Bernie Sanders discursou ontem no
coração de Greenwich Village, na Washington Square Park, em uma noite sem
nuvens.
Um bom demagogo precisa de duas coisas:
prometer mundos e fundos, e ter um adversário (no caso, adversária) que tenha
maior projeção do que ele, e que já se tenha realizado em administrações
prestigiosas, como no State Department.
Sanders tem a língua fácil, e se lança,
diante de seu público - formado em geral de jovens universitários e dos
chamados independentes - em rasgadas promessas para investir contra os castelos
de Wall Street e as cúpidas
universidades, a par dos ataques - que vão crescendo à medida que as primárias
chegam ao fim - cada vez mais violentos contra Hillary Clinton, a que junta aos bancos e a corporate America.
Gente do ramo e com experiência em
economia política - como Paul Krugman, o Prêmio Nobel
que escreve no New York Times - lhe
fez um perfil nada favorável, porque no emaranhado das idéias do Senador por
Vermont soube localizar-lhe a demagogia e as ocas promessas. Se há dúvidas, basta examinar o record de realizações de Mr Sanders. Ele
promete muito, demasiado mesmo, mas para cair nessa esparrela a pessoa carece
de ser pouco experiente, e ao ouvi-lo a embala a esperança de que, como
Presidente, as universidades serão quase gratuitas, e haverá recursos mil para
os encalacrados.
É um expediente assaz batido. O
problema com Mr Sanders é que aquilo que lhe recheia os discursos com promessas
mil, não encontra nenhum antecedente ou boa ação equivalente no curriculum vitae do Senador Sanders,
este sempre acompanhado da facúndia oratória, mas também de nenhuma realização
no plano das propostas concretas.
Sendo bom de gogó, Mr Sanders é adversário
temível, máxime para a gente jovem ou o que dá no mesmo, inexperiente em
política, e que tende a desconfiar dos que já fizeram muito, como Hillary
Clinton - e até antes de entrar formalmente na política - como no caso da
elaboração de plano de reforma da saúde que, para muitos, é bastante superior ao
Obamacare[1],
que é o termo dado pelos republicanos à reforma sanitária do Governo de Barack
Obama, que alargou bastante a cobertura para o cidadão estadunidense.
O New York Times - que não é exatamente um amigo dos Clinton -
considera que a primária marcada para o dia dezenove de abril promete ser fierce (ferozmente combatida).
Não sei como esta primária vá acabar,
mas os que serão admitidos a votar são
membros registrados do Partido Democrata, o que já de saída excluí a multidão
de independentes que compareceu à Washington
Square, além de muitos do entusiasmado jovem público com as promessas pie on the sky [2] do Senador Sanders, eis que ao contrário de
outros estados, New York só admite membros devidamente inscritos, não aceitando
sufrágios de pessoas que paguem a inscrição de membro do
partido junto com o voto na primária, eis que o processo de admissão de novos
membros no estado de New York não é assim tão simples, quanto em outras
unidades da Federação Americana...
( Fontes: The New York Times, Paul
Krugman, Miguel de Cervantes )
[1] Obamacare é a designação
pejorativa dada pelo GOP à Lei da Reforma da Saúde, que Barack Obama logrou
fazer aprovar - no seu primeiro biênio, quando os democratas tinham maioria no
Senado e na Câmara de Representantes - e depois obteve a respectiva confirmação
pela Suprema Corte..
[2] Diz-se de promessas
irrealistas.
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