sábado, 12 de dezembro de 2015

Trump e a Angústia Americana


                                  
        Na verdade, desde o onze de setembro de 2001, quando o impensável magno-atentado terrorista acontece, o americano-médio perde aquela olímpica segurança que a Fortaleza América lhe conferia.

        Participara e crescera com as duas Grandes Guerras do século XX, mas a despeito de seus aliados europeus, os Estados Unidos, com exceção do ataque de Pearl Harbour (situado, em verdade, em posição no Pacífico bem mais exposta a ataque nipônico), não sofreria perdas nem vítimas no continente americano.

        A insana investida planejada por Osama bin Laden - que já repousa no Oceano Índico - surpreendeu o americano comum e seu  Presidente George W. Bush Júnior que teria gravada a própria desarmada perplexidade, enquanto acompanhava  incôngrua aula de classe elementar.

         O inaudito resultado do onze de setembro se deve em boa parte à insana rivalidade de dois serviços da Superpotência, o FBI e a CIA, que se digladiavam em luta intestina, esquecidos de que eram tão só rivais corporativos e que o inimigo já estava em solo americano, e era para ele que deveriam voltar a atenção e a ação preventiva. A esse respeito, muito já foi dito pelo livro de Lawrence Wright, The Looming  Tower (A Torre Soprepairante - Al Qaeda e a estrada para o onze de setembro).

        Pode-se acusar o pré-candidato republicano Donald Trump de muitas coisas, a começar por ser um demagogo. Seria interessante, no entanto, que a grande imprensa tivesse presente a origem helênica dessa palavra pejorativa.  Demagogo é quem sabe conduzir o povo. Sem entrar, portanto, na conotação negativa desse adjetivo, não se deveria esquecer que não falta a Trump a percepção de o que teme o americano médio.

        Lançou-se na pré-campanha com o seu discurso contra o imigrante ilegal, personificado pelo vizinho mexicano, e a proposta de uma espécie de muralha na fronteira sul.

        Quer se queira ou não, com essa proposta Trump lançou a própria candidatura, e marcou a respectiva diferença do resto dos pré-candidatos republicanos, marcados pela falta de originalidade ou por excesso de mediocridade.

         Dessarte, a sua abstrusa sugestão de proibir o ingresso nos Estados Unidos de islamitas, logo após o atentado por um jovem casal muçulmano contra um centro em San Bernardino para a Paternidade Planejada, provocou um jorro de protestos de americanos bem-pensantes.

         Sem embargo, a reação da América profunda não estaria aí, mas em um novo pulo nas preferências do eleitor comum por Donald Trump, empurrado uma vez mais para a vanguarda entre os pré-candidatos do GOP.

         Trump sente a inquietude do americano comum com a ameaça do Islam. Morto Osama, surge o desafio espectral de um Califado, que, por cortesia da fraqueza de Bashar al-Assad, o ditador sírio, recortou um espaço no norte da Síria, com al-Raqqa como capital.

         Somente agora os Estados Unidos encontraram nos curdos um rival à altura para as tropas do E.I. Há muitas interrogações no capítulo, a começar pela atração que exerce sobre determinada juventude a bandeira do movimento do auto-denominado Califa al-Baghdadi.  Acorrem recrutas para o Exército Islâmico do Reino Unido, da França, da Alemanha e de muitas outras terras, e a perplexidade do Ocidente com gente que não teme a morte (V. o autossacrifício dos bárbaros atacantes ao Bataclan) pode criar sensação de desassossego nos seus adversários ocidentais.

        Ainda é cedo para determinar se o ISIS é movimento efêmero, que tem no próprio radicalismo e nos muitos inimigos que vai criando a raiz de sua inexorável perdição, ou se instrumentalizando o desgoverno da Síria (de que muitos se aproveitam, a começar por Vladimir Putin, criando uma base aeronaval na costa síria mediterrânea) descobrirá meios e modos de manter a própria capacidade de incomodar, a exemplo de o que  ocorre com o desgoverno da Líbia, após a liquidação de Muamar Kaddafi, em que o governo legal é fraco e pululam os núcleos terroristas.

       Não me animaria a prever como se constituirão as duas chapas americanas para a  eleição do próximo ano.  O mais provável seria que Hillary Clinton,  com toda a sua experiência, se apresente pelos Democratas, como a primeira mulher a concorrer para  a Casa Branca.  Já do lado do GOP, que tal se considerássemos o novato Donald Trump, como o candidato republicano? Como todo demagogo, não lhe falta sensibilidade para expressar o que o Povo deseja de candidato à Presidência, nesta hora de interrogações para a ainda Superpotência. Por outro lado, tem a ajudá-lo uma sólida, compacta mesmo, mediocridade do restante do campo do Partido Republicano.

 

( Fontes: The Looming Tower, The New York Times, O Globo, Folha de S.Paulo )  

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