Existem na literatura espírita no Brasil
muitas estórias acerca de defuntos que, ou não se deram conta do passamento, ou
de alguma forma não prestaram atenção à circunstância de terem partido.
Mais cedo, ou mais tarde eles caem na
real, mas não é incomum, segundo dizem as autoridades nesta questão, que a
coisa possa consumir mais tempo do que o usual.
Recordo-me, a propósito, de antigo
chefe meu que nos deixou em fim de semana. E não é que na segunda-feira, amiga nossa,
que tinha dons mediúnicos, não lhe viu o espectro, envergando o terno cinza
acostumado, rumando para o trabalho, e imaginando levar debaixo do braço a
pastinha com as tarefas da jornada? Segundo nos disse Laura - e aqui mudo o nome -
o elemental exalava o ar compenetrado de sempre, como quem não sabe que já
passara para a irrelevância dos mortos, só que com a agravante de que está
destinado a pairar entre os vivos, sem ainda saber que desencarnara na véspera.
Assaltará o leitor a suspeita de que
esteja, de alguma forma, aludindo a um fenômeno de nossos dias.
Há uma personalidade que tem consumido
muito tempo da mídia - e até passeatas daquelas "espontâneas",
organizadas pelas Cut da vida, em defesa de um mandato que na verdade jaz em um
catre malcuidado de hospital público, sob a olímpica indiferença da enfermagem
- e, que, na verdade, apresenta muitos traços do imaginário retrato acima
descrito (o qual, por ser incorpóreo, se conserva à maravilha).
Se
a Presidenta Dilma Rousseff já é um
particular da crônica do Palácio do Planalto - que. a seu tempo, foi empregado
por aqueles que se julgavam mais próximos e pensavam assim agradá-la - o que dizer do papel da Presidente Dilma, que,
em má-hora, foi reeleita ? Até um
cortesão seu, o que antes se chamava puxa-saco, reconhecerá que teria sido
melhor para a candidata da algibeira de Lula que tivesse ficado no quadriênio
inicial.
Muitos dos males que apareceram no
periodo subsequente, ficariam a cargo do infeliz sucessor, fosse ele quem
fosse.
É por isso talvez que Dilma sinta tanta
dificuldade em admitir que o seu tempo passou.
Vejam, senhores passageiros, o episódio
Joaquim Levy. Ele foi escolhido para salvá-la, para reencaminhá-la ao bom caminho, mas a experiência mostra que
Dilma não é suscetível de salvação pela simples razão de que o seu governo...
já era.
Quero crer que a nossa única Presidente até
hoje configura um caso extremo de entrega ao erro e sobretudo nas contas.
Joaquim Levy é decerto um grande
funcionário-de-estado, e nessa condição ele sente dificuldade extrema em
reconhecer na sua Chefe um exemplo de político que não admite a possibilidade
de ser curada dos males da crônica incompetência e, sobretudo, da incapacidade
- que não seria assim tão difícil se ela tivesse queda para a economia - de
gerir um país que antes dela até chegou a ser a sexta-economia do planeta.
A palavra impeachment está em todas as bocas, e as projeções do futuro da
atual entourage do Palácio do Planalto serão extrema e penosamente curtas, dado
o acúmulo de asneiras e incompetências tout court no que a pupila do nosso
ex-grande líder parece merecer a palma.
A CUT pode organizar as passeatas que
quiser. Esse tipo de manifestação burocrática em geral dá nas pessoas vivinhas
da silva dores no estômago, porque a ordem unida sindical não tem o viço, nem a
espontaneidade das caminhadas populares, que são imantadas por outras forças
que nada têm a ver com exercícios burocráticos.
No que tange à dona Dilma, seria bom
que alguém do seu entorno reunisse a necessária coragem para dizer-lhe que
chegou a hora de reconhecer que o seu governo acabou.
Já nos assolam suficientes males para
que nos lembremos do tempo da sua triste permanência. Agora seria bom que alguém lhe dissesse, com
as mesuras e os cuidados devidos, que o seu tempo já passou, e seria muito
melhor que a senhora renunciasse, para que alguém possa ocupar-se dos assuntos
de Estado, os quais, pesa-me dizê-lo - e aqui penso sobretudo nos sofrimentos
causados pelas suas boas intenções e desastrosos resultados - que quanto mais
cedo fôr, melhor será.
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo )
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