ‘Levy já se deu conta de que meteu-se numa encrenca. Tendo perdido a garantia, fica diante de uma característica dos ministros com validade vencida. Quando ela caduca, a iniciativa de ir embora sai das suas mãos.’

        Até dias atrás, a insatisfação do Ministro Levy só poderia ser lida na observação de sua fisionomia, em geral cerrada, em ocasiões públicas, ou na companhia do Ministro Nelson Barbosa que de companheiro de equipe virou sua nêmesis.

        Como vivemos em época de raínha ameaçada, mas ainda com bastante poder, as suas intervenções, que continuam a preferir o lado errado, têm de ser acompanhadas na medida de o que possam realizar de mal ou de bem. Por isso, além da expressão contraída e insatisfeita, o Ministro Levy voltou a mandar recados sobre os riscos de piora na situação econômica.

         Em audiência na Câmara, o Ministro Levy disse haver um ‘desafio para todo o mundo’, citando sociedade, governo e Congresso para ‘botar a casa em ordem’. Em seguida, frisou que ‘evidentemente que ela não está em ordem’ e ‘a gente precisa crescer e ter confiança para não ver o dólar disparar.’

         Sentados em montes de palha ressecada, já vendo nos quadros o dólar atingir paragens de há muito não vistas, e com as campainhas tocando insistentes sobre a perda do grau de investimento (a ser acionada pelas famosas agências de avaliação de risco), não há de surpreender que tais ministeriais considerações tenham sido recebidas com preocupação por operadores do mercado.

           Como indica o comentário da Folha, ‘a reação foi quase simultânea, levando mais pressão ao mercado de câmbio’.

           A fala do Ministro agregou pressão em um governo com situação fiscal deteriorada, sem mencionar as notícias ruins vindas da China.

           Por isso, as observações do Ministro Levy voltaram a alimentar rumores de que ele pode deixar o Governo. A equipe dele, ritualmente nega, mas é forçoso reconhecer que a linguagem palaciana (que pode incluir omissões e exclusões) parece bastante enfática quanto ao seu desprestígio no círculo palaciano da Rainha ameaçada.  

           Quiçá o pior disso tudo não é a alegria maldosa de quem se diverte com os tombos (presumidos ou não) ministeriais. É o fato de um grande quadro da República permitir que se crie situação em que um ministro não está sendo fritado, mas na verdade queimado a ponto de ficar inútil para situações mais manejáveis, e sob lideranças que melhor entendam a sua anterior grande possibilidade. Estamos numa Corte em que a Rainha tem ameaçada (figurativamente, é bom que se entenda) a própria cabeça. Se ela insiste em continuar atuando na sua forma costumeira, o problema deveria ser dela. Eis que o Ministro não deve ser mais realista do que ... a Rainha. O melhor seria pôr-se ao largo com dignidade. Para que não mais seja confundido com os bobos da Corte.

            Aliás da seriedade da situação nacional, não há que duvidar. Se incertezas tivera, elas caíram quando li – e também na Folha – passagem de artigo hodierno de Delfim Netto guindada aos holofotes da primeira página: “O ajuste fiscal falhou porque faltou reconhecimento imediato e explícito de Dilma que, subestimara, sistematicamente, dificuldades causadas pelo voluntarismo de sua gestão. Quem tinha de convencer a sociedade que mudou o entendimento sobre os problemas econômicos não era o ministro da Fazenda ‘sombra’ mas ela mesmo.”

            A cacofonia desaparece ou pelo menos se atenua, se atentarmos para a coluna de Miriam Leitão, que parece saída de outra realidade. Não há risinhos maldosos da chamada Schadenfreude[1], nem tentativas  que afetam um certo détachement[2] de uma realidade que é apresentada como adversa (embora se tenha a impressão de que os seus efeitos negativos não concernem quem opina...)

           É um prazer ler Miriam Leitão, primo porque ela sabe de o que está falando e secondo  não teme em apontar os erros e em sugerir saídas.  Com o que escreve na sua coluna hodierna, é difícil não concordar. Seria melhor que Levy continuasse, é a solução do bom senso. Infelizmente, estamos onde estamos não por causa de bom senso e bom governo. Não se pode presumir soluções corretas, de um governo Dilma Rousseff. Quanto ao ponto (2), saltam aos céus os riscos ( e os custos) da saída de Joaquim Levy. Miriam tem carradas de razão em dizer que ele pode ser maior  do que o Governo está imaginando. Mas infelizmente caber perguntar: porque chegamos onde estamos? Por um misto de ignorância militante e por total falta de prudência. Quanto ao embate Levy x Barbosa a causadora nós sabemos quem é. Não foi por acaso que tivemos o Dilma I. O Dilma II é apenas uma consequência. Por isso, não há mais espaço para um diálogo racional se mantivermos tais premissas...

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo;  O  Globo )



[1] Vocábulo alemão que significa ‘Alegria com a desgraça (alheia)’.
[2] Palavra francesa que significa ‘afastamento’.

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