quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Diário do Impeachment (6)

 
 
         O Brasil é tido por muitos como país estranho, atípico. Já me referi à opinião que dele tinha Edward W. Said, sociólogo, de origem palestina, sediado nos Estados Unidos, que nos punha no mesmo escaninho que a Nigéria, como nação atípica.

        Vejam agora o que está sucedendo com o processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff. Depois de retirada da gaveta pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a proposta firmada pelo advogado e ex-petista  Dr. Hélio Bicudo, e também pelo jurisconsulto Miguel Reale Júnior, foi objeto das primeiras providências de parte da Câmara de Deputados (a que pela Constituição incumbe o seu processamento inicial). Em consequência, a maioria da Câmara decidiu eleger, por voto secreto, câmara especial para o impeachment.

          Venceu a oposição, como se sabe, que designou por maioria, os membros da referida câmara.

           Como sói acontecer, o PCdoB, na qualidade de sucursal do PT, impetrou mandado de segurança junto ao Supremo. Embora a constitucionalidade de tal recurso seja discutível, o STF resolveu conhecer da matéria (V. blog a respeito).

           Malgrado o voto do novel membro Ministro Edson Fachin tenha sido elogiado por gregos e troianos - ele se manifestara pela constitucionalidade das providências aprovadas pela Câmara - o STF, por um voto de diferença, aceitou a tese do PCdoB.

           A vitória do grupo que apóia a Presidenta mudou o jogo, a ponto de o Ministro da Casa Civil Jaques Wagner já cantar vitória, considerando as disposições da sentença como prenunciando solução favorável a Dilma, o que equivale a dizer que a negação do impeachment pelo Senado - que é presidido pelo agora aliado Renan Calheiros - estaria à vista.

            Dadas as indicações existentes, se mantidas as condições, o governo Dilma teria possibilidades de safar-se do impeachment, o que pode ser bom para o PT e Dilma, mas extremamente negativo para o Brasil.

            Nesse contexto, reportagem de capa do Economist, hoje divulgada, coloca um viés muito negativo para o Brasil com a perspectiva de salvação da Rousseff, acenando inclusive com situação falimentar do Brasil no fim de 2016. Descontado o fato de que o Economist costuma ter visão bastante negativa  do Brasil - o que poderia talvez ser explicado pela circunstância de que, durante curto período, a economia brasileira, então sob direção competente, ultrapassara o Pib inglês... - a publicação britânica é conceituada, e por isso pode prejudicar-nos em meios especializados  .

              De qualquer forma, as últimas pesquisas de opinião do Datafolha apontam para uma baixa recuperação da Presidenta. Para quem estava em um dígito de aprovação, passar para a faixa dos dois dígitos representa desde já alguma retomada junto à opinião pública.

               Como as forças políticas pró-impeachment contam valer-se da pressão da opinião pública, eventual retomada nos índices de Dilma Rousseff implicaria por certo em claro retrocesso quanto à perspectiva de retirá-la do Palácio do Planalto.

               Nesses termos, se a posição da opinião pública nacional enfraquecer-se no que concerne à exigência da saída imediata da Presidente Dilma, o evolver no Congresso, já com o quadro mudado pelas modificações introduzidas pela sentença do STF apresentará um quadro não muito alvissareiro para a maioria nacional que deseja, por causa de sua atuação desastrosa para a economia, afastá-la da presidência por via do impeachment.

                Não se deve esquecer que existe, igualmente, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) causa em tramitação em que se contesta a chapa Dilma-Temer por supostas irregularidades eleitorais. A diferença desta questão para a da petição fundada nas pedaladas fiscais (de acordo com sentença unânime do Tribunal de Contas da União) é que atinge igualmente o Vice Michel Temer, que seria, neste caso, igualmente afastado. Haveria, portanto, um processo eleitoral para determinar quem substituiria a chapa que fora eleita em 2014.

               Ainda não foram jogados todos os dados para a sorte de Dilma. Por mais volúvel que seja a opinião brasileira, é extremamente difícil o quadro de eventual  recuperação da Presidenta. Se avaliada pelas condições objetivas, seria certo o seu afastamento. Na memória brasileira, não há Chefe de Governo com pior fé de ofício.  Até mesmo erros seus,  como os cometidos pelo governo Dilma em 2013 e 2014 "contribuíram para a grave crise que o país enfrenta. O ano de 2015 foi "tão duro" por causa deles, disse Wagner, citando a "desoneração exagerada" e "programas de financiamento num volume muito maior do que a gente aguentava".

              E sem embargo, nem a habilidade política e a surpreendente franqueza de seu Ministro da Casa Civil - na verdade, um super-ministro que tem conseguido lidar com a situação em vários fronts, após a gestão bastante negativa de seu antecessor na Casa Civil, Aloizio Mercadante - podem escamotear os danos provocados pela gestão da Rousseff.

               Por todas essas razões, e o conjunto de índices negativos que apresenta a nossa economia, não se poderia senão formular votos para que essa presença tão danosa para o Brasil seja afastada pela via do impeachment.

               O "Fora, Dilma!" representa, nas penosas e negativas condições prevalentes, a única solução realmente válida para o Brasil, desde que amparada em uma chapa de personalidades proficientes, honestas e que tenham visão política voltada para a recuperação da economia brasileira.

               Chega de oportunistas e de gente despreparada! O Brasil precisa de gente honesta, intenta em recuperar a nossa economia e o próprio governo. Ao invés do excesso, tanto em termos de ministros como ministérios, se deve prestigiar a qualidade e não a quantidade.

               A administração deve compor-se de poucos e não de muitos, que privilegiem a economia pública e não a fazenda privada, e que se hajam distinguido nas respectivas atividades, norteadas pela capacidade, cultura e competência.

               Será desejar muito? 



(Fontes:  Edward Saïd, O  Globo)

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