sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

E o fator Dilma ?


                                           
         Embora eu não tenha a menor responsabilidade no surgimento do chamado fator Dilma - votei em Serra em 2010, e em Marina e Aécio, em 2014 - acerca-se a oportunidade em que a criatura de Lula da Silva deve enfrentar o impeachment (cujas condições, se facilitadas pela lamentável sessão do Supremo de 17 de dezembro corrente, ainda não estão configuradas para a Presidenta, porque resta muito por fazer nas ruas). Se a rejeição contra ela continuar crescendo, e a presença nas ruas for ampla, geral, nacional e negativa, não haverá Supremo, nem curul no Senado que lhe salve a Presidência.

         Por que se deve expedir para merecido descanso Dilma Rousseff? Primo, pela circunstância de que os seus dois mandatos têm sido extremamente negativos.

         Dilma encontrou economia consolidada, inflação sob controle, e o Real apreciado.

         Em cerca de um ano, ela nos trouxe de volta a inflação, e como impediu o Banco Central de elevar a taxa de juros para controlar o aquecimento da economia - que ela provocara - o controle inflacionário não funcionaria, sempre superando a meta que a economia se prefixara.

          Por outro lado, pela sua orientação de estimular a economia pelo consumo, foi diminuído o imposto sobre a indústria automobilística. No entanto, as quantias subtraídas (desonerações fiscais) ao Tesouro não foram repostas pelo aumento da procura, e começaram a sobrevir deficits nas receitas.

         A fortiori,  com a inflação firmada em taxas que sempre superaram os parâmetros oficiais, e com  série de desrespeitos à Lei de responsabilidade fiscal.

         Para contornar essas novas frentes, com a inflação em aumento, a incapacidade do Tesouro de cumprir as metas do superavit fiscal, a maneira com o que o Secretário do Tesouro, Arno Augustin, e o próprio Ministro da Fazenda, Guido Mantega, encontraram para lidar com esse problema foi através de uma série de truques fiscais, que incluíram a chamada contabilidade criativa, o recurso aos restos a pagar, a inserção de bancos públicos que entraram nas contas do Tesouro como seus financiadores temporários, e até instrumentos há muito abandonados pela autoridade fiscal, como a chamada conta movimento, a que se recorria na época da inflação, ao lado então dos diversos planos heterodoxos, que tampouco nunca tiveram êxito contra o dragão.

             Dentre esses peculiares mecanismos que visavam a enganar as autoridades controladoras, estão as ditas pedaladas fiscais, pelas quais o governo Dilma Rousseff foi condenado pelo Tribunal de Contas da União, através de um juízo em que o governo se empenhou de todo modo para impedir que as autoridades controladoras e os peritos formassem sólidas conclusões com juízo negativo. Malgrado a concessão de prazos e a sua extensão, o que os mecanismos empregados pelos serviços a ela subordinados acabaram por convencer as instâncias competentes de seus intentos de mascarar a realidade. A pressão foi a tal ponto que ao cabo todos os juízes do TCU além do relator chegaram a unânime sentença  condenatória quanto a tais práticas de fraudar a Lei da Responsabilidade Fiscal  por Dilma Rousseff e seu governo.

            De resto, foram estas pedaladas fiscais que deram a base jurídica para a petição de que o Dr. Hélio Bicudo foi o primeiro signatário e que acabou sendo aceita pelo Presidente da Câmara de Deputados, Deputado Eduardo Cunha.

            Para reeleger-se a um segundo mandato, com o apoio do PT, e dos fundos, muitos dos quais ilegais, com vem sendo verificado pela Operação Lava-Jato, e o trabalho sério do Juiz Sérgio Moro, em Curitiba, as ilegalidades e operações fraudulentas dos diversos esquemas montados na Petrobrás, e revelados em juízo, inclusive pelo instituto da delação premiada, Dilma Rousseff, além de mentir descaradamente nos debates que precederam a sua eleição, inconscientemente constituiu a base da sua histórica impopularidade (com cerca de 9% de juízos favoráveis, e por conseguinte uma brutal rejeição do Povo brasileiro). Nenhum governante brasileiro enfrentou uma tal reação popular, que se manifestou em período bastante curto, tanto que nas primeiras pesquisas de 2015 a sua rejeição se acercava do total de um dígito, o que se comprovaria nas consultas subsequentes.

             As negociatas do PT, o início pela Lava-Jato de um novo ciclo de prisões, de início os diretores e chefes das empreiteiras que montaram rede de fraudes e propinas às custas da Petrobrás, e mais adiante os operadores do PT do petrolão, com a meritória atuação do juiz Sérgio Moro, o atraso no balanço da Petrobrás, tudo isso ensejou péssima atmosfera para o início do segundo governo de Dilma Rousseff.

              Falharia igualmente a sua principal estrela no Ministério da Fazenda, com o técnico Joaquim Levy. Em poucos meses, a grande promessa de novo governo, que cuidasse adequadamente das respectivas finanças, iria sofrer uma sucessão de tropeços legislativos, pela incapacidade de Dilma de traduzir em apoio efetivo na Câmara e no Senado a formação de ampla maioria parlamentar, que a sua inabilidade política, além de reduzida experiência neste campo, contribuiria para uma série de derrotas com o chamado Ajuste Fiscal. Levy, por outro lado, começaria a ter diretivas voltadas para a recuperação fiscal contrariadas por Dilma, quando, por exemplo, ela determinou ao Ministro do Planejamento, de forma pública, que o salário mínimo continuasse a ser reajustado com os critérios na prática inflacionários por ela introduzidos no Dilma I.

               Desse modo, quebrou a equipe Levy - Nelson Barbosa, eis que este se deu conta de que Dilma tinha planos próprios para a economia, e que Joaquim não era o czar da economia e das finanças, como a princípio fora a impressão.

               Mais tarde, haveria o episódio constrangedor da proposta de orçamento para 2016, que foi apresentado com substancial déficit.  O Ministro Levy fora mais uma vez voto vencido, e já naquela época se desfazia o mito do ministro plenipotenciário em matéria de finanças.

                Como na anedota do escorpião que se servia de outro animal para atravessar um rio e a meio da corrente tenha cedido ao próprio impulso e mordido quem lhe transportava para a outra margem, ficava evidente a impossibilidade de Dilma Rousseff submeter-se a regras ortodoxas em economia, mesmo que agindo de tal maneira condenasse a própria gestão.

                 Joaquim Levy - e colunistas econômicos, como Miriam Leitão, julgam que ele esperou demasiado - comprova que Dilma não tem condições de realizar política séria de reajuste econômico-financeiro, dada a sua confusa visão de o que deva ser a melhor política na matéria.

                 Vemos pelos seus resultados, o caráter desastroso desta política. Ela decerto repetiria, na sua confusa visão econômica, os erros e as impropriedades do primeiro mandato, com que ela destruiu a nossa base econômico-financeira, preparou a perda do grau de investimento pelas agências de avaliação de risco (falta apenas uma, a Moody's, para fechar este caixão), o que é mais um empecilho para o nosso desenvolvimento, ao entrar no grau de risco, o que vai nos tirar muitas inversões.

                   A desvalorização do Real perante o dólar continua, com graves reflexos nas dívidas contraídas pelas empresas brasileiras, a começar pela própria Petrobrás.

                    Com a inflação que hoje persiste, depois do êxito do Plano Real, se vive no Brasil em um mundo peculiar, que é típico de país hoje decaído. Tudo o que conseguíramos aparece agora envolto em névoas passadas, como se uma velha teoria que professava o mestre Rodrigues Valle (catedrático de Economia Política, da Faculdade Nacional de Direito, nos anos cinquenta) - tudo recapitula fases já percorridas - não fosse um seu capricho, mas sim a cruel realidade, que devemos agradecer a Lula da Silva, que julgara oportuno elegê-la presidente (bem ao feitio dos coronéis do Nordeste de onde saíu em pau de arara), assim como lamentar que nessa eleição um candidato como José Serra, com o seu preparo e postos assumidos na administração municipal e estadual de São Paulo, isto é, Prefeito e Governador, e em Brasília, por indicação de FHC, o melhor Ministro da Saúde que tivemos (apesar de não ser médico) tenha sido derrotado pela inexperiente candidata Dilma, recomendada às multidões do Brasil por coronel federal, como Lula da Silva. Há eleições que definem um país e seu verdadeiro nível cultural.

                       A maneira irresponsável com que a Rousseff trouxe a inflação de volta corresponde a erro de tal monta que para ele não há perdão. Vivemos sob Constituição que havia sido elaborada para regime parlamentarista.  No Império, sob o Poder Moderador de Pedro II, o Brasil foi considerado uma república, dada a liberdade e a democracia então observadas. Nesse sentido, já citei a frase de estadista argentino que ao saber da quartelada de novembro, lamentou a perda da única república na América do Sul.    

                        Dados os critérios de Dante Alighieri, o gênio poético da língua italiana no Medievo, tenho minhas dúvidas que o grande florentino colocaria a nossa Presidenta no Inferno, se fossem acaso contemporâneos. Como se sabe, as almas que para essa estação maldita destinara na sua imortal Commedia, se tinham alguma pecha não era a da mediocridade. Nesse sentido, o professor Justin Steinberg publicou recentemente "Dante e os Limites da Lei", livro editado pela Universidade de Chicago.

                        A tese de Steinberg é que a obra de Dante se pauta pelos limites da Lei, e ela se resume nos conceitos de Infâmia (abaixo da Lei), Arbítrio (além da Lei), Privilégio (acima da Lei), e Pacto (ao lado da Lei).

                         E ao fazer esse excurso, bem à maneira de meu saudoso Amigo Pedro Neves da Rocha, me pergunto se a Companhia das Letras não se disporia a trazer para Pindorama a tradução dessa obra de Steinberg. Tenha-se presente, no caso, que o autor ao falar do livro de Dante Alighieri, o faz no pressuposto de que obras primas serão sempre nossas contemporâneas.

                         É hora de concluir. A meia-salvação de Dilma pelo Supremo, ignorando em má-hora o primoroso parecer do Ministro Edson Fachin, faço votos que não seja o fim do impeachment, entregue às mãos dos líderes desse Congresso pela maioria da atual Corte de Ricardo Lewandowski.

                        Além de trazer-nos de volta a inflação e desfazer-se do Plano Real - que pensou cousa de Tucano e não do Povo brasileiro - cumpre ocuparmo-nos de várias outras conquistas de Dilma Rousseff. Além dos déficits no orçamento, da recessão com seu desemprego, e até da ameaça de depressão, o que mais ela pode nos aprontar? Uma economista conhecida sugere: retomar, com o pires na mão, as nossas missões ao FMI...

                           Já imaginaram? E olhem que pelas suas realizações não é assim tão difícil: fim não é anagrama de fmi ?

 

( Fontes:  TV Justiça, O Globo, La Commedia, de Dante Alighieri, Dante & the Limits of the Law, de Justin Steinberg )

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