Enquanto
reinar o silêncio nas praças e avenidas, nos quarteirões e botequins, Dilma e Lula
permanecerão tranquilos. E terão razões de sobra para tal, porque o impeachment é um daqueles bolos que
precisam ser muito batidos para que tenham sabor.
Se não o
forem, a substância fica pastosa, sabe mal, e quem estiver a cozinhá-lo,
sacudirá descorçoado a cabeça.
Porque o impeachment só prospera com o ar e o
barulho das praças e avenidas. Não é só questão de gabinete. Será necessário,
imperativo mesmo, espevitar-lhe o gosto, porque ele precisa não só de movimento
e de trabalho dos políticos, mas também do inconsequente, irruente ronco das
ruas.
Sem essa voz
roufenha das travessas e calçadas, sem a ira do povo, sem aqueles gritos que
grafam e engrolam a raiva, repúdio e ressentimento a falsas promessas, quem
entenderá a rejeição da gente, o berro
que será mais forte do que os alto-falantes dos cortejos, e dos comícios dos
partidos chapa-branca ?
Dilma é um
pré-fabricado que não correspondeu às especificações que trazia para o Povão. De
todos os inimigos da gente miúda, essa dupla é a pior de todas. Digam-me, por
favor : Tem consumidor que goste de ser enganado?
E querem
ilusão maior do que a mágica de derreter o real?
A gente miúda
está cansada de receber salário que ao fim do mês não mais garante a família em
volta da mesa!
Pois não há
governo pior do que o fementido, que diz uma coisa e faz outra, e olhem que
numa mágica faz desaparecer o trabalho duro de quem se levanta cedo, e no meio
do caminho azeda a boia que a cada dia mais fria fica!
Com o
panelaço, a classe média dá o seu grito, entra na festa da democracia, despeja
o próprio desconforto, arrota sobre os passeios esburacados a raivosa cacofonia
de colheres e panelas, na irada linguagem dessa esquecida e enjeitada classe
média, que, olhem só, ei-la empurrada outra vez para as mágicas da dona de casa
que viu o dragão da inflação comer o que seria o prato do amanhã!
Às mentiras,
a gente responde com berros e palavrões, que se não enchem barriga, pelo menos
lavam a alma!
Tanta
desfaçatez, tanta enrolação, tanta promessa, tanta lorota têm que acabar numa
sexta-feira, sem cantiga nem mandinga que preste.
A raiva é
grande e ela mais cresce vendo-lhe os cornos a abanar para o povão que não mais
existe, enquanto os alto-falantes espalham as petas, patranhas e potocas do
leão-de-chácara de plantão, cuja metálica voz vai sumindo sob o estrondo das
praças e das ruas!
Até quando,
minha gente, dá pra aguentar esse povo, que começa a acreditar em mais um
milagre no Brasil!
Chega de
muxoxos e beicinhos, que passou a hora do faz-de-conta, das ocas promessas, e
da voz roufenha a nos acenar com maravilhas mil!
Vamos
acertar as contas, sob o bimbalhar dos sinos e as palmas das ruas e avenidas,
porque afinal chegou a hora de pôr cada um no seu lugar!
Não
queremos mais ladrões sentados em cadeiras de alto espaldar. A hora é outra! E
venha lá o ronco ruidoso da rua, que se cansou de esperar, e agora veio o tempo
de gritar e berrar:
ACABOU A
FARRA MEU POVO! VAMOS BATER PANELA PRA QUE ACORDEM E SE MANDEM!
( Fonte: Povo brasileiro )
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