segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A Pedra no Caminho


                                          

         É difícil abandonar velhos companheiros e mais ainda velhos fetiches. O artigo de Vladimir Safatle, publicado na Folha de onze de dezembro corrente, é exemplo da melhor safra dessa teimosa produção.

        Antes que o lesse, já tinha recebido bilhetes, que poderiam resumir na mensagem, não tão críptica, em que o(a) signatário(a) me diz "gostei do artigo 'O Estado Oligárquico de Direito' ".

        Conhecendo a produção do autor, e  sua orientação, mais ou menos já previa o teor e a orientação da respectiva matéria. Sem embargo, como tantos se agarraram a esse tronco que lhes passava à frente, no lento fluxo dos jornais de fim de semana, me dispus a lê-lo obedecendo àqueles que pressurosa e animadamente m'o recomendavam.

       O PT e as suas forças auxiliares continuam a evidenciar uma postura esquizofrênica diante da realidade.

       Será algum dia possível abandonar essa postura? As palavras do procurador Welch, que desmistificou o demagogo Joe McCarthy, no enésimo e felizmente último espetáculo sob encomenda daquele que tinha sido o carrasco da política americana (toda aquela que não fosse de extrema direita) -"O Senhor acaso não tem nenhuma vergonha?" - as pronunciava decerto já tarde naquele drama que acabara com a vida política de muitos americanos, que caíram vítima da praga do maccartismo, muitos dos quais irremediavelmente, diante do silente conluio das cúmplices maiorias do medo e do preconceito.

         Por fim, surge alguém, com coragem, destemor e personalidade, para lacerar a tumefação política da vez. O inimigo - é bom não esquecer - será sempre aquele que professa ideias ou posições que parecem desconfortáveis, porque minoritárias. Os demagogos são camaleões - não importa de que posição - desde que sejam bons de gogó e não tenham preconceitos quanto a abandonar companheiros pelo caminho, nem abraçar personagens que antes diziam abominar.

        É  receita decerto amoral e a-ética. Dentro da sua esquizofrenia - que fornece a palavra de ordem para os seus seguidores - não há discussão entre os companheiros quanto às mudanças de ênfase, aos eventuais desconfortáveis aliados, e à cara de pau que não é tanto produto do possibilismo desenfreado, mas de escolha meticulosa dos aliados e das palavras-de-ordem da vez.

        Os antigos aliados do PT e de seu grande líder, o dirigente sindical Lula da Silva, depois do longo parêntese de FHC (sem falar no caçador de marajás, e até no discreto e sisudo Itamar Franco), chegaram com estrondo em 2002, como salvadores da Pátria.

       Quem ler o escorreito artigo de Safatle há de procurar em vão por alguma menção dos eventuais erros do PT. Tudo são tramas da direita. Notaram que nem a origem das passeatas de 2013, que estouraram em junho, é atribuída aos estudantes. Eles só reentrarão em cena com a referência aos recentes movimentos na Paulistéia contra a desajeitada reforma das escolas de Alckmin...

       Porque dentro da técnica do polemista lulista e petista, como é exemplo no esquerdismo chapa-branca do PCdoB, que é parasita assumido do PT (e tem ainda sucesso pois consegue impingir ao Senado Edson Fachin, que já põe as manguinhas de fora), toda boa causa nasce do Partido dos Trabalhadores e de seus afiliados, dentro do velho modelo mexicano do PRI, que cuidava de ter três ou quatro partidecos sucursóides.

        Por que tenho caros amigos e pessoas queridas que ao ler o pomposo "O Estado Oligárquico de Direito" que suspiram fundo e vem me dizer que gostaram do artigo de Safatle ?

        Pudera se não gostassem! É bom ouvir estórias e contos cor de rosa sobre uma realidade amarga e impudente.

        Como explicar o alegado envolvimento de Lula da Silva com o Mensalão e agora o Petrolão?  Se não é verdade, porque tanto o atenaza o Juiz Sérgio Moro e a nossa Operação Mãos limpas que é a Lava-Jato e os seus filhotes (Zelotes), a linda série de Tesoureiros do PT na cadeia, Zé Dirceu (aquele que ao despedir-se em 2005 do Palácio do Planalto, declarou "No meu Governo"...).

         E como se explicam as assembleias do Partido dos Trabalhadores realizadas a portas fechadas, e os cochichos dos namorados do poder - Lula e Dilma!- sempre protegidos por encabulados, pundonorosos dedos, a cobrir-lhes os delicados lábios?

         As injustiças contra Dilma... Não vi palavra petista que se tenha levantado contra as barbaridades e truques encomendados para silenciar o maior temor da turba petista, que não é outra senão os delenda Marina Silva (nortista, honesta, esquerdista e carismática!).

         Teríamos sido poupados de mais um governo patético de Dilma - com os seus inchados e corruptos ministérios - se tivessem deixado Marina ir para o segundo turno... Todo o segredo esteve aí. Apesar da fortuna encarniçada - a negação da Rede por primeira vez, enquanto se aprovavam partidos com signatários mortos,  a proibição de tempo de resposta de Marina pelo TSE e por aí afora - a grande aliança carregou Dilma e suas mentiras de volta ao Planalto?  Para quê, senhor Safatle?  Para que Dilma se salpicasse com o Petrolâo (dez anos ou mais no Conselho de Administração da Petrobrás, e vejam só, nada, nada sabia... Nem o Cerveró, com que ela discutiu sobre a enferrujadinha Pasadena, a Rousseff sequer conhecia!..).

         E apesar de todos os preconceitos contra o Povão, se nós prestemos atenção, veremos que ele sempre sabe mais... Os piores índices da economia brasileira, nós vamos encontrá-los em dois períodos: na entrada triunfal de Lula, com o repique da inflação, os temores sobre o Plano Real, de um lado, e agora, que estamos no segundo desgoverno de Dilma Rousseff, e assistimos ao desfazimento da própria Administração, vítima da incompetência irremediável da grande líder e  de sua enorme liderança...

        Que grande conspiração é essa?  Será a conjunção da esquerda sem rumo, e incapaz de reconhecer os próprios erros - e que erros, esses! - do grande comandante e de sua criatura, que empulhou ao Brasil, bem ao modo dos coronéis do Nordeste de onde saíu...

 

( Fonte: artigo "O Estado Oligárquico de Direito" de Vladimir Safatle )    

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