terça-feira, 26 de abril de 2016

Brasil à deriva?

                                 

        À parte o descalabro ético, que está na raiz  do lulo-petismo, e de que, enquanto não os atrapalhem, vêm cuidando muito a contento o juiz Sérgio Moro e a Lava-Jato, outro grande problema que ameaça o Brasil  é a mudança no critério de pagamento da dívida dos Estados com a União.
         Dilma Rousseff está igualmente na raiz desse magno desafio às avessas. A coluna de Miriam Leitão sintetiza a questão, que não é tão complexa assim quanto parece.
         Mais uma vez, o Governo Dilma errou, desta feita ao abrir  negociação com os Estados - com que baixara a ponta-levadiça da atribulada e assediada cidadela do Tesouro brasileiro, ensejando inesperada oportunidade de ganhos líquidos a administrações estaduais que estão em péssimas condições financeiras, e, dessarte, demasiado expostas à tentação da minimização de dispêndios com  quaisquer recursos, mesmo até aqueles  eticamente de problemática defesa. Tampouco, a economista dona Dilma e seu dócil sub-escudeiro nas finanças (pois Joaquim Levy é de outra têmpera, e por isso teve de ser jogado às feras) uma vez aberta a caixa de Pândora, não mais tinham quaisquer condições de  conduzir o processo.
          A complicação aumenta porque a nova Lei fala em juros, mas não especifica que são compostos. Como sublinha a coluna de Míriam Leitão, na tensão da crise política, o Supremo Tribunal Federal vai decidir  sobre a briga dos Estados com a União.  Aqueles dizem que vão quebrar se tiverem de pagar a dívida na maneira com que ela é cobrada; por outro lado, o governo federal, na prática acéfalo, calcula que a dívida (cerca de R$ 2,8 trillhões), vai aumentar de mais trezentos bilhões de reais.
          Por outro lado, a impressão colhida por ministros do Supremo diz que, ainda por cima, o Ministro Nelson Barbosa, da Fazenda, não foi convincente.
           E a explicação de um dos Ministros do STF, preocupa ainda mais pela franqueza: "A verdade é que nós temos que decidir  uma questão gravíssima, em momento muito delicado na economia e na política, o governo tem uma equipe econômica fraca e o advogado-geral-da União está ausente porque tem outras preocupações." (o grifo é desta coluna)
           Quando titular de governo é afastado do poder, e não se sabe se é de modo permanente ou temporário, a maquinária governamental sofre a própria crise de autoridade, e há um consequente enfraquecimento desse poder. Não é, portanto, o momento mais adequado para que tal questão - com efeitos permanentes - seja resolvida. Talvez se o senhor AGU estivesse presente, seria quem sabe a linha de argumentação que proporia ao colegiado.
               Como assinala Miriam Leitão, o governador Paulo Hartung, do Espírito Santo, é economista - e dos bons. A tese de Hartung é interessante - ele a expôs em artigo publicado na "Folha de S. Paulo" - pois também diz que os estados não têm direito em sua queixa e que a mudança infringe a regra universal de crédito. O governador Hartung sublinha que "entre outras consequências previsíveis está o 'risco de insolvência da dívida pública' (...). E mais além, Hartung afirma: "ao contrário do que os estados fazem crer, o processo de renegociação da dívida, feito em 1997, significou subsídio aos estados.  A cobrança de juros não é, portanto, indevida e injusta, como dizem."
                Nesse inquietante contexto, e não obstante a observação de um dos Ministros do STF de que eles teriam de resolver logo a questão, com autoridades que estão ou ausentes, ou são fracas, o recurso mais óbvio, salvo melhor juízo, seria o de pedir vista do processo, recurso tal que é de corriqueira usança no Supremo.
                É o que me permito sugerir, na minha húmile qualidade de bacharel da Faculdade Nacional de Direito, do então Distrito Federal.


( Fontes: O  Globo; coluna de Miriam Leitão ) 

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