Será que os big-shots[1] do Partido Republicano podem afinal
dormir um pouco mais tranquilos?
Depois da derrota de Donald Trump para
Ted Cruz, o Senador pelo Texas, tropeço este que veio seguido por outros mais,
a ameaça que o front-runner nas
primárias do GOP aparentemente colocava para a hierarquia republicana[2]
não mais se configura ?
Nunca um novato assustara tanto, não só
a alta-direção do partido de Lincoln, quanto os seus próprios concorrentes.
De parte daqueles, já foram referidos
os comandos para que, de algum modo, se desse um jeito neste emboaba[3],
que estava afastando grandes nomes do Grand
Old Party, e criando tensão para a Convenção
de Cleveland, ao suplantar
próceres confiáveis da lista dos presidenciáveis, enquanto avançava para
arrebatar a nomination.
Não há negar que Donald Trump, de
início designado como o candidato do verão - um fenômeno típico do período
estival, em que surgem pretendentes de toda parte que se caracterizam pelo
caráter temporão - constituíu uma surpresa, ao firmar-se na dianteira da
corrida pela designação, enquanto outros, bafejados por famílias presidenciais,
como Jeb Bush, não decolavam.
A publicidade negativa é outra
característica de um processo de grande truculência. Pois, Donald Trump, à
medida que a sua liderança se consolidava, se viu como o principal destinatário
dessa homenagem às avessas.
Assim, dos setenta milhões de
dólares gastos nesse tipo de anti-propaganda, cerca de noventa por cento se
destinou a ataques contra o líder Trump.
A derrota em primária para Ted Cruz
aconteceu no estado de Wisconsin. Desde então, se acirraram os problemas de
Trump, ao perder a invencibilidade.
Além das gafes e dos rompantes - o
que são uma característica do líder nas primárias republicanas - houve outro
fator que desestabilizou a segurança de Trump.
Como novato que era, desconhecia a letra miúda nas regras para as
primárias. Assim, somente com bastante atraso ele se conscientizou que a série
de vitórias que acumulara até ali poderiam ser de Pirro, eis que, de acordo com
as intrincadas regras do GOP, o fato
de vencer uma primária não garante que os delegados que lhe são atribuídos
estejam subordinados ao candidato.
Dessarte, os candidatos mais
experientes - e Ted Cruz é um deles - pode surpreender o front-runner através de contatos com esses delegados, e, na
prática, transferi-los para o seu campo, logo após a primeira rodada na
Convenção de Cleveland. Assim, a aparente segurança que lhe davam os delegados
amealhados na série de vitórias até aqui era ilusória. Em outras palavras, com as intrincadas regras
do GOP, o capítal em delegados acumulado
pelas vitórias nas primárias, na realidade, logo se derrete se houver
necessidade na Convenção de mais votações. Nessa hora, são as conversações e
contatos com tais delegados que garantem para quem vai o seu sufrágio.
Compreende-se, por
conseguinte, que, ignaro de regra dessa importância, e não tomando a fortiori qualquer providência para
convencer os delegados a apoiá-lo nos escrutínios seguintes na Convenção de
Cleveland, Trump não só mostrou a sua
garrafal ignorância quanto a esta regra - um autêntico Catch 22 - mas perdeu precioso tempo na preservação dos delegados
que ganhara pelo voto nas precedentes primárias.
É a primeira crise séria
a confrontar o lider Trump. A sua vantagem de 200 delegados, ganhos nas
primárias até agora, ao valerem apenas para o primeiro escrutínio, como é que
fica para o restante das rodadas? Por não ser uma questão bizantina, resta
saber se o líder atual na corrida para a nomination
pelo GOP terá condições de prevalecer na Convenção.
Não há dúvida que esse
cochilo de Trump lhe fragiliza a candidatura.
( Fonte: The New York Times )
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