terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Para Dilma e Temer


                                        

         Enquanto reinar o silêncio nas praças e avenidas, nos quarteirões e botequins, Dilma e Lula permanecerão tranquilos. E terão razões de sobra para tal, porque o impeachment é um daqueles bolos que precisam ser muito batidos para que tenham sabor.

         Se não o forem, a substância fica pastosa, sabe mal, e quem estiver a cozinhá-lo, sacudirá descorçoado a cabeça.

         Porque o impeachment só prospera com o ar e o barulho das praças e avenidas. Não é só questão de gabinete. Será necessário, imperativo mesmo, espevitar-lhe o gosto, porque ele precisa não só de movimento e de trabalho dos políticos, mas também do inconsequente, irruente ronco das ruas.

         Sem essa voz roufenha das travessas e calçadas, sem a ira do povo, sem aqueles gritos que grafam e engrolam a raiva, repúdio e ressentimento a falsas promessas, quem entenderá a rejeição da gente,  o berro que será mais forte do que os alto-falantes dos cortejos, e dos comícios dos partidos chapa-branca ?          

         Dilma é um pré-fabricado que não correspondeu às especificações que trazia para o Povão. De todos os inimigos da gente miúda, essa dupla é a pior de todas. Digam-me, por favor : Tem consumidor que goste de ser enganado?

         E querem ilusão maior do que a mágica de derreter o real?

         A gente miúda está cansada de receber salário que ao fim do mês não mais garante a família em volta da mesa!

         Pois não há governo pior do que o fementido, que diz uma coisa e faz outra, e olhem que numa mágica faz desaparecer o trabalho duro de quem se levanta cedo, e no meio do caminho azeda a boia que a cada dia mais fria fica!

         Com o panelaço, a classe média dá o seu grito, entra na festa da democracia, despeja o próprio desconforto, arrota sobre os passeios esburacados a raivosa cacofonia de colheres e panelas, na irada linguagem dessa esquecida e enjeitada classe média, que, olhem só, ei-la empurrada outra vez para as mágicas da dona de casa que viu o dragão da inflação comer o que seria o prato do amanhã!

          Às mentiras, a gente responde com berros e palavrões, que se não enchem barriga, pelo menos lavam a alma!

          Tanta desfaçatez, tanta enrolação, tanta promessa, tanta lorota têm que acabar numa sexta-feira, sem cantiga nem mandinga que preste.

          A raiva é grande e ela mais cresce vendo-lhe os cornos a abanar para o povão que não mais existe, enquanto os alto-falantes espalham as petas, patranhas e potocas do leão-de-chácara de plantão, cuja metálica voz vai sumindo sob o estrondo das praças e das ruas!

          Até quando, minha gente, dá pra aguentar esse povo, que começa a acreditar em mais um milagre no Brasil!

            Chega de muxoxos e beicinhos, que passou a hora do faz-de-conta, das ocas promessas, e da voz roufenha a nos acenar com maravilhas mil!

            Vamos acertar as contas, sob o bimbalhar dos sinos e as palmas das ruas e avenidas, porque afinal chegou a hora de pôr cada um no seu lugar!

             Não queremos mais ladrões sentados em cadeiras de alto espaldar. A hora é outra! E venha lá o ronco ruidoso da rua, que se cansou de esperar, e agora veio o tempo de gritar e berrar:

            ACABOU A FARRA MEU POVO! VAMOS BATER PANELA PRA QUE ACORDEM E SE MANDEM!      

 

( Fonte:  Povo brasileiro )

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