quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Espiritismo no Planalto ?

                                  

       Existem na literatura espírita no Brasil muitas estórias acerca de defuntos que, ou não se deram conta do passamento, ou de alguma forma não prestaram atenção à circunstância de terem partido.

        Mais cedo, ou mais tarde eles caem na real, mas não é incomum, segundo dizem as autoridades nesta questão, que a coisa possa consumir mais tempo do que o usual.

        Recordo-me, a propósito, de antigo chefe meu que nos deixou em fim de semana. E não é que na segunda-feira, amiga nossa, que tinha dons mediúnicos, não lhe viu o espectro, envergando o terno cinza acostumado, rumando para o trabalho, e imaginando levar debaixo do braço a pastinha com as tarefas da jornada?  Segundo nos disse Laura - e aqui mudo o nome - o elemental exalava o ar compenetrado de sempre, como quem não sabe que já passara para a irrelevância dos mortos, só que com a agravante de que está destinado a pairar entre os vivos, sem ainda saber que desencarnara na véspera.                       

       Assaltará o leitor a suspeita de que esteja, de alguma forma, aludindo a um fenômeno de nossos dias.

       Há uma personalidade que tem consumido muito tempo da mídia - e até passeatas daquelas "espontâneas", organizadas pelas Cut da vida, em defesa de um mandato que na verdade jaz em um catre malcuidado de hospital público, sob a olímpica indiferença da enfermagem - e, que, na verdade, apresenta muitos traços do imaginário retrato acima descrito (o qual, por ser incorpóreo, se conserva à maravilha).   

      Se a Presidenta Dilma Rousseff já é um particular da crônica do Palácio do Planalto - que. a seu tempo, foi empregado por aqueles que se julgavam mais próximos e pensavam assim agradá-la -  o que dizer do papel da Presidente Dilma, que, em má-hora,  foi reeleita ? Até um cortesão seu, o que antes se chamava puxa-saco, reconhecerá que teria sido melhor para a candidata da algibeira de Lula que tivesse ficado no quadriênio inicial.

       Muitos dos males que apareceram no periodo subsequente, ficariam a cargo do infeliz sucessor, fosse ele quem fosse.

       É por isso talvez que Dilma sinta tanta dificuldade em admitir que o seu tempo passou.

       Vejam, senhores passageiros, o episódio Joaquim Levy. Ele foi escolhido para salvá-la, para reencaminhá-la ao  bom caminho, mas a experiência mostra que Dilma não é suscetível de salvação pela simples razão de que o seu governo... já era.

        Quero crer que a nossa única Presidente até hoje configura um caso extremo de entrega ao erro e sobretudo nas contas.

        Joaquim Levy é decerto um grande funcionário-de-estado, e nessa condição ele sente dificuldade extrema em reconhecer na sua Chefe um exemplo de político que não admite a possibilidade de ser curada dos males da crônica incompetência e, sobretudo, da incapacidade - que não seria assim tão difícil se ela tivesse queda para a economia - de gerir um país que antes dela até chegou a ser a sexta-economia do planeta.

          A palavra impeachment está em todas as bocas, e as projeções do futuro da atual entourage do Palácio do Planalto serão extrema e penosamente curtas, dado o acúmulo de asneiras e incompetências tout court no que a pupila do nosso ex-grande líder parece merecer a palma.

          A CUT pode organizar as passeatas que quiser. Esse tipo de manifestação burocrática em geral dá nas pessoas vivinhas da silva dores no estômago, porque a ordem unida sindical não tem o viço, nem a espontaneidade das caminhadas populares, que são imantadas por outras forças que nada têm a ver com exercícios burocráticos.

         No que tange à dona Dilma, seria bom que alguém do seu entorno reunisse a necessária coragem para dizer-lhe que chegou a hora de reconhecer que o seu governo acabou.

         Já nos assolam suficientes males para que nos lembremos do tempo da sua triste permanência.  Agora seria bom que alguém lhe dissesse, com as mesuras e os cuidados devidos, que o seu tempo já passou, e seria muito melhor que a senhora renunciasse, para que alguém possa ocupar-se dos assuntos de Estado, os quais, pesa-me dizê-lo - e aqui penso sobretudo nos sofrimentos causados pelas suas boas intenções e desastrosos resultados - que quanto mais cedo fôr, melhor será.

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )

Nenhum comentário: