Houve tempo em que o Brasil ultrapassara o Reino Unido,
mas então o nosso PIB estava inflado pelo boom
das commodities - e é bom lembrar que
até hoje - e desde o surgimento do Brasil - estamos atrelados aos produtos de
base. São aqueles que logo despencam nas recorrentes crises, assim como os
produtos que têm menor coeficiente de aporte científico no seu preço total.
Não sei se será por esse motivo que a
vivaz imprensa britânica não é muito caridosa com Pindorama, reservando para nós
as observações mais mordazes, e o pior disso será que muita vez eles têm razão.
Como ganhamos por primeira vez a
oportunidade de sediar as Olimpíadas - conquistadas com a habitual simpatia e
os hábeis filmetes - o que nós está acontecendo até que relembra aquela famosa
maldição: não desejes muito que isso venha a acontecer (porque como então vais
sair da enrascada?).
A verdade é que somos muito bons,
demasiado bons em promessas, mas a tal não costuma corresponder a própria
capacidade em mantê-las, quando chega a hora.
Já houve o vexame do compromisso
quanto ao saneamento da Baía de Guanabara. Chegada a hora, as autoridades
responsáveis sequer foram contritas nas suas explicações. Aliás, como sequer se
tentou, preferiu-se a cara de pau, dizendo que nada foi feito e é isso aí!
Se há palavras para definir essa
atitude, melhor não dizê-las. Tampouco acham que a Lagoa Rodrigo de Freitas,
que será cenário de outras disputas náuticas, deva merecer maiores explicações a
falta de qualquer providência. A falta de cumprimento com a palavra empenhada é
outra postura que deixa marcas, e as que pode produzir ainda maiores, se houver
algum problema relacionado com essa desídia. O mais grave aqui é que a Lagoa
poderia ser saneada, pois é relativamente pequena, embora, digam, esteja
coalhada de esgotos abusivos.
O que ocorreu ontem em São Conrado
tem muito a ver com o ritmo das obras para as Olimpíadas. Dois ciclistas - e
possivelmente mais um - caíram vítimas de uma construção feita às carreiras, e
que recém inaugurada despenca diante da primeira ressaca de um mar-oceano que
não costuma ser muito calminho junto às encostas de São Conrado.
Não pára aí o tétrico simbolismo do
acontecimento. O Prefeito Eduardo Paes
estava a caminho da Grécia e de Olímpia - aonde se realiza a cerimônia da tocha
olímpica - e que depois de algumas escalas virá para o Brasil, em que está
previsto um programa condizente com a extensão continental de nossa terra.
Muitos já viram - graças à televisão - a
inquietante facilidade com que uma grande onda atacou por baixo a ciclovia e
levou a frágil construção, com os pobres ciclistas, para as fauces dos negros
rochedos.
As autoridades apareceram logo, mas
o que poderiam dizer perante a facilidade com que a vaga levou consigo um
trecho da ciclovia? Uma reporter repetia a pergunta: isso não era previsível? Era por certo indagação irrespondível, e
se terá de compreender que a autoridade não poderia responder.
A pergunta que teria de ser feita,
não o foi. O mar estava enraivecido. Sem querer, ele nos dava uma oportunidade.
Ao invés de abrir as cancelas para os ciclistas, que tal agüentar um pouquinho
e verificar como a pista se comporta nessa primeira e inesperada prova? Um pouco de bom senso e de prudência, que nunca
fizeram mal a ninguém, os deixaria vivos.
Além de mostrar, para bom
entendedor, que a obra carecia de ser refeita.
( Fontes: O
Globo, Rede Globo )
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