domingo, 13 de setembro de 2015

Editorial da Folha


                                       
         Intitulado ‘Última Chance’ e publicado em primeira página, com grande destaque, e ocupando praticamente um terço da folha de rostro, o editorial da Folha de S. Paulo não mede palavras tanto em assumir a gravidade da situação nacional, quanto a responsabilidade do Governo de Dilma Rousseff.

        Sob o título ‘Última Chance’ é o que concede à Presidente. “A presidente abusou do direito de errar. Em menos de dez meses de segundo mandato, perdeu a credibilidade e esgotou as reservas de paciência que a sociedade lhe tinha a conferir.”

        No entendimento desse prestigioso diário de São Paulo ela “precisa agora demonstrar que ainda tem capacidade política de apresentar rumos para o país no tempo que lhe resta de governo.”

        Não é somente em Dilma Rousseff que recai essa magna responsabilidade: “Medidas extremas precisam ser tomadas. Impõe-se que a presidente as leve quanto antes ao Congresso – e a este, que abandone a provocação e a chantagem em prol da estabilidade econômica e social.”

       Se não deixa dúvidas sobre as graves falhas da Presidente, tampouco deixa de assinalar a responsabilidade do Congresso: “ Também dos parlamentares depende o fim desta aflição; deputados e senadores não podem se eximir de suas responsabilidades, muito menos imaginar que serão preservados caso o país sucumba.”

       E no mesmo tom, sem poupar golpes, a Folha assevera: “É imprescindível conter o aumento da dívida pública e a degradação econômica.  Cortes nos gastos terão de ser feitos com radicalidade sem precedentes, sob pena  de que se tornem realidade pesadelos ainda piores, como o fantasma da inflação descontrolada.”

       Na cacofonia presente, em que de um lado a Administração Dilma Rousseff enterra a cabeça na areia, como se a crise não houvera, e o Congresso, de outro, como se a capacidade do Tesouro Nacional fosse inexaurível, na sua concessão de benefícios, o editorial da Folha  não recua diante da desastrosa realidade: “ A contenção das despesas deve se concentrar em benefícios perdulários da Previdência, cujas regras estão em descompasso não só com a conjuntura mas também com a evolução demográfica nacional. Deve mirar ainda subsídios a setores específicos da economia e desembolsos para parte dos programas sociais.”

        Sem temor nem exceções, a Folha investe igualmente contra as vacas sagradas: “As circunstâncias dramáticas também demandam uma desobrigação parcial e temporária de gastos compulsórios com saúde e educação, que se acompanharia de criteriosa revisão desses dispêndios no futuro.”

        Recomenda em seguida  medidas de “fácil legibilidade, como a simbólica redução de ministérios e dos cargos comissionados, devem-se providenciar mecanismos legais que resultem em efetivo controle das despesas – incluindo salários para o funcionalismo – condicionando sua expansão ao crescimento do PIB.”

       Ao cabo, declara que não há “como fugir de aumento de impostos, recorrendo-se a novas alíquotas sobre a renda dos mais privilegiados e à ampliação emergencial de taxas sobre combustíveis”, se verifica, com pesar, que as exigências – na hora da onça beber água – se tornam mais cuidadosas. Nada se fala sobre a evasão legal de impostos, como aquela nas sociedades anônimas, em que os diretores não pagam tributos, porque os dividendos estão isentos de taxação. Não será com esse tipo de mágica interesseira que se levará a questão. E tampouco se lê uma referência sequer, tíbia que seja, ao escandaloso aumento geral da magistratura, que a sociedade civil acaba de presenciar.

           Presumir que a Presidenta esteja à altura desse receituário, ela que “abusou do direito de errar” semelha exigência mais retórica do que realista. Ao falar das ‘resistências da sociedade’ a tais iniciativas, o Editorial – e isto vá a seu crédito – assinala: “A Presidente Dilma Rousseff tampouco (tem escolha): não lhe restará, caso se dobre sob o peso da crise, senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e, eventualmente, o cargo que ocupa.”

 

( Fonte -    Folha de S. Paulo )

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