quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A Crise Israelo-Palestina


                                 
        Em discurso perante a Assembléia Geral das Nações Unidas, Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, declarou que não mais respeitará os Acordos de Oslo entre Israel e a Palestina.

       Abbas explicou o seu gesto, pela circunstância de que Israel não respeita tais acordos, que foram assinados em 13 de setembro de 1993, nos jardins da Casa Branca, na presidência de Bill Clinton, por Yasser Arafat, do lado palestino, e Yitzhak Rabin, Primeiro Ministro, e Shimon Peres, Ministro do Exterior, por Israel.

        Passados 22 anos, desde a sua festiva firma em atmosfera de muitas esperanças quanto a abertura de novo capítulo nas relações árabe-israelenses, que  superasse a crise permanente que caracterizava tais relações, os Acordos se evidenciariam um fracasso, sobretudo por não terem colocado um termo aos assentamentos dos colonos hebreus. Ignorando na prática e adrede o propósito de construir relacionamento igualitário entre as duas nações, os Acordos de Oslo, ao não atenderem o princípio básico da Justiça nas relações árabe-israelenses,  iriam na verdade, por amarga ironia, representar um festivo pavilhão sobre o nada. Os Acordos de Oslo foram derrogados acertadamente pelo Presidente Mahmoud Abbas, eis que constituíram o véu enganoso  da continuação do escândalo da injustiça que presidiu a tais relações por todos esses anos, e que é sobretudo a privação sistemática dos palestinos de suas terras ancestrais.

     Faltou da parte palestina na implementação desses famosos Acordos - que foram negociados em segredo e semelharam, a princípio, representar uma nova era nas contenciosas relações entre os dois países -  atenção maior à redação quanto a que se chegasse a acordo sobre a posse dos respectivos territórios. A falta de redação clara e inquestionável, em que se afirmasse de parte a parte a existência de limites definidos e não-suscetíveis ao incremento vegetativo que se verificou nos anos a seguir, com a sistemática invasão e posse de parte dos chamados colonos judeus em território palestino foi o golpe fatal para os Acordos de Oslo, eis que não garantiu os territórios palestinos do contínuo avanço dos novos assentamentos hebreus. E foi essa má-fé, que nenhum dirigente israelense teve a força de neutralizar, que constituiria o câncer que matou a esperança da paz autêntica entre as duas nações, eis que um elemento fundamental da paz é a justiça e o respeito recíproco.

        Há uma não tão lenta e inexorável deterioração nas relações árabe-israelenses. Se a falta então de experiência árabe em negociação diplomática terá sido instrumental nessa lenta e inexorável descida no nível dessas relações, a liderança de Israel, que nos últimos anos caíu nas mãos da direita, sob o comando de Benjamin Netanyahu, trabalha não em prol do entendimento e de boas relações com a Autoridade Palestina. A fraqueza do Ocidente, e notadamente dos Estados Unidos, não tem sido um fator produtivo que leve as duas Partes para um acordo que partindo do presente nível, só poderá ser significativo se inverter a atual direção que favorece Israel. Isso se manifesta tanto nas relações com a Autoridade Palestina, que é tratada como se fora um bantustam, quanto na situação interna de Israel, em que o segmento palestino é sistematicamente defraudado de suas terras.

         A Paz entre árabes e judeus só surgirá sob a chancela de uma justiça em que os direitos das duas comunidades, a árabe e a israelense, sejam autenticamente respeitados, e não com as deformações atuais. Que o seja  de conformidade com os Acordos Internacionais e as disposições do Conselho de Segurança das Nações Unidas, por demasiados anos não implementados. Aí está a contribuição que se espera das duas comunidades e notadamente da israelense. Não há paz verdadeira sem justiça e sem respeito pelos direitos tanto dos palestinos, quanto dos israelenses.

        Não será através do 'sistema' de Bibi Netanyahu que tende a diabolizar a componente árabe da população, e que pela sua obtusidade só tende a acirrar as relações entre Tel-Aviv e Ramallah, que se construirá a paz nos territórios da antiga Palestina.

         Ultimamente a Autoridade Palestina vim firmando acordos com outros países para ativar a sua condição de país independente (posto que, infelizmente, ainda na teoria) e - o que faz parte da mesma direção - revogando os Acordos de Oslo, uma grande esperança diplomática, que se tornou um logro na prática, e muito à conta da política israelense de dominação.

 

(  Fonte subsidiária: The New York Times )

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