Está sendo anunciado como se fora grande conquista,
com os clarins dos antigos filmes da Metro Goldwyn Mayer, que Estados Unidos e
Federação Russa acordaram um chamado mapa do caminho (road map) para o processo
político.
Como se sabe, o road map na linguagem
diplomática reflete a concordância das partes (no caso, Mr. John Kerry e Sergei
V. Lavrov) quanto às metas a serem cumpridas.
É bem verdade que metas importantes,
que fundamentam a continuação da luta por muitos grupos e países nessa guerra
civil que se estende há cinco anos, não foram atendidas por ora, como a
garantia da partida da causa principal do conflito, o ditador Bashar al-Assad.
A resolução, aprovada por unanimidade,
além de prever por primeira vez o referido road map, dá ao Conselho de Segurança a oportunidade de
aprovar uma possível solução política.
No entanto, há vários obstáculos para
o acordo diplomático: que grupos rebeldes participarão das negociações (a
começarem em janeiro próximo); concordarão em participar do exercício mesmo sem
uma garantia da saída do ditador Assad?
Outro empecilho para o início das
negociações será determinar quais grupos são considerados terroristas (e, por
conseguinte, afastados da mesa), como o al-Nusra (afiliado ao Al-Qaida) e o
Estado Islâmico (ISIS).
Além de Estados Unidos e Rússia,
estão incluídos, entre outros, o Irã, a Arábia Saudita, Turquia, a União
Europeia e a Liga Árabe. Os dois principais interesses estão na cessação da
crise dos refugiados (a maior desde a segunda guerra mundial) e a solução da
ameaça colocada pelo Estado Islâmico.
O papel a ser exercido pelo
causador da guerra, Bashar al-Assad, na solução desse conflito ainda está por
determinar.
Não é vão lembrar que a
circunstância de que o afastamento definitivo do ditador foi omitida por ora.
As etapas do road map: cessar-fogo em janeiro de 2016; negociações (talks)
entre o Governo sírio e as partes da oposição, mediadas pelas Nações Unidas;
eleições em 18 meses.
O principal ponto em suspenso é o
que fazer de Bashar. Parece um tanto estranho que Putin o mantenha na mesa, e
restaria determinar se seria admissível um acordo das partes que admitisse como
interlocutor também ao ditador sírio.
Como será a Síria do pós-acordo?
A resolução aprovada prevê uma Síria "unificada, pluralista, não-sectária
e não-dividida".
O fato de Putin e seu hábil
Ministro dos Negócios Estrangeiros agora favorecerem acordo, inclusive com mapa do caminho, não quer dizer
necessariamente que estejam dispostos a inscrevê-lo em mármore ático. Gospodin
Putin já saíu de muito acordo, que a seu ver teria servido os propósitos que
ele lhes conferia, que serão aqueles de resolver uma dificuldade própria, que
muita vez pouco tem a ver com a solução da questão.
Há dois grandes obstáculos para
a paz na Síria: (a) quais são os planos para desmantelar o Estado Islâmico?
Bombardeios aéreos são destruidores, mas não criam condições para o desmantelamento
completo da estrutura do E.I.; (b) manter al-Assad como fator atuante na
Síria - e vejam que sequer menciono a sua manutenção no governo sírio, ou em rump-state[1]
sírio -é manter a causa da guerra na Síria. Não se chega à paz de forma declaratória,
mas através da anulação dos fatores que lhe são contrários, i.e. a sobrevida do
E.I. e a presença no Governo de Bashar al-Assad.
( Fonte: The New York Times )
[1] Rump State - estado de que resta uma parte (troço), com a
implicação de que está descaracterizado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário