Alvaro Moreyra escreve em 1954 livro de
memórias que intitula 'As amargas, não!'
Eram outros tempos, em um Rio de
Janeiro, que naquele fatídico ano seria sacudido pela tragédia do suicídio de
Getúlio Vargas, o qual é levado pelo torvelinho de crise engendrada nos porões
da guarda de Gregório Fortunato, açulado por um irmão do Presidente.
O atentado da rua Toneleros, contra
Carlos Lacerda, mata um major da aeronáutica, Rubem Florentino Vaz, fornecendo
o enredo pelo qual o famoso Corvo
urdiria o golpe contra Getúlio, odiado por ele e a UDN.
O suicídio de Getúlio Dornelles Vargas,
na manhãzinha de 24 de agosto de 1954, encerra um ciclo na história do Brasil. Vargas,
e não só literalmente pela carta-testamento, sairia da vida para entrar na
História.
Por sua vez, o vitriólico opositor
Lacerda que mandara vir champagne
francesa para beber com os amigotes ao ensejo do confirmado golpe, teve denegado
esse discutível prazer, eis que a reação popular - rios de gentes afluíram ao
Palácio do Catete e levaram o cadáver do Presidente para a última viagem, rumo
ao cemitério em São Borja.
Naquele momento de verdade, o Povo, como
sói acontecer em tais horas de extremo sacrifício e testemunho incontestável e
irrespondível, liberta-se das mentiras da oposição sem quartel, e distingue, sob o trauma do golpe intentado e
do extremo, irretorquível gesto, o que
perdera naquela pesada e derradeira hora.
Comparar a escumalha do PT com um dos
maiores estadistas brasileiros não é tropo literário, mas apenas melancólica
imposição dos tempos, dada a reeleição, à custa de mentiras mil, de
Dilma Rousseff, e a conta consequente que lhe será apresentada pela Nação
enraivecida.
Já é tempo de ver-nos livres desta
Senhora, que apresenta, de forma inconteste, a própria candidatura para o lugar
de pior presidente de nossa conturbada história política.
Como produto de eleições passadas, o
seu partido ainda dispõe de bancada numerosa, e para tentar evitar o impeachment alianças são mudadas e não
há recursos que não sejam intentados.
Agora, depois da temporada desastrosa
do amigo Aloizio Mercadante na Casa Civil, mandou-se vir para a assessoria
direta da Presidenta o hábil político baiano e ex-governador Jaques Wagner.
Tangido decerto pelas circunstâncias,
Wagner recorre ao sujeito indefinido, para tentar explicar a série de calinadas
da ex-Chefe da Casa Civil (e presidente do Conselho de Administração da
Petrobrás por longos anos), no contexto do governo Dilma I.
Culpou por isso o "governo"
pelos erros cometidos em 2013 e 2014, e que estão causando a grave crise que
ora atravessa o Brasil (e que induz publicações como o semanário inglês Economist a proclamar que é certo o
naufrágio de nossa economia, neste ano da graça de 2016). Wagner levou a sua
franqueza ao limite, apontando a "desoneração exagerada" e "programas
de financiamento num volume muito maior do que a gente aguentava".
Convenhamos que a sinceridade de Jaques
Wagner chega a ser comovente, se não fora construída sob gigantesca figura de
estilo, a saber a elipse. Por ser
demasiado conhecida, a própria omissão do nome da real e única culpada pela crise intenta passar desapercebida, como
se tão grandes males pudessem ser ofuscados por tais omissões.
Mas mesmo assim, na teimosia e na
aparente falta de tato, Wagner intenta a proeza máxima, ao reconhecer a
enxurrada de erros em uma ciência de que a economista Dilma nos dá a embaraçosa
confirmação de grande e comprovada mediocridade.
Como já citei nesse blog, Ingenieros nos diz que os medíocres podem ter valor. É importante,
sem embargo, que não se exagere muito neste campo, porque, como os resultados de seu obrar continuam a repisar, o
conjunto das dílmicas realizações é pra lá de lamentável e, mesmo,
constrangedor.
Como se os excessos das desonerações fiscais e dos programas
assistencialistas estivessem aí para ninguém ousar não botar defeito, por uma vez mais Dilma II mostra que como os
Bourbons - desculpe, Senhora Presidente, se lhe forço ir ao dicionário - ela
nada apreendeu com os erros passados.
Tanto que resolve assinar decreto com novo incremento para o salário
mínimo, com o coeficiente de 11,67%. Não teria sido melhor, ao invés de meter
goela abaixo da economia este coeficiente - que vai repercutir nos vários
campos em que o dito salário mínimo é critério legal de aumento, e por
isso estultamente agregará outros
valores que as nossas presentes finanças - e por sua causa, senhora Presidente
- não estão em condições de aguentar, não teria sido melhor, repito, retirar a
parafernália de índices, para limitar a total suportável com nossos compromissos tributários, de que grande
número é recalculado com o novo mínimo?
Só os tolos e os medíocres se
encarniçam em tempos bicudos como os presentes - tempos esses, seja dito de passo e por vez segunda, provocados
por Vossa Excelência - em atrelar-se a regras que valem para os bons tempos.
Por isso tudo, a decisão de
manter Dilma Rousseff por mais três
anos no poder não é questão de lana
caprina. Ela é responsável - assim como Lula da Silva, que a
indicou, como magno-coronelão, para um eleitorado que ainda é de cabresto -
pelo que está aí, pelo tempo perdido, pelas pedaladas
(que não são coisa de somenos, porque atentam contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, lei essa que, com enérgica burrice,
o PT
de Lula tudo fez para derrubar - e vejam só, meus ilustres passageiros, se
Dilma Rousseff se houvesse cercado de assessores dignos do nome não estaria
agora o Brasil a refazer o caminho percorrido, e a ser rebaixado pelas agências
de classificação de risco, e tantos outros penosos percalços que nem a
habilidade de experto Ministro pode
esconder sob fina retórica. Para certas coisas, não há mágicos que produzir possam
o contrário de o que tal sumidade nos trouxe.
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo;
As Amargas, Não, de Alvaro
Moreyra;
Getúlio
(3° volume), de Lira Neto, Cia. das Letras; José Ingenieros; Enciclopédia Delta Larousse )
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