À medida em que
o prazo para o veredito da Comissão da Câmara dos Deputados se aproxima de seu
término, muitos de seus membros postergam a respectiva decisão até a
vigésima-quinta hora, dando a clara aparência de que não aguardam por eventual esclarecimento
do mérito da questão em tela, mas sim suas perspectivas de prevalência de uma
postura ou outra, crescendo,assim, a tensão na sociedade.
O relator da Comissão do Impeachment, Deputado Jovair Arantes, na Câmara de Deputados, recomendou a
continuidade do processo contra a Presidente. Disse ver indícios de que Dilma Rousseff cometeu crime de
responsabilidade nas chamadas 'pedaladas
fiscais'. Para evitar contestação, o relator ateve-se aos atos de 2015 da
Presidente.
Pela sua feitura e concatenação, o
relatório - cuja leitura pela própria extensão exigiu bastante do Deputado
Jovair Arantes, do PTB - foi bem recebido pela Oposição - que cantou o Hino
Nacional - e... criticado pela bancada governista.
Dentro da linha maximalista de defesa do
novel Advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo, o Palácio do Planalto tentou minimizar a importância da
recomendação pelo prosseguimento do processo, que apodou de 'golpista'.
Colocado o fato da provável
aprovação do relatório da Comissão de Impeachment, que recomendará a
continuidade do processo, a batalha passará
para o plenário da Câmara. Nesse novo teatro das hostilidades, o Governo há de
buscar pelas maneiras que acredita possíveis - quase todas ilegais ou imorais
(no entender do colunista político de O Globo) - montar minoria no plenário da
Câmara que seja bastante para que a oposição não atinja o total imprescindível
para a continuação do processo.
Para o colunista Merval Pereira,
isto "seria a própria vitória de Pirro. (...) Nesse caso, produziria a
desmoralização final do PT e um governo mais incompetente ainda, formado pelo
baixo clero do Congresso em conflito com o PT e os movimentos de
esquerda".
Se esta via malograr, pelas manobras do PT, às
custas da credibilidade da respectiva tese, se passaria para o segundo cenário,
com o julgamento do processo que está no Tribunal Superior Eleitoral. Dadas as
denúncias que surgem da Operação
Lava-Jato, inclusive com recentíssima delação de empreiteira, que agrava
deveras a posição da presidente Dilma e do Vice-Presidente Michel Temer, o impeachment se reforça também no TSE, através
da via da anulação judicial do pleito.
Empurrado pelas ruas, o PSDB
já se concentraria na apresentação do candidato, senador Aécio Neves (desde que esclareça as dúvidas existentes
enquanto a irregularidades que lhe teriam sido assacadas) e pela esquerda,
surge Marina Silva, da Rede.
Vivemos, pois, a experiência
dos tempos interessantes de
que nos falam os chineses.
A crise é um paroxismo
político, a que as diferentes culturas empregam imagens que lhe são próprias.
As nossas são mais da área rural - situação onde vaca não conhece bezerro, e hora
de a onça beber água.
São situações onde o tempo
corre depressa, e todo o cuidado será pouco para os eventuais protagonistas,
que podem sair de cena de forma súbita, mas muita vez não de todo inesperada.
Vejamos, por exemplo, que
personagens importantes, mas não determinantes - no caso, este papel cabe
somente aos deputados - como o
Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, acusou a Presidente Dilma de
tentar obstruir a Justiça ao nomear o ex-Presidente Lula da Silva para a Casa
Civil, o que dá foro privilegiado ao petista, retirando as investigações contra ele das mãos do Juiz Sérgio Moro.
Nesse sentido, o PG
Janot mudou o parecer anterior e agora
recomenda que o Supremo anule a posse
de Lula, considerada um ato para
'tumultuar' a Lava-Jato e 'afetar a
competência do juízo' de primeira instância.
A validade, no entanto,
dessa nomeação, que foi suspensa por liminar do Ministro Gilmar Mendes (contra
parecer do Ministro Teori Zavascki - que por tal motivo foi objeto de faixa em
linguagem de calão na Esplanada) - deverá ser julgada pelo plenário do STF no
próximo dia 20 de abril.
Nesse contexto, Lula
ainda sem a blindagem, prestou ontem mais um depoimento, desta feita à
força-tarefa da Lava-Jato.
Se os senhores
Deputados, constrangidos pelo relógio e pelo compasso inexorável da crise, não
arredarem pé de Brasília, será dada seqüência
plena ao drama do impeachment.
Por outro lado, de
acordo com informação da Folha, o pedido de abertura do processo (o qual
tramita na referida comissão especial da Câmara presidida pelo Deputado Jovair
Arantes, relator) deverá ser apreciado e votado em plenário no domingo, 17.
No cômputo do Datafolha,
os votos para o impedimento de Dilma Rousseff são 308, ou 34 a menos do
necessário para o pedido ser encaminhado para o Senado (66,7%). Os contrários
são 108, ou 21%.
Para permanecer no
cargo, Dilma precisa que o número de votos a favor de sua deposição seja
inferior a 342. Do total dos deputados, 18% não se posicionou ainda.
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo, Arnold Toynbee )
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