O cadáver de Celso Augusto Daniel (1951-
18 de janeiro de 2002) ex-prefeito de Santo
André, sobrepaira os baixios do petismo,
como o ur-escândalo[1] do
Partido dos Trabalhadores.
Dentro desse cenário à parte, que
reflete a progressão de partido então ético, zeloso e jacobino, à figura de
Celso Daniel, respeitada e com brilho próprio no PT, está associada como
ex-esposa (1983-1993) Miriam Belchior, que faria carreira em postos ministeriais.
A tragédia do prefeito de Santo André
teria o seu soturno começo na longa travessia da noite de dezoito de janeiro. Ali,
na companhia de Sérgio Gomes da Silva, cognominado 'o Sombra', sua existência
terrena seria cortada e perfurada em bárbaro assassinato.
Tentando apagar essa estrela do PT,
surge um aglomerado até hoje mal definido, que tem sido objeto de muitos
juízos.
Dado o simbolismo da trajetória de
Celso Daniel, desperta estranheza que nos porões do Palácio já repontassem
movimentos que se propunham que o vissem como ameaça. Esse espanto, contudo,
cresce ainda mais ao deparar empenho e denodo que foram envidados por gente dos
mais diversos círculos, todos unidos no afã não de desvelar o que fora feito
contra tão promissor profeta da ideologia petista, mas sim de enterrar-lhe a
consentida memória de vida ainda mais fundo do que os negros e abomináveis
propósitos da súcia assassina.
Tudo o que é injusto deve ser remido.
Muita vez a lousa da sepultura se propõe não a engrandecer o personagem, mas a
sufocar-lhe os reclamos e a justa ânsia de que a sua história não venha a ser
confiada aos próprios inimigos.
O fado dos precursores pode vir
carregado de amarga ironia. Nos grandes movimentos e até nos menores - como é o
caso - eles são por vezes tratados com certo desconforto, quando a respectiva
vivência acentua o contraste entre o magro, por vezes lúrido princípio, e a
bonança, não raro excessiva, dos dias de fama e fastígio dos paços
republicanos.
Enquanto o desgoverno de Dilma, que
tão para baixo empurrou esse país da esperança, atravessa a hora que tardara
tanto, mas que sempre acaba por chegar, reaparecem como espíritos da noite
esses personagens que moram nos porões e nos arrabaldes das grandes cidades.
Por demasiado tempo se pensara possível mantê-los nos fundões e nos calabouços
da memória.
A húbris do poder pensa que tudo é possível. Seja na criança que
grita que o rei está nu, seja no fâmulo que só diz cousas desagradáveis na hora
extrema em que os ratos abandonam os navios, seja na alegria do justo que
percebe a vinda iminente da hora derradeira em que as ordens da turma do andar
de cima são desatendidas, o espectro de Celso Daniel e o que representa pode
liberar-se não só das teias e dos véus, senão das mortalhas com que se
intentou, em lances até de grande sofisticação, empurrar-lhe fundo a memória e
sobretudo a mensagem.
Podem deblaterar contra a
Lava-Jato, podem até chamá-la disso e daquilo. Mas ela corresponde a um percurso
didático, de uma revisita às fontes.
Desvendar mistérios, falsos ou
autênticos, é uma missão que faz bem à nacionalidade. Muita vez, com cara,
confiança e coragem as pontes são
cruzadas, as fortalezas rendidas, e os segredos, sejam de Polichinelo, ou de
Estado, enfim arrancados de seus socavões.
Nesse sentido, tanto o despacho
do Juiz
Sérgio Moro -"repasse a empresário" (Ronan Maria Pinto,
proprietário do jornal do Grande ABC) "pode ter relação com morte de Celso
Daniel" -, quanto as perspectivas abertas pela Fase Carbono da Lava-Jato
tem a possibilidade de desvendar os mistérios desse bárbaro assassinato.
Depois de tanto dinheiro gasto
pela mala vita para sufocar esse
mistério, e até com participação de pessoas muito chegadas a Lula da Silva,
como o empresário rural Bumlai, talvez Sílvio Pereira, o Silvinho do PT tenha
condições de trazer mais luzes para esse giallo[2] que envolve o trágico
destino do Prefeito petista de Santo André, o finado Celso Daniel.
(Fontes:
jornais digitais de O Globo e Folha de S. Paulo; Luis de Camões)
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