Na verdade, desde o onze de
setembro de 2001, quando o impensável magno-atentado terrorista acontece, o
americano-médio perde aquela olímpica segurança que a Fortaleza América lhe
conferia.
Participara e
crescera com as duas Grandes Guerras do século XX, mas a despeito de seus
aliados europeus, os Estados Unidos, com exceção do ataque de Pearl Harbour
(situado, em verdade, em posição no Pacífico bem mais exposta a ataque
nipônico), não sofreria perdas nem vítimas no continente americano.
A insana
investida planejada por Osama bin Laden
- que já repousa no Oceano Índico - surpreendeu o americano comum e seu Presidente George W. Bush Júnior que teria gravada a própria
desarmada perplexidade, enquanto acompanhava incôngrua aula de classe
elementar.
O inaudito
resultado do onze de setembro se deve em boa parte à insana rivalidade de dois
serviços da Superpotência, o FBI e a CIA, que se digladiavam em luta intestina,
esquecidos de que eram tão só rivais corporativos e que o inimigo já estava em
solo americano, e era para ele que deveriam voltar a atenção e a ação
preventiva. A esse respeito, muito já foi dito pelo livro de Lawrence Wright,
The Looming Tower (A Torre Soprepairante
- Al Qaeda e a estrada para o onze de setembro).
Pode-se acusar
o pré-candidato republicano Donald Trump de muitas coisas, a começar por ser um
demagogo. Seria interessante, no entanto, que a grande imprensa tivesse
presente a origem helênica dessa palavra pejorativa. Demagogo é quem sabe conduzir o povo. Sem
entrar, portanto, na conotação negativa desse adjetivo, não se deveria esquecer
que não falta a Trump a percepção de o que teme o americano médio.
Lançou-se na
pré-campanha com o seu discurso contra o imigrante ilegal, personificado pelo
vizinho mexicano, e a proposta de uma espécie de muralha na fronteira sul.
Quer se queira
ou não, com essa proposta Trump lançou a própria candidatura, e marcou a
respectiva diferença do resto dos pré-candidatos republicanos, marcados pela
falta de originalidade ou por excesso de mediocridade.
Dessarte, a
sua abstrusa sugestão de proibir o ingresso nos Estados Unidos de islamitas,
logo após o atentado por um jovem casal muçulmano contra um centro em San Bernardino
para a Paternidade Planejada, provocou um jorro de protestos de americanos
bem-pensantes.
Sem embargo,
a reação da América profunda não estaria aí, mas em um novo pulo nas
preferências do eleitor comum por Donald Trump, empurrado uma vez mais para a
vanguarda entre os pré-candidatos do GOP.
Trump sente a
inquietude do americano comum com a ameaça do Islam. Morto Osama, surge o
desafio espectral de um Califado, que, por cortesia da fraqueza de Bashar
al-Assad, o ditador sírio, recortou um espaço no norte da Síria, com al-Raqqa
como capital.
Somente agora
os Estados Unidos encontraram nos curdos um rival à altura para as tropas do
E.I. Há muitas interrogações no capítulo, a começar pela atração que exerce
sobre determinada juventude a bandeira do movimento do auto-denominado Califa
al-Baghdadi. Acorrem recrutas para o
Exército Islâmico do Reino Unido, da França, da Alemanha e de muitas outras
terras, e a perplexidade do Ocidente com gente que não teme a morte (V. o autossacrifício
dos bárbaros atacantes ao Bataclan)
pode criar sensação de desassossego nos seus adversários ocidentais.
Ainda é cedo
para determinar se o ISIS é movimento efêmero, que tem no próprio radicalismo e
nos muitos inimigos que vai criando a raiz de sua inexorável perdição, ou se
instrumentalizando o desgoverno da Síria (de que muitos se aproveitam, a
começar por Vladimir Putin, criando uma base aeronaval na costa síria
mediterrânea) descobrirá meios e modos de manter a própria capacidade de
incomodar, a exemplo de o que ocorre com
o desgoverno da Líbia, após a liquidação de Muamar Kaddafi, em que o governo
legal é fraco e pululam os núcleos terroristas.
Não me animaria
a prever como se constituirão as duas chapas americanas para a eleição do próximo ano. O mais provável seria que Hillary Clinton, com toda a sua experiência, se apresente pelos
Democratas, como a primeira mulher a
concorrer para a Casa Branca. Já do lado do GOP, que tal se considerássemos o novato Donald Trump, como o candidato republicano? Como todo demagogo, não
lhe falta sensibilidade para expressar o que o Povo deseja de candidato à
Presidência, nesta hora de interrogações para a ainda Superpotência. Por outro
lado, tem a ajudá-lo uma sólida, compacta mesmo, mediocridade do restante do
campo do Partido Republicano.
( Fontes: The Looming Tower, The New York
Times, O Globo, Folha de S.Paulo )
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