terça-feira, 29 de setembro de 2015

O 'Speaker' e a Imigração

                       

                                   
       Frustrado pelo obstrucionismo da facção Tea Party na Câmara de Representantes, o presidente da Câmara, John Boehner – que tem o título de Speaker – resolveu renunciar à sua cadeira no Congresso.

       O católico romano Boehner ficou sensibilizado, e mesmo emocionado, pelos esforços de Papa Francisco que, segundo acentua o editorial do New York Times, fez literalmente tudo que do Santo Padre se poderia esperar no que tange a convencer o povo americano (e suas instituições) da oportunidade e da extrema justiça e, portanto, conveniência, de acolher os imigrantes como cidadãos a título integral na Terra do Tio Sam.

       Terão sido em vão tais esforços? Como se sabe, a reforma da imigração é um projeto de lei bipartidário, que foi aprovado em 2013 pelo Senado americano, com substancial apoio dos dois Partidos, o que constitui nos tempos atuais de confrontação política uma raridade. Sem embargo, a oposição na Câmara, não só pelos extremistas de direita do Tea Party, esta facção que surgira, com as bênçãos dos petroleiros irmãos Koch, ao ensejo do famigerado shellacking (tunda), que criou as condições para que através de maciço gerrymandering[1], se visse assegurada a maioria eleitoral em favor do GOP na Câmara de Representantes.

       A ilegalidade do gerrymander deve ser combatida e anulada, não só como toda prática que se valha de meios fraudulentos, e é portanto írrita de direito, senão porque ela desvirtua a sagrada função do voto popular, fazendo que nas câmaras dela oriundas, como na mais alta delas (com exceção do Senado Federal), vale dizer a Câmara de Representantes, não seja expresso o sentir da Nação, mas opinião que não reflete o pensamento do Povo em geral. Essa estropiada realidade, se mostra em todo o seu caráter de desvirtuamento de uma Câmara, como a de Representantes, no caso da reforma imigratória que, aprovada pelo sufrágio bipartidário no Senado, é engavetada na Câmara Baixa, eis que esta última não reflete, pelos espelhos trucados, o real sentir do Povo americano.

         Apesar de emocionado como católico pela pregação do Sumo Pontífice em prol da abertura imigratória nos Estados Unidos, pelo visto  John Boehner prefere retirar-se discretamente da cadeira de Speaker, ao invés de concluir a sua longa militância na Câmara por ato de coragem cívica e até pessoal. Havendo por muito se negado a submeter ao voto do plenário a Reforma da Imigração, apesar de endossada pelos dois partidos no Senado (o que constitui fato raríssimo nos confrontativos dias atuais),  o Deputado John Boehner poderia sair da política com uma grande contribuição ao Povo Americano, nele integrando massa de onze milhões de pessoas, cujo potencial como cidadãos contribuintes ao Erário americano se acha por ora barrado pelo medo e a falta de esperança. Por causa deste obstáculo, o Presidente Obama teve, entrementes, de recorrer a controversa reforma realizada através de decreto executivo, eis que, diante da falta de ação pelo Legislativo (devida à dissonância na Casa de Representantes), inexistia outra opção. Como se sabe o decreto presidencial está encalhado em tribunais de segunda instância.

            Segundo o New York Times, essa oportunidade ora surge com a renúncia do Speaker John Boehner. Seria, na essência, o famoso beau geste que completaria longa carreira política atendendo, inclusive, a vontade de muitos, e do próprio, que se despediria da Câmara com um gesto de coragem política e de atendimento pessoal às suas próprias convicções.

            Será acaso esperar demasiado ?

 

 

( Fonte: editorial do New York Times )             



[1] Prática inaugurada em 1812 pelo Governador Gerry, de Massachusetts, que consiste em favorecer um dos partidos através do redesenho em seu proveito dos distritos eleitorais.

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