quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A Rainha na Prancha

                                           

         Há, no entanto, outro cenário para o drama enfrentado por Dilma Rousseff. Ele está retratado, em grandes traços, na coluna hodierna de Merval Pereira.

         É forçoso reconhecer que a atual situação em que encontra a Presidente foi por ela mesmo criada. O colunista de O Globo atribui ao próprio governo ‘um erro de cálculo inacreditável’ ao enviar ao Congresso um projeto de Orçamento com déficit de R$ 30 bilhões para pressionar o Congresso.

        Mas os supostos ‘erros’ da Presidente não param por aí. Forçoso será, no entanto, reconhecer que lhe são imputadas falhas de julgamento, em matérias cuja importância para a solução do problema fiscal é demasiado grande para ser ignorada.

        A prudência é uma virtude indispensável, e no caso em tela não parece ter sido observada. Dilma não é do ramo, e não só ela, mas também o Brasil está pagando caro pela sua presença no Palácio do Planalto. O incrível disso tudo é que, depois de um governo desastroso, que trouxe a inflação de volta entre otras cositas más, ela conseguiu reeleger-se com base no mago Santana, no aparelhamento do Estado (não dando direito de resposta sobretudo à Marina) e com um montão de mentiras. Toda a quota de ousadia e cara-de-pau foi empregada nos debates televisivos e na propaganda. Com base em um balão de vento e de atochadas ‘verdades’, ela conseguiu superar Aécio Neves em três e meio por cento.

         Reeleita, estoura o ‘petrolão’ e lhe batem à porta todas as mentiras de que se utilizara, com a desenvoltura de quem nunca teria que lidar com elas.

         Criaram-se, assim, as piores condições para o seu segundo mandato. A sua popularidade começou a cair e ela assistiu a esse filme como se fora espectadora, e não a sua protagonista.

         Surgiu, assim, uma situação de descalabro político, que tornou na prática natimorto o próprio governo. O seu antigo mestre e criador dela se afastou, e como ainda nutre esperanças para 2018, passou a defender um receituário oposicionista.

         Mesmo um ás da política – como Lula se crê – não teria condições de com baixíssima popularidade (sete dígitos!) virar esse jogo. À confiança do Povo não se ilude impunemente.

         Por outro lado – e não por sua culpa – aprendeu tarde e, portanto mal, o instrumental político de que carece no Brasil a nossa mais alta autoridade. A responsabilidade disso é imputável ao carismático Lula da Silva, e agora que ela se acha em voo solo, com medíocre assessoria política, as coisas tendem a complicar-se ainda mais.

        É verdade que se ela gostasse um pouquinho de política e dos políticos, se tratasse melhor a gente, e não só aqueles mais próximos, mas também tivesse a arte de cultivar possíveis substitutos do torneiro mecânico, junto com o jeito de ouvir e de agradar as pessoas (e, se factível, não só as que contam), ela formaria um círculo maior a seu torno. O bom político precisa gostar de gente, ter temperamento não só afável, mas que saiba dosar atenções, tratando cada um como se ele fosse depositário de  experiência importante. O que ela tem passado é um chorrilho de grossuras e palavrões, a ponto de já haver um longo histórico de ofensas gratuitas e até de brigas com todo tipo de servidor, de altas hierarquias a populares. Com a sua maneira de ser, ela destrata do general à tarefeira, além de criar um ambiente pesado e tensionado à sua volta. Agindo desse modo, é forçoso convir que a Presidenta trabalha contra ela mesma, afastando de si pessoas que podem ter valor. Ninguém gosta de ser espezinhado e destratado, e quem chefia não pode esquecer que está cercado de seres humanos e não de robôs ou servos da gleba.

           Sei que ela passou por horas difíceis, foi presa, espezinhada, torturada, mas nada disso justifica que se vá despejar sobre a gente à volta os maus humores, a tensão do ofício e os eventuais dissabores, que costumam às vezes ser grandes para quem tem a fortuna – sem esquecer o mérito - de subir mais alto que os demais.

          Os grandes políticos no Brasil – e os há poucos – deveriam procurar imitar o controle emocional de Getúlio Vargas (carisma não se ensina, nem se transmite) e a simpatia e o dom de criação de Juscelino Kubitschek. A este último tive a felicidade de conhecer no apogeu, ao dele receber o diploma de Consul classe K, como então se chamava os jovens diplomatas que terminavam o Curso do Instituto Rio Branco. Com o seu jeito mineiro e maroto, JK me disse ‘Você é muito moço, rapaz!’. Mais tarde, para minha honra, descumpri ordens e, como segundo secretário da Embaixada em Paris recebi e guiei até o Jardin de l’Acclimatation (no Bois de Boulogne) o modesto Simca em que JK circulava com dona Sarah. Ele, um dos nossos maiores presidentes, não se apequenou diante das perseguições e dos interrogatórios dos IPMs. E se uma lição dele aprendi, é que as pessoas devem ser respeitadas pelo que são, e não pelo posto que ocupem.

          A senhora enfrenta  hora difícil. Mas a vontade faz a hora, e não deixa acontecer. Eleita pelo povo brasileiro, a senhora tem por missão preservar o Brasil, acima da demagogia e dos interesses de partido, muitos inconfessáveis. É manifesto que o nosso país não tem condições de arcar com as pautas-bomba que políticos irresponsáveis tentam tramitar na Câmara e no Senado Federal. Todas essas criaturas levantam as respectivas cabeças pensando valer-se da oportunidade de sua suposta fraqueza.

          A Senhora pode mostrar o melhor de sua personalidade  expondo sem medo para a Nação o que está agora em jogo. Nenhum país tem condição de suportar essa coalizão da demagogia e de deslavado oportunismo, que não trepida em pisar sobre os interesses maiores da Pátria brasileira.

         A Senhora tem a oportunidade de transformar o desafio ao Brasil de uma aliança de interesses inconfessáveis em ação firme de preservação de nosso Tesouro, e de sua capacidade de atender os interesses dos brasileiros. Dentre todas as nossas entidades tutelares, o bom senso e a preservação do Estado se acham acima do clientelismo e dos interesses de facção.

         Acima de tudo, está o bom senso e o sentir patriótico do Povo brasileiro. Em poucas, mas firmes palavras, a Senhora poderá levar essa mensagem à nossa gente. A adversidade é apenas um obstáculo e a Senhora terá presente que a sua vida lhe indica o caminho que deve tomar nesta hora.

          É pensando nisso que em comunicação anterior – a Rainha Fraca – lhe encareci “que não se esqueça que a Senhora é a Presidente do Brasil, e se tiver isso bem presente, e agir em consequência, terá o meu apoio e quero crer que  o de muitos outros brasileiros que mais alto põem o interesse nacional.”

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