Eduardo Paes, que tem ambições
federais, foi recebido ontem pela
sitiada Presidenta, e não se pejou ao tentar agravar o racha no PMDB.
Não é segredo
que o PMDB, essa grande frente de seções estaduais, um pouco similar ao antigo
P.R., da República Velha, com as suas autônomas seções provinciais, está
rachado por ora em duas alas, aquela que apóia Temer, e a carioca, de Pezão e do ex-governador Sérgio Cabral, que defende a assediada
Dilma.
Eduardo Paes se tornara prefeito,
graças a uma jogada de Cabral. Sabedor de que a maioria dos funcionários estaduais votaria
contra seu candidato (Sérgio Cabral era o governador), urdiu o seguinte golpe,
de duvidosa legalidade: declarou ponto facultativo na segunda-feira seguinte ao
dia da eleiçâo (em segundo turno), causando assim uma abstenção maciça dos
funcionários estaduais, que já se sabia votariam maciçamente contra o candidato
do Governador - a quem detestam - sufragando Fernando Gabeira.
Na época se
discutiu inclusive questionar a
legalidade desse fajuto ponto facultativo, mas, acertadamente ou não, os que
apoiavam Gabeira julgaram que o TRE não iria em contra da decisão do Governador
Cabral. Na época, a sua popularidade era bem maior daquela posterior, em que
até a própria residência foi na prática sitiada por semanas pelos
manifestantes.
O segundo turno
saiu apertado, mas o tal truque, de mui-duvidosa legalidade, surtiu para Paes o
efeito desejado. Fernando Gabeira era o melhor candidato e foi vencido por
estreitíssima margem pelo golpe urdido por Cabral, em favor de seu recomendado
Eduardo Paes.
Paes deseja
ardentemente uma exposição federal e por isso rumou para o gabinete de Dilma -
que anda meio deserto - para assegurar-lhe o apoio do partido PMDB fluminense.
A Presidenta,
por seu lado, não está em momento de enjeitar alianças. Para ela, nesta hora
difícil, todos os gatos são pardos.
Une-se assim a fome com o apetite desvairado do político estadual, e
seja o que Deus quiser.
O cabeçalho
de o Globo (A Guerra do Impeachment): PAES
DEFENDE DILMA E ATACA PMDB LIGADO A
TEMER - Prefeito expõe racha e
afirma que partido tem de chegar ao poder pelo voto.
Nesse sentido, O Globo anuncia: ao menos
dez diretórios estaduais querem antecipar para fevereiro, após o recesso, a
convenção em que o peemedebistas vão decidir se rompem ou não com o governo da
petista.
Obviamente,
pelo andar da carruagem, em fevereiro não haverá provavelmente muito o que
decidir em matéria de apoio ao regime do PT ou não.
Por outro
lado, escrevi não faz muito o quão difícil é determinar a quem objetivamente a FOLHA apoia. Como exemplo, tome-se a notícia de primeira
página, de uma magra coluninha(que preenche cerca de 1/8 da página de
rostro). Há um título: Gestão Temer seria ruim para quase 1/3 dos
manifestantes. O que é pra lá de estranho é que o título, com viés negativo, não corresponde à nota, eis
que essa declara: Pesquisa Datafolha com manifestantes
anti-Dilma na avenida Paulista, no domingo 13 mostra que 72% acham que o vice
Michel Temer seria um presidente melhor
do que a titular no caso de um impeachment dela.
Dá pra
entender? Enquanto a manchete dá viés negativo, essa posição é desmentida pelo resumo da nota, transmitido a seguir.
Será que a posição da Folha será tão tortuosa assim (maquiavélica seria a
segunda opção) quanto a sua apresentação sugere.
Por outro
lado, a manchete principal estampa: AMIGO
DE LULA É DENUNCIADO SOB SUSPEITA
DE CORRUPÇÃO e em letras menores "Segundo
a Lava-Jato, pecuarista José Carlos Bumlai e mais dez integravam esquema
fraudulento"
Quanto ao Rito do Impeachment, a coluna de Merval Pereira nos
traz hoje elementos importantes sobre os pontos polêmicos a serem esclarecidos
pelo Supremo: (a) o que pede a
anulação da eleição da Câmara dos Deputados para a formação da Comissão especial
que analisará o impeachment, e (b) a possibilidade de o Senado não aceitar liminarmente
o processo aprovado na Câmara.
Apesar das
posturas de Fachin e aliados, a Comissão
especial da Câmara em 1992 foi
eleita por voto secreto, e como assinala M. Pereira, "a tese por trás
dessa decisão, que também prevaleceu no momento atual, é que uma eleição deve
ser feita secretamente, como acontece com todas as que se realizam no
Congresso.
Como expus em
meu comentário alusivo, os critérios de em secreto e em aberto, devem ser
estabelecidos de acordo com o interesse maior que preside sobre a decisão. E
nesse sentido, explicitei a orientação a ser tomada, de acordo com o interesse
da opinião pública.
A tese do Senador Renan Calheiros,
que tende a puxar a brasa para o incremento da autoridade da assembleia
respectiva, não deveria, no entanto, extrapolar quanto ao equilíbrio a ser
mantido na decisão. Interpretações de leguleios à parte, o artigo 86 da Constituição
é meridianamente claro e, portanto, não admite as sólitas interpretações: "Admitida a acusação contra o
Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele
submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais
comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade"
As posturas dos dois presidentes
camerais não são, assim, tão
diversas quanto parecem. Um é antagônico de Dilma e outro lhe é no momento
favorável. As suas contraposições atendem, de certo modo, e sem que seja deles
o interesse, a uma vontade maior, que os
transcende.
Nesse caso,
como em tantos outros, ao invés do afã dos aliados de turno, e das bases
subalternas, deve presidir o interesse da Nação, que, ó surpresa, veremos refletido
nas determinações da Lei Maior.
( Fontes: O
Globo e Folha de S. Paulo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário