Que me releve o leitor a insistência. Não há
negar, porém, que o fenômeno da corrupção não preocupa à toa ao brasileiro. Tal
qual uma hidra, ela sufoca a economia e, por conseguinte, muito mais que o
desenvolvimento.
Enquanto
deparamos a seus próceres - pois eles, e não é de hoje, se localizam em pontos
chaves da câmara das grandes decisões, aquilo que os italianos chamam la stanza dei bottoni[1] -,
vemos a opinião consternada e angustiada por tal avanço e, em consequência,
essa não tão lenta sufocação dos anseios e propósitos da comunidade nacional.
Se incha a
insolência e a audácia dessas tristes personalidades que escolheram uma outra
via para alcançar a riqueza que nelas é afrontosa opulência, pois que a tudo
que está escrito nos livros e nos códigos de nossos maiores contrariam, e o que
é pior, para muitos dão a impressão de que lograrão os seus torpes objetivos, a
Nação brasileira por vezes recua, ao não ver refletidos à sua frente o exemplo
e o perfil que devem constituir a norma e não a exceção nas altas curuis.
Pode-se acaso
desmerecer da sombria importância de tais símbolos, em que a audácia se dá as
mãos com a insolência? Que lição se pode esperar dessa triste coorte, cujas
carantonhas escrevem com grossas e atrevidas linhas o que significa o poder ser
empolgado por essa gentalha?
O Brasil não é
Nigéria, nem deve adentrar nesse triste submundo em que tudo se falsifica, do
remédio que deveria salvar vidas às posturas insolentes dos manda-chuvas de
plantão, que podem arrotar e até arremedar
o gesto do líder autêntico, mas jamais a ele chegarão aos pés em
exemplo, respeito e autoridade.
Por uma série
de circunstâncias, que nos atazanam a vida, já há muito soou a campainha de que
é mais do que hora de livrar-nos dos falsos líderes e de uma torpe filosofia
que pensa possível locupletar-se com a riqueza da Nação, enquanto se orquestra
a opera bufa [2] com cujos trajes tentam
vestir a democracia.
A Sociedade
Civil vê avançar o trabalho da Lava-Jato, e de todos os intentos que se propõem
limpar o pátio (e o quintal!) deste Brasil, para que nos livremos dessa escória
que se insinuou e crê ter-se apossado dos comandos de nossa Terra. Já decerto
soou a hora de que está vencido o prazo das legislações adulteradas e
mercantilizadas (como essas MPs que foram transformadas em ignóbeis balcões de
negociata), assim como dessa súcia de partidos que em muitos casos são
deboches quadrienais que nos visitam a cada pleito, nessa chusma de legendas de
aluguel e de partidos com grandes ganâncias e projetos nenhum.
O Brasil
deveria livrar-se igualmente da sarcina do subdesenvolvimento. A corrupção não
corrompe apenas aqueles que dela se locupletam, enquanto vendem na sua porta os
ouropéis da riqueza e todas as canalhices do 171 e do restante vasto arsenal
elencado pelo Código Penal.
Ela distorce e desfigura a Nação, ao tentar torná-la
exposta e indefesa a todo tipo de enfermidade e desgraça.
Vejam,
senhores passageiros, o quão ameaçados estamos todos nós, embarcados no bonde
Brasil. Dizem que aqui faltam remédios, medicamentos e vacinas, mas o que mais
carecemos é de atenção, cuidado, empenho e limpeza.
Desde muito
deblateramos contra um mosquito, e a ouvir quem assim fala, pode-se ter a
impressão de que se trata de verdadeiro monstro.
Na verdade,
o monstro somos nós todos, Povo e Autoridades que deviam não só presidir, mas
liderar pelo exemplo e a ação efetiva.
Dizem que
um mosquitinho, como o Aedes Aegypti não
poderia ter sobre nós tanto poder, nem acarretar tanta miséria, doença e morte.
A verdade é
que se o exemplo viesse de cima, e a consequente vontade se tornasse nacional
pela seriedade, empenho, e, sobretudo, persistência, Nós poderemos vencer mais
essa batalha, livrar-nos do vetor e, por conseguinte, desta enfermidade que é
consequência da negligência, da preguiça, da ignorância e do estúpido egoismo
coletivo.
Somos apenas
a Nação ou País do Futebol - e será que ainda somos depois do sete a um do
Mineirão? - ou vamos afinal desmentir aos nossos detratores, e mostrar que
somos mais fortes que um mosquito?
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