sábado, 19 de dezembro de 2015

Síria: vale o mapa do caminho?


                                

        Está sendo anunciado como se fora grande conquista, com os clarins dos antigos filmes da Metro Goldwyn Mayer, que Estados Unidos e Federação Russa acordaram um chamado mapa do caminho (road map) para o processo político.

        Como se sabe, o road map na linguagem diplomática reflete a concordância das partes (no caso, Mr. John Kerry e Sergei V. Lavrov) quanto às metas a serem cumpridas.

        É bem verdade que metas importantes, que fundamentam a continuação da luta por muitos grupos e países nessa guerra civil que se estende há cinco anos, não foram atendidas por ora, como a garantia da partida da causa principal do conflito, o ditador Bashar al-Assad.

        A resolução, aprovada por unanimidade, além de prever por primeira vez o referido road map,  dá ao Conselho de Segurança a oportunidade de aprovar uma possível solução política.

         No entanto, há vários obstáculos para o acordo diplomático: que grupos rebeldes participarão das negociações (a começarem em janeiro próximo); concordarão em participar do exercício mesmo sem uma garantia da saída do ditador Assad?

          Outro empecilho para o início das negociações será determinar quais grupos são considerados terroristas (e, por conseguinte, afastados da mesa), como o al-Nusra (afiliado ao Al-Qaida) e o Estado Islâmico (ISIS).

          Além de Estados Unidos e Rússia, estão incluídos, entre outros, o Irã, a Arábia Saudita, Turquia, a União Europeia e a Liga Árabe. Os dois principais interesses estão na cessação da crise dos refugiados (a maior desde a segunda guerra mundial) e a solução da ameaça colocada pelo Estado Islâmico.

            O papel a ser exercido pelo causador da guerra, Bashar al-Assad, na solução desse conflito ainda está por determinar.

            Não é vão lembrar que a circunstância de que o afastamento definitivo do ditador foi omitida por ora. As etapas do road map: cessar-fogo em janeiro de 2016; negociações (talks) entre o Governo sírio e as partes da oposição, mediadas pelas Nações Unidas; eleições em 18 meses.

            O principal ponto em suspenso é o que fazer de Bashar. Parece um tanto estranho que Putin o mantenha na mesa, e restaria determinar se seria admissível um acordo das partes que admitisse como interlocutor também ao ditador sírio.

              Como será a Síria do pós-acordo? A resolução aprovada prevê uma Síria "unificada, pluralista, não-sectária e não-dividida".

               O fato de Putin e seu hábil Ministro dos Negócios Estrangeiros agora favorecerem  acordo, inclusive com mapa do caminho, não quer dizer necessariamente que estejam dispostos a inscrevê-lo em mármore ático. Gospodin Putin já saíu de muito acordo, que a seu ver teria servido os propósitos que ele lhes conferia, que serão aqueles de resolver uma dificuldade própria, que muita vez pouco tem a ver com a solução da questão.

                Há dois grandes obstáculos para a paz na Síria: (a) quais são os planos para desmantelar o Estado Islâmico? Bombardeios aéreos são destruidores, mas não criam condições para o desmantelamento completo da estrutura do E.I.; (b) manter al-Assad como  fator atuante na Síria - e vejam que sequer menciono a sua manutenção no governo sírio, ou em rump-state[1] sírio -é manter a causa da guerra na Síria. Não se chega à paz de forma declaratória, mas através da anulação dos fatores que lhe são contrários, i.e. a sobrevida do E.I. e a presença no Governo de Bashar al-Assad.

 

( Fonte:  The New York Times )   




[1] Rump State - estado de que resta uma parte (troço), com a implicação de que está descaracterizado.

Nenhum comentário: