Quanto à incapacidade de Dilma Rousseff, a melhor
autoridade é ela própria.
Sequer se sente em condições de
defender-se perante a Comissão do Impeachment.
Preferiu abdicar dessa oportunidade de enfrentar o seu grande desafio, na arena
do Congresso Nacional, e fazer a própria defesa.
Parece digno e é digno de autoridade
contestada vir a público, perante a gente do Congresso, grande e pequena, enfrentá-la, apresentar a sua versão quanto às
realizações de seu governo.
Nada mais republicano que a faculdade
de servir-se da tribuna, na vigésima-quinta hora da própria Administração, e
arrostar, do penedo da presidência, a fúria dos elementos, deparando,
sobranceira, as alianças diante dela. Nada mais digno de o que aceder baixar do
Palácio, e na planície da Casa do Povo soberano debater seja com a coalizão dos
seus adversários, daqueles que ao ver mal controla as próprias emoções, por
descobri-los agora do outro lado da cerca,
seja a dúbia companhia de uns
tantos que em público lhe dizem palavras de lisonja, e de que sabe, pelos
poderosos ouvidos dos serviços, que outros seriam os seus desígnios, nesta hora extrema em que lances serão
jogados para decidir unicamente da sua sorte, enfim na autêntica solenidade
de jornada rara, que por palavra, fato,
a dissonante sinfonia de comícios, imprensa e opinião pública, e apenas um seu
predecessor afrontou.
Certos compromissos não se
delegam. A petição que desencadeou a tempestade foi assinada por grandes vultos
da República, como Hélio Bicudo e o professor Miguel Reale, e o influxo de ardor
e juventude da Dra. Janaína Paschoal.
É vão tentar desmerecê-la por
atoarda e falsas imputações.
Não querer pelejar pela
própria sorte, mas delegar a ministros a incumbência, nessa hora grande e
extrema, em que os vultos se determinam e a sorte pode ser arrancada por
presença e testemunho, não é admissão qualquer, mas a confissão gravada no
mármore das certezas comuns e indiscutíveis, de que se a maior autoridade
política ex-officio confessa pelo
silêncio da pública ausência de não ter condições de comparecer ao rostro da
defesa da própria autoridade, e que se recolhe, calada e tímida, diante do
desafio extremo que lhe é colocado, delegando a outrem a tarefa de defender e
justificar a motivação da sobrevida de seu Governo. Se sequer admite para si mesma a capacidade
de convencer a Comissão do Impeachment,
se confessa a respectiva incapacidade de empenhar-se pelo próprio Governo, soou
a hora da verdade - que os comícios em Palácio perante públicos já engajados,
as alocuções diante de platéias selecionadas, e todo tipo de encenação do
gênero não tem condição de desmentir.
Não pode agora o seu
roufenho padrinho vir a público tentar defendê-la. Dele partiu o ato mais grave
e impatriótico. Pensou mais nele e na própria ambição - que a Sorte cuidaria de
desmanchar - do que na secretária da Casa Civil, que em um insano momento de húbris se julgara capaz de projetar no
palco da República.
Depois denominaria os seus
designados de 'postes', como se foram
hirtas figuras, mudas e imóveis, a que gestos ensinam para dissimular a
grandeza que não possuem.
Por isso, ao delegar ao
seu Amigo e fiel servidor, na Justiça e, agora, na Advocacia Geral da União,
José Eduardo Cardozo, hábil causídico, que a defenda perante a tribuna do
Congresso, da Comissão do Impeachment,
e a todos explique e convença como foi grande o seu Governo, ela firma a
própria indubitável confissão de ser politicamente incapaz.
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