quinta-feira, 14 de abril de 2016

O Demagogo Sanders


                                 

       Bernie Sanders discursou ontem no coração de Greenwich Village, na Washington Square Park, em uma noite sem nuvens.

       Um bom demagogo precisa de duas coisas: prometer mundos e fundos, e ter um adversário (no caso, adversária) que tenha maior projeção do que ele, e que já se tenha realizado em administrações prestigiosas, como no State Department.

       Sanders tem a língua fácil, e se lança, diante de seu público - formado em geral de jovens universitários e dos chamados independentes - em rasgadas promessas para investir contra os castelos de Wall Street e as cúpidas universidades, a par dos ataques - que vão crescendo à medida que as primárias chegam ao fim - cada vez mais violentos contra Hillary Clinton, a que junta aos bancos e a corporate America.

         Gente do ramo e com experiência em economia política - como Paul Krugman, o Prêmio Nobel que escreve no New York Times - lhe fez um perfil nada favorável, porque no emaranhado das idéias do Senador por Vermont soube localizar-lhe a demagogia e as ocas promessas. Se  há dúvidas, basta examinar o record de realizações de Mr Sanders. Ele promete muito, demasiado mesmo, mas para cair nessa esparrela a pessoa carece de ser pouco experiente, e ao ouvi-lo a embala a esperança de que, como Presidente, as universidades serão quase gratuitas, e haverá recursos mil para os encalacrados.

          É um expediente assaz batido. O problema com Mr Sanders é que aquilo que lhe recheia os discursos com promessas mil, não encontra nenhum antecedente ou boa ação equivalente no curriculum vitae do Senador Sanders, este sempre acompanhado da facúndia oratória, mas também de nenhuma realização no plano das propostas concretas.

          Sendo bom de gogó, Mr Sanders é adversário temível, máxime para a gente jovem ou o que dá no mesmo, inexperiente em política, e que tende a desconfiar dos que já fizeram muito, como Hillary Clinton - e até antes de entrar formalmente na política - como no caso da elaboração de plano de reforma da saúde que, para muitos, é bastante superior ao Obamacare[1], que é o termo dado pelos republicanos à reforma sanitária do Governo de Barack Obama, que alargou bastante a cobertura para o cidadão estadunidense.

            O New York Times - que não é exatamente um amigo dos Clinton - considera que a primária marcada para o dia dezenove de abril promete ser fierce (ferozmente combatida).

             Não sei como esta primária vá acabar, mas os que serão admitidos    a votar são membros registrados do Partido Democrata, o que já de saída excluí a multidão de independentes que compareceu à Washington Square, além de muitos do entusiasmado jovem público com as promessas pie on the sky [2]  do Senador Sanders, eis que ao contrário de outros estados, New York só admite membros devidamente inscritos, não aceitando sufrágios de   pessoas que paguem a inscrição de membro do partido junto com o voto na primária, eis que o processo de admissão de novos membros no estado de New York não é assim tão simples, quanto em outras unidades da Federação Americana...

 

( Fontes: The New York Times, Paul Krugman, Miguel de Cervantes )



[1] Obamacare é a designação pejorativa dada pelo GOP à Lei da Reforma da Saúde, que Barack Obama logrou fazer aprovar - no seu primeiro biênio, quando os democratas tinham maioria no Senado e na Câmara de Representantes - e depois obteve a respectiva confirmação pela Suprema Corte..
[2] Diz-se de promessas irrealistas.

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