Hillary
Clinton dispõe de folgado avanço em
termos de delegados em relação ao seu direto adversário pela disputa da nomination na próxima Convenção democrata em Charlotte.
Por estranha coincidência, essa vantagem
sobre o Senador por Vermont, Bernie
Sanders, não difere muito do avanço que tinha Barack H. Obama sobre
Hillary nas primárias de 2008.
Como Hillary na luta contra Sanders
já acumula respeitável vantagem em relação ao runner-up[1],
diferença essa quase impossível de recuperar, as perspectivas de que a
ex-Secretária de Estado seja designada a candidata do Partido pela Convenção
democrata são muito grandes. Foi em situação muito similar que Hillary
renunciou a continuar na competição contra o então Senador por Illinois. Esta
sua decisão foi combatida com ardor por seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, por ainda achar possivel
reverter a situação na Convenção.
A sua esposa preferiu evitar tal
caminho, por ser difícil, divisivo e incerto, renunciando à sua candidatura
pouco antes da Convenção. Embora não a fizesse Vice-presidente - que seria a
solução natural, dada a renhida campanha preliminar - Obama optou por
designá-la para o Departamento de Estado, que Hillary ocupou durante o primeiro
quadriênio.
Desde muito gozando de grande
vantagem sobre os seus adversários pela nomination,
Hillary poderá ter pensado que o lugar na chapa democrata já lhe estivesse
garantido. O seu mérito principal na segunda campanha foi não só não repetir os
erros da primeira, como engajar técnicos democratas com grande experiência na
matéria. A preparação tem sido cuidadosa e ela não dormiu sobre os louros que a
punham com folgada vantagem sobre os seus rivais democratas. Ao contrário da
primeira tentativa, seu esforço concentrou-se nos principais centros de onde
se localizariam as principais primárias, de modo a que seu pleito tivesse
penetração muito maior nos diversos estados.
Sabia-se então de sua grande
penetração nos estados sulinos (mormente pela sua vivência em Arkansas, ao lado
do marido que governou esse Estado), assim como no seu empenho pela melhora da
condição dos afro-americanos e dos chamados latinos (que são os americanos de
descendência hispano-americana). Toda a campanha pela nomination é um exercício
exaustivo, mas para pessoas com a exposição de Hillary o esforço é ainda maior,
pela necessidade de manter contato com um público bastante mais avantajado.
Quanto mais alto o posto,
maiores serão logicamente os custos da campanha. Nem falar, portanto, do
desafio apresentado por uma eleição presidencial.
Depois de uma ativa missão como
Secretária de Estado durante o primeiro mandato de Barack Obama, o 44º
presidente, Hillary desempenhou o cargo com grande êxito. Daí decorreu que
nos oito anos de Obama (ora por findarem) Hillary liderou com folga a lista de
pré-candidatos à Casa Branca.
Nesse contexto, vários
possíveis adversários para a campanha presidencial deste ano foram saindo do
pelotão, seja pelo cansaço, seja sobretudo pela realização de que não tinham
condições de ameaçar a liderança da Senhora Clinton.
No entanto, a grande
vantagem de que gozava Hillary no que tange a Joe Biden, o cômico, mas
simpático vice-presidente de Obama, fe-lo afinal sair da corrida, há coisa de
um ano atrás.
Hillary, por conta de
seus quatro anos no Departamento de Estado, se reforçou a própria popularidade,
iria ter dois problemas principais: a morte do embaixador americano na Líbia,
Christopher Stevens, em 12 de setembro de 2012, assassinado por terroristas
líbios em Benghazi, e o seu uso de programa de computador particular para
questões correntes no Departamento de Estado.
O GOP procurou responsabilizar de alguma
forma a Hillary pela morte do embaixador Stevens. O seu interesse, evidenciado
por várias audiências dedicadas ao tema, era o de implicar de alguma forma
Hillary com as causas que levaram à morte do distinguido arabista. Comovente o
empenho dos republicanos em mostrar, de alguma maneira, alguma eventual
responsabilidade dos democratas e, em especial, de Hillary pela morte de Christopher Stevens e de mais três funcionários
americanos. Tanto empenho, sobretudo na Casa de Representantes que desde 2010 o
GOP domina por conta de um bem organizado gerrymander
(redistritamento eleitoral com fins de favorecer um partido), que é uma das
vergonhas da Nação americana nos dias atuais, enquanto aos distritos eleitorais
em estados hoje dominados pelos republicanos.
Outra questão que viria a
incomodar Hillary foi o seu uso de um servidor privado de computador para seus
e-mails. Esse "erro" da Secretária de Estado lhe incomodaria muito,
sobretudo quando o assunto foi tomado por seus concorrentes para a Casa Branca.
Hillary não deu a princípio a atenção que a questão merecia e permitiu que
crescesse junto à opinião pública. Somente quando se dispõs a assumir em
entrevista televisiva seu
"erro", foi que logrou desinflar a questão, a qual foi
redimensionada. O próprio Sanders, seu maior rival pela nomination, declarou que já estava farto de ouvir sobre "o de
tal servidor privado". Com isso, parece que o problema foi arquivado. Está
pendente, no entanto, o parecer da autoridade do governo americano, que é competente
sobre a questão. A esse respeito, alguns
de seus 'amigos' alvitraram a possibilidade de que ela fosse indiciada. Essa
perspectiva, no entanto, é muito pouco provável.
A princípio, a Senadora Barbara
Warren, por Massachusetts, analisou a respectiva possibilidade de concorrer às
primárias do Partido Democrata. Ativista de direitos humanos e defensora dos
consumidores perante as grandes empresas, Warren é uma combativa política. Terá
analisado a possibilidade de candidatar-se e preferiu, talvez pela popularidade
de Hillary, de não tentar desta vez. A Senadora Warren é um ótimo valor entre
os democratas.
Bernie Sanders, senador pelo
estado de Vermont, no extremo norte da Nova Inglaterra, tornou-se o principal
adversário de Hillary Rodham Clinton pela nomination democrata.
Depois de uma folgada
liderança nos anos anteriores, por força de sua campanha anterior e o seu
exercício de quatro anos como Secretária de Estado, em que deu uma boa imagem à
diplomacia estadunidense (além de haver-se a contento diante de tal desafio),
com o começo da longa campanha presidencial americana e o 'fogo amigo' de um
grupo da imprensa e do Partido, a grande vantagem de Hillary sobre os demais
concorrentes democratas encolheu deveras.
O que a favorece é a simpatia
pessoal, a longa experiência política, primeiro, ao lado do marido, Bill
Clinton, governador de Arkansas e depois o 42° Presidente americano. Vindos de
um pequeno estado sulino, Bill e Hillary enfrentaram uma senhora barra junto
aos círculos dirigentes e em especial na Nova Inglaterra.
Por iniciativa do New York
Times, se iniciou a investigação sobre o projeto de Whitewater, em que se
procurou incriminar os Clinton. O próprio New York Times mandou fazer uma
reportagem sobre esse suposto escândalo, que deu muito trabalho aos Clinton e
aos amigos dos Clinton. Ganhou realce um promotor-especial, Ken Starr, que deve ter grande admiração
pelo Comissário Javert dos Miseráveis, de Victor Hugo, mas que,
embora tenha conseguido iniciar o processo de impeachment de Bill Clinton, por motivos exclusivamente políticos,
eis que Clinton é considerado um dos melhores presidentes americanos, e pôde
sobreviver politicamente ao ataque de Starr.
Por ocasião da presidência
Clinton, Hillary ocupou-se de projeto de reforma de saúde, cuja qualidade se
afigura muito superior ao do projeto pela Administração Obama, no biênio em que
os democratas tinham maioria na Câmara e no Senado. De qualquer forma, a Lei
sobre a Reforma Sanitária foi aprovada e sancionada pelo Presidente. Os
republicanos empreenderam, como se sabe uma raivosa campanha contra o 'Obamacare', o apelido que desejam
pejorativo contra a dita reforma. Diga-se a propósito que a Reforma da Saúde de
Obama resistiu a exame pela Suprema Corte que tinha então maioria republicana,
e está viva e operante até hoje.
No que concerne ao projeto de
reforma Clinton, os democratas então não tinham maioria no Congresso. Além
disso, tal projeto de reforma, supervisionado por Hillary Clinton, recebeu a
oposição das grandes empresas da indústria farmacêutica e médica nos Estados
Unidos, com anúncios enganosos nas redes de televisão sobre o que implicaria em
termos de restrições às escolhas dos
cidadãos. Na verdade, o projeto de reforma era muito bom, mas não avançou pela
oposição acima mencionada (a assistência médico-hospitalar na terra de Tio Sam
é uma das mais caras do mundo, e conseguiu fazer engavetar o trabalho presidido
pela Senhora Clinton).
Sem querer cansar o leitor
com matéria demasiado longa, reservarei a segunda e última parte dessa
tentativa de apresentar a política e intelectual Hillary Rodham Clinton, para
ocupar-me de sua relação com a imprensa, em especial as peculiaridades no que
concerne ao maior jornal americano, o
perfil de seu concorrente Bernie Sanders, e last
but not least[2] a ambígua relação do
segmento liberal nos Estados Unidos com o casal Clinton e, em especial, com
Hillary.
( Fontes: The New York Times,
Les Misérables, de Victor Hugo )
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