sexta-feira, 1 de abril de 2016

O Insepulto Celso Daniel


                             

        O cadáver de Celso Augusto Daniel (1951- 18 de janeiro de 2002)  ex-prefeito de Santo André,  sobrepaira os baixios do petismo, como o ur-escândalo[1] do Partido dos Trabalhadores.

       Dentro desse cenário à parte, que reflete a progressão de partido então ético, zeloso e jacobino, à figura de Celso Daniel, respeitada e com brilho próprio no PT, está associada como ex-esposa (1983-1993) Miriam Belchior, que faria carreira em postos ministeriais.

        A tragédia do prefeito de Santo André teria o seu soturno começo na longa travessia da noite de dezoito de janeiro. Ali, na companhia de Sérgio Gomes da Silva, cognominado 'o Sombra', sua existência terrena seria cortada e perfurada em bárbaro assassinato.

        Tentando apagar essa estrela do PT, surge um aglomerado até hoje mal definido, que tem sido objeto de muitos juízos.

        Dado o simbolismo da trajetória de Celso Daniel, desperta estranheza que nos porões do Palácio já repontassem movimentos que se propunham que o vissem como ameaça. Esse espanto, contudo, cresce ainda mais ao deparar empenho e denodo que foram envidados por gente dos mais diversos círculos, todos unidos no afã não de desvelar o que fora feito contra tão promissor profeta da ideologia petista, mas sim de enterrar-lhe a consentida memória de vida ainda mais fundo do que os negros e abomináveis propósitos da súcia assassina.

         Tudo o que é injusto deve ser remido. Muita vez a lousa da sepultura se propõe não a engrandecer o personagem, mas a sufocar-lhe os reclamos e a justa ânsia de que a sua história não venha a ser confiada aos próprios inimigos.

         O fado dos precursores pode vir carregado de amarga ironia. Nos grandes movimentos e até nos menores - como é o caso - eles são por vezes tratados com certo desconforto, quando a respectiva vivência acentua o contraste entre o magro, por vezes lúrido princípio, e a bonança, não raro excessiva, dos dias de fama e fastígio dos paços republicanos.

         Enquanto o desgoverno de Dilma, que tão para baixo empurrou esse país da esperança, atravessa a hora que tardara tanto, mas que sempre acaba por chegar, reaparecem como espíritos da noite esses personagens que moram nos porões e nos arrabaldes das grandes cidades. Por demasiado tempo se pensara possível mantê-los nos fundões e nos calabouços da memória.

           A húbris do poder pensa que tudo é possível. Seja na criança que grita que o rei está nu, seja no fâmulo que só diz cousas desagradáveis na hora extrema em que os ratos abandonam os navios, seja na alegria do justo que percebe a vinda iminente da hora derradeira em que as ordens da turma do andar de cima são desatendidas, o espectro de Celso Daniel e o que representa pode liberar-se não só das teias e dos véus, senão das mortalhas com que se intentou, em lances até de grande sofisticação, empurrar-lhe fundo a memória e sobretudo a mensagem.

             Podem deblaterar contra a Lava-Jato, podem até chamá-la disso e daquilo. Mas ela corresponde a um percurso didático, de uma revisita às fontes.

              Desvendar mistérios, falsos ou autênticos, é uma missão que faz bem à nacionalidade. Muita vez, com cara, confiança e coragem  as pontes são cruzadas, as fortalezas rendidas, e os segredos, sejam de Polichinelo, ou de Estado, enfim arrancados de seus socavões.

              Nesse sentido, tanto o despacho do Juiz Sérgio Moro -"repasse a empresário" (Ronan Maria Pinto, proprietário do jornal do Grande ABC) "pode ter relação com morte de Celso Daniel" -, quanto as perspectivas abertas pela Fase Carbono da Lava-Jato tem a possibilidade de desvendar os mistérios desse bárbaro assassinato.

              Depois de tanto dinheiro gasto pela mala vita para sufocar esse mistério, e até com participação de pessoas muito chegadas a Lula da Silva, como o empresário rural Bumlai, talvez Sílvio Pereira, o Silvinho do PT tenha condições de trazer mais luzes para esse giallo[2] que envolve o trágico destino do Prefeito petista de Santo André, o finado Celso Daniel.

              

 (Fontes: jornais digitais de O Globo e Folha de S. Paulo; Luis de Camões)      



[1] O prefixo Ur em alemão aponta para algo que é origem de uma série.
[2] Romance ou história policial (Italiano)

Nenhum comentário: