A linguagem pode variar, mas se formos fundo, a
mensagem é na essência a mesma.
Na entrevista da segunda, um intelectual
relativamente jovem, e que ainda crê tenha nichos amplos no próprio partido, inclusive
quanto a oportunidades, fala muito, em linguagem cuidada, mas admite muito
pouco.
A interpretar-se bem plus ça change, plus c'est la même chose
(mais mude, mais a coisa se parece).
Para ele, o impeachment é também golpe, só que a análise é vertida de modo
escorregadio, bem ao feitio da casa impressora, quase ao modo dos clássicos em
que todos os deslizes são admitidos.
Todos os erros - ou quase todos - são
como não houvessem existido, e alguns poucos, se porventura na escoimada
linguagem admitidos, tudo se deveria a lamentáveis equívocos, que ainda por
cima foram mal compreendidos.
Por sua vez, a voz roufenha de Lula, se
pelo estilo próprio do tribuno sindical, se pelas limitações de quem não tem
tempo para os livros, pode a princípio dar diversa impressão, se nos detivermos
por um pouco mais de tempo, veremos que há muito poucas diferenças nos dois
discursos.
Lula, e a sua gente, lembra para os que
têm o prazer da leitura, os Bourbon
de França, que ao retornarem à pátria após a queda de Napoleão, diziam que nada
tinham apreendido e nada esquecido com o exílio.
O torneiro-mecânico, segundo discurso (a
que pediu a Luiz Dulce lesse, por estar
rouco) em que chamou de "corruptos notórios" e "uma verdadeira
quadrilha" os apoiadores do impeachment
no Congresso. Prometeu também "muita luta" no Brasil como resposta à
abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Por motivos que não aprofunda, Lula tem
presente as limitações do momento, em que os movimentos de esquerda - alicerce
da defesa da Presidenta - enfrentam uma fadiga material e humana.
A CUT convidou Dilma e Lula para o ato de 1º
de Maio, no vale do Anhangabaú. Note-se que, além das dificuldades, Lula tem
reconhecido como consumado o impeachment
da Presidente.
A sua antiversão da crise do Impeachment - que não se pronuncia em momento algum sobre
a motivação da manifestação multitudinária do treze de março último por todos
esses Brasis - é caricatura grosseira da
realidade, sob vistas petistas: "Houve um pelotão de fuzilamento comandado
pelo que há de mais repugnante no universo da política. Uma aliança
oportunista, entre a grande imprensa, os partidos de oposição e uma verdadeira
quadrilha legislativa (sic) implantou
a agenda do caos no país."
Nessa mesma linha, disse Lula ao
assumir o microfone: "Eles que se
preparem, se pensam que vão destruir o PT." Para Lula, "o impeachment
é o maior ato de ilegalidade feito desde a revolução de 1964."
Na linha da tribuna, a volta às
origens não mais encontra o PT aguerrido, jacobino e despojado dos seus
começos. Para que o seu discurso repercuta, cabe ir às fontes, e reconhecer os
erros de gestão nos longos anos do poder, que, seja pelos desatinos de dona
Dilma, seja pelas más escolhas de seu padrinho, estão na raiz dos problemas e
das crises que ora desabam sobre o Partido dos Trabalhadores.
Ou será que o tribuno Lula da Silva
pretenda assemelhar o fundador do PT, o
intemerato Hélio Bicudo (que se desligou
do partido em protesto à primeira crise enfrentada por Lula, que foi a do Mensalão, em 2005/6) a um "corrupto
notório" junto com o professor Miguel Reale Júnior e a dra. Janaína Paschoal ?
( Fonte: Folha de S. Paulo )
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