Diante do sucesso de Bernie Sanders em Wisconsin, e
dado o antecedente da série de vitórias anteriores de seu contendor pela nomination do Partido Democrata, Hillary
Clinton se defronta em New York com o turning-point[1] de sua candidatura à presidência dos Estados
Unidos. A sua alternativa nesse importante estado na União americana, de que já
foi - e por mais de um mandato - senadora, será vencer ou vencer.
Uma nova derrota diante do Senador por
Vermont, em quem a princípio se fazia pouca fé, na medida em que, como os
demais contendores no passado, acabaria desaparecendo em uma curva do caminho.
Sem embargo, se o consideram demagogo ou
não, a verdade é que em pouco tempo soube montar um chest (caixa de financiamento)
para as disputas estaduais, como se verificou novamente em Wisconsin.
Por outro lado, esse Senador
independente no Vermont, e que na Câmara alta estadunidense tivera até hoje uma
trajetória com viés de medíocre (que grande legislação propôs? em que comitê
sobressaíu?) se está provando um osso duríssimo de roer para a calejada
Hillary.
Falando o que os jovens querem ouvir,
oferecendo facilidades da bolsa estatal que são de duplamente espantar - que os
alvos das carrots (cenouras) acreditem
no caráter viável de tais ofertas (as quais pela generosidade de pies in the sky[2] poderiam
parecer pouco verossímeis), ainda mais pelas dificuldades orçamentárias que
apresentariam.
Terá esse septuagenário o dom típico
que Burt Lancaster representara tão
bem em filme de Hollywood, o do con man[3] ? Como não se poderia rotular de demagogia as
suas propostas para jovens e menos jovens, sobretudo nos estudos, com a
promessa de financiar em condições ultra-favoráveis os seus estudos
universitários, uma das grandes causa de bancarrotas particulares nos Estados
Unidos? Pressupondo fundos inexauríveis para bancar as suas ofertas, não há
dúvida que deve ter grandes dons de persuasão, dadas as dificuldades do
orçamento do Estado.
Diante desse tipo de desafio, Hillary deverá
avaliar a possibilidade de mostrar o irrealismo da proposta, ou o seu caráter
demagógico e enganoso. Esse tipo de promessa eleitoral que oferece a
possibilidade ao eleitor de realizar um sonho, que a realidade costuma denegar,
tem de ser tratado com cuidado, pois a vontade do alvo de acreditar na
possibilidade de tal ajuda pode levá-lo a endurecer a respectiva posição. Por
isso, talvez diante dessas propostas mirabolantes a melhor maneira de mostrar o
seu caráter fantasioso e irrealista, seria o de fazê-lo através de um debate,
em que argumentação relativamente simples pode expor a falta de meios para
implementar esses esquemas.
Barbara Warren que tem uma linha
política similar àquela de Bernie Sanders, e tendo já uma força política
própria, preferiu no entanto não terçar armas com Hillary. Essa premissa
poderia servir para que esta última se aproximasse da Senadora por
Massachusetts...
Quanto aos 'amigos' de Hillary na
imprensa, ao analisar a sua candidatura tendem a evidenciar a sua 'queda' por
Bernie, o que se explica pela linha ultra-liberal do Senador por Vermont. Há também junto a alguns jornalistas uma
certa postura de frieza com relação ao casal Clinton, malgrado a popularidade
de Bill Clinton e os bons índices de Hillary, posto que haja certa reserva e
menos simpatia para com a atual candidata a presidente.
Darei nesse contexto exemplos que
configuram, a meu ver, esse tratamento diferenciado. Assim, v.g., Ryan Lizza
que escreve para o New Yorker, o mostra no artigo sobre a cena política
"The Great Divide". Logo depois da derrota para Hillary na
Super-Terça feira, Lizza menciona a mudança de tom dos auxiliares de Bernie.
Assim, Tad Devine, um assessor sênior de Sanders, disse para os jornalistas: "Confiança
e honestidade. Certo ou errado, a Secretária (Hillary) quando entrevistamos os
independentes[4], você verifica que ela tem
alguns problemas reais com os independentes. Eles não tem confiança em que
aquilo que eles ouvem é o que vai acontecer. E para superar essa barreira numa eleição presidencial em
que você estará sendo martelado por Donald Trump dia após dia - eu não estou
seguro que isso pode ser conseguido."
No final de seu artigo, escreve
Lizza : 'Sanders está longe de admitir quão estreito é o seu caminho para a
vitória, mas está pronto a reivindicar crédito por configurar o debate
democrata: "quando milhões de pessoas respondem por milhões a sua
mensagem, esta mensagem vira a questão principal (mainstream). Isto muda a
realidade política. Políticos espertos como Hillary Clinton e qualquer outra
pessoa tem de ir para onde a ação se desenvolve, e a ação se situa nas questões
que eu estou levantando."
Em outro artigo, este publicado
no New York Times, sob o título
"Passos errados iniciais vistos como obstáculos para a campanha de Bernie
Sanders", e assinado por Patrick Healy e Yamiche Alcindor, se refere
a profunda frustração de Sanders com a
derrota nos caucus de Nevada, em
fevereiro.
Como explicam os articulistas,
a estratégia de Sanders para capturar a nomination do Partido Democrata se
baseava em vencer nos três estados que votam primeiro, e ele não tinha correspondido
a esse objetivo, ganhando apenas em New Hampshire - e provocando consternação em sua esposa
Jane, que se perguntou se ele não
deveria ter feito mais campanha em 2015.
'Sem aquela varrida, os seus assistentes
pensaram então, Mr Sanders tinha pouca esperança de superar os seus grandes
problemas com eleitores negros nas primárias do Sul. E ele não tinha nenhuma
prova convincente para desafiar a capacidade de eleger-se de Hillary Clinton.'
Há tópicos no artigo decerto importantes
quanto a questões relacionadas com Hillary Clinton. Tomemos por exemplo a
questão do uso de email particular como Secretário de Estado - que é agora
objeto de investigação pelo FBI. A matéria do Times vai adiante: "Criticar
as suas práticas de email poderia ter ido ao encontro das preocupações de
Democratas quanto à honestidade e confiabilidade, e alguns aliados de Sanders
pensaram que poderia ser um tópico (issue) de forte ressonância. Mas, como
assinala o artigo, Mr Sanders na prática retirou o tema da mesa, no debate de outubro com
Hillary, quando disse: "O Povo Americano não aguenta mais ouvir a
respeitos dos seus malditos emails". Os assessores de Sanders vibraram com
esse dito, que viram como um sinal da integridade de seu candidato, mas outros
democratas disseram que ele não tinha entendido a questão.
Bob Kerrey é apresentado no
artigo do Times como quem apoia a Sra. Clinton na presente disputa, mas dá uma
série de declaraçõe que estariam mais apropriadas na boca de um representante
de Sanders: "Mr Sanders poderia estar ganhando agora se ele tivesse
pressionado sem cessar a Sra. Clinton desde o outono passado sobre os discursos
a porta-fechada para bancos de Wall-Street, etc. Mr Sanders só levantou o
assunto a partir de janeiro último.
Sobre a estória dos e-mails comparece uma vez mais no artigo
o estranho partidário de Hillary, que a ataca todo o tempo: "A matéria dos
e-mails não é a respeito de e-mails", diz Mr Kerrey."Trata-se de
querer evitar que os cidadãos tenham acesso (a essa questão) valendo da Lei da
Liberdade de Informação, para saber o que o governo está fazendo, e então não
contar a verdade a respeito do porquê ela agiu dessa forma."
Esse estranhíssimo artigo,
publicado pelo New York Times, tem várias contradições. Mas talvez a maior
delas seja que a Hillary Rodham Clinton, endossada pelo Times como candidata à Presidência, é a mesma pessoa objeto da
matéria que acaba de ser citada...
( Fontes: The New York Times,
The New Yorker )
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