Grita ao céus que se cobram demasiados
impostos de nossos cidadãos, e de todas as formas, muitas delas embutidas nos
preços das mercadorias - até remédios pagam impostos.
Fala-se muito ,nos círculos dos
conhecedores, que pesam demasiados impostos sobre a nossa gente. Isto sem falar
que apesar da inchação mostrada pelo impostômetro,
não vemos o resultado dessa carga sobre os cidadãos, refletir-se em melhores
condições de vida.
Tivemos há pouco a cobrança de um novo
imposto sobre a população, relativo às domésticas. O tributo já existia, mas resolveu-se
carregá-lo de inúmeros outros fins, o
que fez inchá-lo a ponto de que só contadores fossem capazes de dar-lhe possibilidade
para declaração (inclui até código de barras, para absorver todos os fins embutidos
em mais este imposto).
Não sei se a risonha promotora do novel
tributo, que a princípio aparecia em todas as fotos de reportagens a ele
proporcionadas, e agora não mais se vê. Será que a complexidade (inevitável no Brasil em
tudo que se reporte às receitas do Estado) da elaboração da papelada necessária,
tem tido um efeito negativo sobre as empregadas? Muitas estão perdendo o emprego, por causa da
complexidade da preparação da documentação indispensável para estar conforme as
complicadas exigências da Receita Federal.
Em outras palavras, o tal tributo
exige que se recorra à figura do contador a cada mês que se tem de pagar o novo
imposto. O que antes se fazia em máquina ATM bancária, sem ajuda de ninguém,
agora implica visitas mensais a contador. Como a feitura não é simples, o preço
já subiu e bastante. Com isso se onera o custo do chamado eSocial, e não poucos
patrões ou preferem que a empregada fique na clandestinidade fiscal, ou até
mesmo a despedem.
Como se houvesse encontrado nova
galinha dos ovos de ouro, não é que a Receita agora vai exigir que o tal eSocial
- que reúne dados cadastrais e emite
guia única para as contribuições fiscais, trabalhistas e previdenciárias
devidas pelos empregadores domésticos (que ainda enfrentam problemas e que, na
prática, só é acessível a contadores - o que inevitavelmente onera o peso do
imposto para o empregador) - agora, acesa a cobiça da Receita Federal vai
passar por mais outra e enorme expansão. Antes se visava apenas às empregadas
domésticas e seus patrões. Não mais nos dias que correm. A Receita acordou para
o que extrair a mais de recursos com o novo programa: assim, todas as
empresas, a partir do microempreendedor individual (MEI), que tenha só um
empregado, às multinacionais, todos serão obrigados a utilizá-lo de forma
escalonada.
Em vista da bagunça que foi a implantação
do eSocial - conforme se teve
conhecimento pela imprensa e os interessados, como eu, pela contadora
responsável pela viabilização do sistema para o patrão em tela - que, segundo a
imprensa, ainda enfrenta problemas - o que será quando esse sistema - que
infernizou a vida dos patrões domésticos - passará a ser obrigatório para
todos?
Dar rédea livre à Receita Federal
é contrassenso porque trata-se de órgão
subordinado ao Ministro da Fazenda. No
entanto, o mais é o critério dominante para a criação de impostos
no Brasil. Na prática, reedita o velho sistema das antigas colônias ibéricas -
tanto a hispânica, quanto a lusa - baseado no chamado patrimonialismo, que não passa de nome alternativo para a real
cobiça. Ao invés de promover-se a reforma tributária no Brasil, de forma a
adequar o direito fiscal às realidades do presente, o Governo recorre a um
antissistema, que é o de engendrar o monstro que municia o Impostômetro. Num piscar d'olhos, o "sistema" não passa de
um incremento sem fim, a ponto de se criarem esses Frankensteins modernos, que só servem para dois escopos: dificultar
a vida do cidadão e inchar, em progressão algébrica, o peso fiscal, enquanto
continuamos sem entrever as benesses da modernidade: saúde, segurança,
transporte e educação.
Como mostrei na minha série Brasil:
Corrupção & Burocracia, que, infelizmente, acompanha a história pátria, os
tributos, se indiscriminados e opressivos, podem ter função negativa na
evolução da economia. O Brasil é triste prova dessa verdade, herdada
de Portugal e álacre e descuidadamente implantada em Pindorama.
( Fonte: O Globo )
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