segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Lava-Jato no Palácio do Planalto


                                          

         Desta feita, a  Operação Lava-Jato  não só entra no Palácio do Planalto, mas também se dirige a dois gabinetes bastante próximos de Dilma Rousseff.

         Não é por acaso que Aloizio Mercadante se acha na chefia da Casa Civil. Desde o primeiro mandato, quando era ainda Ministro da Educação, a sua cercania da Presidenta já era conhecida. Missões difíceis e/ou importantes eram confiadas a Mercadante, dada a sua condição  que, em um regime monárquico, o tornariam o favorito da soberana.

        Dessarte, a sua passagem para o Palácio na verdade não criou uma situação, mas sim a confirma. Mercadante goza da confiança de Dilma e desde muito pode ser considerado como o seu alter ego.

        Nem a derrota do candidato petista, Deputado Arlindo Chinaglia, à presidência da Câmara dos Deputados, a dois de fevereiro último, enfraqueceu o Chefe da Casa Civil. Por mais que se tenha falado de Jacques Wagner para dar à Casa Civil o viés que ela tinha antigamente – e nesse antigamente penso em governos anteriores à passagem para Brasília – Dilma fez ouvidos de mercador. Para ela,  mesmo sem o arsenal de contatos e capacidade política do ex-governador da Bahia, Aloizio Mercadante goza de sua estrita confiança e temos conversado.

        Agora, mais dois petistas, o citado Aloizio Mercadante e o Secretário de Comunicação, Edinho Silva, ambos instalados no Palácio do Planalto, serão investigados pelo Ministério Público, no quadro da Operação Lava-Jato.

         Tanto a Folha de S. Paulo, quanto O Globo, em suas edições hodiernas, ressaltam o aspecto eminentemente político da decisão do Supremo Tribunal Federal, por intermédio do Ministro Teori Zavascki, que é o encarregado da pasta da Lava-Jato, de abrir inquéritos contra os dois Ministros acima citados reforça decerto a pressão sobre Dilma.

        Tais inquéritos são decorrência da delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC. Pessoa, que está preso, denunciou Edinho e Mercadante como beneficiários de recursos do Petrolão.

        Posto que Mercadante ocupe posição mais relevante do que a do Ministro Edinho Silva, este último como tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, trata de matéria mais sensível, e, por conseguinte, tendente a acarretar maior pressão sobre Dilma Rousseff.

       O Ministro Teori igualmente determinou a instauração de inquérito contra o Senador Aloysio Nunes, tucano de São Paulo.  A posição de Edinho Silva, como tesoureiro de Dilma em 2014, atrairá mais atenção por envolver supostas irregularidades da última campanha, enquanto seja o Senador Aloysio Nunes, quanto Mercadante tenham de explicar questões a financiamento de campanha em 2010.

       Embora os tempos sejam diversos e a legalidade é ora  presença incontestável, será sempre incômodo para a Chefe da Nação ter a consciência de que auxiliares de sua direta confiança – como Mercadante  e Edinho Silva – estejam sendo investigados pelo Ministério Público Federal, sob determinação do Supremo e do Ministro Teori Zavascki.

        A única presença anterior de força investigativa em Palácio presidencial na história da República não pode ser comparada com a presente investigação autorizada pelo Supremo ao Ministério Público Federal.

       Nos últimos dias que precederam à maior tragédia na Presidência – que foi o 24  de agosto de 1954 -  adentraram o Palácio do Catete, então a sede da Presidência da República,  oficiais da Aeronáutica, a mando da chamada república do Galeão e de um  golpe militar in fieri.  Estávamos  no mês final da última presidência de Getúlio Vargas. Com caminhão com chapa oficial, carregaram o arquivo pessoal de Gregório Fortunato, que era o Chefe da Guarda Pessoal do Presidente Getúlio Vargas.

      No caso, uma operação quase policial, pois desempenhada por oficiais da Aeronáutica, mas sem outra autorização que a ordem do Coronel Adil de Oliveira, de um poder militar, na prática, revolucionário. Nada a ver com a  operação da Lava-Jato na sede presidencial, devidamente autorizada pela mais alta instância jurídica do país.

 

( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo, Getúlio 1945-1954,Lira Neto, Cia. das Letras)

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