quinta-feira, 28 de abril de 2016

E agora, Bernie ?

                                      

       O candidato a presidente Senador Bernie Sanders  apareceu como um cometa no céu dos democratas. No ano passado, ele dava a impressão de senhor bem-comportado - dir-se-ía até do velho Sul, pelos seus modos deferentes para com a front-runner Hillary Clinton. Além disso, a diferença nas pesquisas era tal, que a candidata chegou a nos debates visar mais aos candidatos do GOP do que ao próprio Mr Sanders (isto sem falar no tertius, o ex-governador de Maryland, Martin O'Malley, que logo iria desaparecer do visor).
      Tudo mudaria em 2016. Pelo menos, foi essa a impressão prevalente, com o súbito crescimento de Sanders. A ameaça a Hillary tornou-se real não só pelo entusiasmo que suscitava o Senador por Vermont, mas sobretudo pelo apoio recebido de parte dos jovens, com genuíno entusiasmo motivado por promessas como melhores condições de custeio nas universidades.
       Não conseguiria superar a Hillary nos caucus de Iowa - o que atribuiu à propaganda mal-ajustada - mas venceria em New Hampshire, conforme o esperado. Passadas as primárias do Sul - onde não tinha condições de concorrer com Hillary - as coisas melhorariam para ele com o triunfo em Wisconsin (sempre os jovens e os estudantes), e emendaria uma série respeitável de primárias. Hillary ainda estava na dianteira, mas para ele o horizonte parecia brilhar com as luzes da Metro Goldwyn Mayer.
       E foi nesse ponto em que a enganosa húbris o afastou de suas maneiras cavalheirescas. O seu histórico em Vermont já deveria tê-lo advertido que destratar adversária do sexo feminino poderia prejudicá-lo eleitoralmente. A par disso, Sanders passou a investir pesado nas ligações de Hillary com Wall Street, e, a fortiori,  declarou que ela não preenchia os necessários critérios para governar os Estados Unidos.
       Nova York e depois a rodada da Pennsilvalnia e mais três outros estados (só ganhou em Rhode Island)  contribuiriam para que a embriaguez de aparente vitória o deixasse.
      Sem embargo, Hillary e o seu grupo - que vai aumentando à medida que a Convenção de Filadelfia se aproxima - continuam cheios de dedos no tratamento a Mr Bernie Sanders. Por desagradável que seja, será sempre melhor para os democratas que ele de algum modo se associe ao bloco vencedor. Nesse sentido, governadores democratas, próximos à front runner Hillary, podem servir de intermediários para que o bom senso prevaleça.
        De qualquer forma, Bernie desativará parte de seu grupo de apoio, mas não todo, eis que Indiana e mais tarde a Califórnia o atraem. Dessarte, pela sua insistência, mesmo na adversidade, forçará Hillary a enfrentá-las a sério, sobretudo a da Califórnia, porque ela não poderia permitir-se que um eventual tropeço na costa do Pacífico venha a pôr água no seu chope em Filadelfia...
         Parodiando uma expressão que creio tenha sido de Lyndon Johnson, Bernie Sanders é um jerk[1], mas ele é nosso jerk!

( Fonte: The New York Times )  



[1] chato, indivíduo desagradável.

Nenhum comentário: