Há uma teoria que a brigada republicana foi sendo
selecionada às avessas. Se excluirmos o governador de Ohio, John Kasich, tanto o front-runner Donald Trump, quanto o seu adversário Senador Ted Cruz parecem pretendentes selecionados às avessas no campo
republicano.
O que a hierarquia pensara fosse
prevalecer, seja pelo sobrenome (Jeb Bush), seja pelo trânsito político
nas altas esferas (Senador Marco Rubio), deu chabu no GOP.
Continuam na luta pela nomination seja o irreprimível Donald
Trump (que estourara com a promessa de levantar uma muralha ao sul, para
impedir a invasão dos EUA pelos mexicanos), seja o Senador Ted Cruz, a expressão da direita mais zangada. Está ainda -
para Cruz, nominalmente - o Governador John Kasich, de Ohio (com quem o rival
republicano não conseguiu entender-se).
Por outro lado, Cruz, o líder do Tea Party, chamou para a sua chapa a
ex-pré-candidata Carly Fiorina, com
quem Cruz pensa enfeitar um pouquinho a própria rebarbativa imagem.
Creio que não haverá dissenso com a assertiva
que Trump é o grande fenômeno dessa eleição. Nascido candidato do verão, para a incredulidade de muitos, Trump
contrariou a imensa expectativa de que não passaria de ilusão, seja do verão,
seja até do outono.
Diante da crescente perplexidade e,
mesmo, cólera do estamento republicano, o magnata Trump não se resignou a sair
de cena, como tantos outros no passado.
O seu núcleo de apoio se funda nos brancos,
protestantes, idosos e aposentados, mas também na luzente coalizão da direita
enraivecida, que acorreu, embalada e sem hesitações, às fórmulas simplistas
propostas por Donald Trump (aquele que desejara invalidar a eleição de Obama,
pelo fato de, supostamente, não ser americano nato).
Esse tipo de revolta da massa
popular - cansada de não ser levada a sério - tinha sido visto na França do
século passado, com o movimento de Poujade, uma verdadeira cruzada contra os
impostos. Mas no que concerne à Terra de Tio Sam, faz tempo que não se
apresenta e se consolida uma candidatura populista como a de Donald Trump.
Ela tem levado de roldão as
intenções de detê-la, de qualquer maneira, da hierarquia do GOP, assustada com a eventual perspectiva
de descalabro eleitoral, com corrosivas ramificações para outros poleiros da
tribu republicana. Como é de ciência pública, até agora nada funcionou contra o
monstro Trump. Ele parece indestrutível, e não apareceu até agora gafe que o
desmoralizasse, como através do tempo - e o candidato Romney, pai de Mitt, é um
exemplo - já se verificou nos Estados Unidos.
Trump tem seguido por uma grande
avenida em que as primárias vão ficando para trás, e o número de delegados
aumentando (há dúvidas sobre isso, eis que por arcanas regras em primárias do
GOP pode-se dar o fenômeno maroto de ganhar a disputa, mas não levar os
delegados).
De qualquer forma, nesse momento,
afora as posturas rebarbativas - como o seu desrespeito contumaz às mulheres -
e nesse sentido são iterados os seus juízos desfavoráveis acerca da provável
adversária Hillary Clinton, simplesmente porque ela é mulher...
O mais engraçado com Mr Donald
Trump é que, até hoje, essas grosseiras gafes parecem não ter efeito algum.
Será que para o público que festeja Trump estejamos ainda nos anos cinquenta?
O Senador Ted Cruz - e tenho
minhas dúvidas que a simpatia de Carly Fiorina vá polir as arestas e o firme
reacionarismo dessa criatura dos irmãos Koch - terá condições de enfrentar o
monstro Trump?
Como a chefia republicana não
desejaria outra coisa, que ver afinal abatido o populista - que de repente aparecera no último verão - a
esperança em Cleveland será a última a sair de cena, eis que, por ora, o front runner não completou o número
mágico de delegados...
( Fontes: The New York Times, O
Globo; Suddenly, last summer, de Joseph Mankiewicz )
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