A chacina de 43 estudantes mexicanos na cidade de
Iguala, no estado de Guerrero - em que pobreza e violência se dão as mãos - vai fazer dois anos a 26 de setembro
próximo.
Até hoje, apesar da participação da
polícia - ou seria melhor dizer repressão? - há um clima de omertà, a resposta siciliana, de
silêncio, a muitos crimes.
A fraqueza do Estado no México que o
passar dos anos tem reforçado - se me permitem a contradição vocabular - é que,
em verdade, reflete adaptações a diferentes níveis de poder.
Os silêncios - quando sistêmicos - são
por vezes mais atroadores do que as eventuais acusações.
O México não é a Sicília, ou talvez
ainda falte muito para que essa legendária Sicilia possa vir a ser exemplo para
esse país latino-americano.
Muitos detalhes desse crime hediondo
foram levantados por dois relatórios de comissão internacional sobre o
massacre, a despeito de falta de cooperação do Governo mexicano em quanto a
disponibilizar informações sobre a matança.
Não obstante, essa escuridão
intencional, deve-se louvar o empenho dos estrangeiros quanto ao relato do ambiente
de violência em que se gestou o massacre. Outros países compreenderão esse silêncio
oficial: Guatemala, El Salvador, Brasil, Argentina.
É uma lista decerto incompleta. De
longe ou de perto, os desaparecidos nos olham através de constrangido mutismo,
que tem várias gradações.
Mas, quaisquer que sejam as
ignomínias sofridas, a sua condição de insepultos por não merecerem sequer inumação
digna, como se possível fora uma segunda injusta condenação, que é a de
torná-los desaparecidos, para sempre
afastados de seus familiares, será talvez o que fará a coragem retomar a sua
jornada, para que possa ser afinal vencida a aliança do mal.
Não há decerto maior crueldade do
que a do silêncio, ainda mais forte do que a brutalidade que levou os 43.
Hoje eles são talvez apenas um
símbolo, mas a terra que os oculta se abrirá um dia, e não para o juízo final.
Pena que os tenha levado a cega violência. E lá construirão um grande memorial.
Em mármore, mas frio, porque passaram os anos, e os poucos que ficaram, sombras que já
são, pouco falam e menos ainda dizem.
( Fonte: The New York Times )
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