Já anunciadas por Lula da Silva em seus
pronunciamentos pós-impeachment, a
reação dos chamados movimentos sociais (as alas dependentes do PT - o que os
italianos costumam denominar como movimentos extra-parlamentares) principia a
desenvolver-se segundo o figurino da liderança petista.
Lula, na sua primeira fala pública
depois da aprovação do Impeachment
pela Câmara dos Deputados, disse nesta segunda-feira, 25 de abril, que a Casa é
comandada por uma "quadrilha legislativa". No mesmo discurso, embora
haja reconhecido falhas do governo, afirmou que
o Brasil viverá um "período de muita luta".
No mesmo tom, Lula, com a voz já
bastante rouca, avançou: "Uma
aliança oportunista entre a grande imprensa, os partidos de oposição e uma
verdadeira quadrilha legislativa implantou
a agenda do caos no país."
Como se verifica, o máximo líder
petista estava bastante alterado. No entanto, abusando da palavra, a emissão da
voz se tornava cada vez mais dificultosa, e ele teve de passar o discurso para
o diretor do Instituto Lula e ex-ministro, Luiz
Dulci.
A alocução foi pronunciada em
seminário realizado em São Paulo, pela Aliança Progressista, que é uma rede de
partidos de vários países. Segundo os organizadores, participaram da atividade
representantes de vinte legendas de dezessete países.
Para o orador Lula, a votação do
processo de impeachment foi um "espetáculo deprimente". Assinale-se,
por oportuno, que o impeachment foi aprovado
por 72% dos deputados.
Na interpretação oratória de Lula
da Silva foram "corruptos notórios
clamando contra a corrupção, oportunistas exercitando o cinismo e a hipocrisia
e alguns até defendendo a tortura e a ditadura".
A História a vivo é um
personagem suscetível de interpretações favoráveis, contrárias e até mesmo indiferentes. Abel
Gance, na sua obra prima sobre a Revolução Francesa, mostra a
Assembléia Nacional, palco de justas oratórias memoráveis, como o mar encapelado,
no jogo súbito e imprevisível das ondas. Os debates, as invectivas, as alianças
literalmente são transformadas na imagem dos grandes telões, em que as vagas crescem e recuam, como forças
opostas que se desencadeiam e se entrechocam.
Pois a luta que o
enraivecido militante Lula prometeu surgiu em várias localidades brasileiras. A
Frente Povo Sem Medo - composta de
dezenas de movimentos sociais e sindicais contrários ao impeachment de Dilma
Rousseff - e entre elas o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) realizando,
na manhã de 28 de abril corrente, uma série de bloqueios em avenidas e rodovias
de oito Estados e do Distrito Federal.
O escopo era o de
"parar o Brasil", contra o afastamento da Presidenta e a eventual posse do Vice-Presidente Michel Temer. Usando de
meios toscos mas efetivos, o protesto, ainda que definido como pacífico,
produziu o previsível nó no trânsito e nas vias atingidas. Houve mais frentes
abertas em São Paulo do que no Rio de Janeiro,onde os ativistas fecharam trecho
da avenida do Contorno, em Niterói.
Aconteceram distúrbios similares,
no Paraná (Curitiba); Ceará (aí foi fechada
a principia via de ingresso em
Fortaleza); em Minas Gerais, Belo Horizonte (fecharam a avenida Antonio
Carlos), e por fim em Cuiabá, o coletivo
ocupou prédios públicos.
( Fontes: O Estado de S. Paulo, O Globo, Abel Gance )
Nenhum comentário:
Postar um comentário