É difícil
abandonar velhos companheiros e mais ainda velhos fetiches. O artigo de Vladimir
Safatle, publicado na Folha
de onze de dezembro corrente, é exemplo da melhor safra dessa teimosa produção.
Antes que o lesse, já tinha recebido
bilhetes, que poderiam resumir na mensagem, não tão críptica, em que o(a)
signatário(a) me diz "gostei do artigo 'O Estado Oligárquico de Direito'
".
Conhecendo a
produção do autor, e sua orientação, mais
ou menos já previa o teor e a orientação da respectiva matéria. Sem embargo,
como tantos se agarraram a esse tronco que lhes passava à frente, no lento
fluxo dos jornais de fim de semana, me dispus a lê-lo obedecendo àqueles que
pressurosa e animadamente m'o recomendavam.
O PT e as suas
forças auxiliares continuam a evidenciar uma postura esquizofrênica diante da
realidade.
Será algum dia
possível abandonar essa postura? As palavras do procurador Welch, que desmistificou o demagogo Joe McCarthy, no enésimo
e felizmente último espetáculo sob encomenda daquele que tinha sido o carrasco
da política americana (toda aquela que não fosse de extrema direita) -"O
Senhor acaso não tem nenhuma vergonha?" - as pronunciava decerto já tarde
naquele drama que acabara com a vida política de muitos americanos, que caíram
vítima da praga do maccartismo, muitos dos quais irremediavelmente, diante do
silente conluio das cúmplices maiorias do medo e do preconceito.
Por fim,
surge alguém, com coragem, destemor e personalidade, para lacerar a tumefação
política da vez. O inimigo - é bom não esquecer - será sempre aquele que professa
ideias ou posições que parecem desconfortáveis, porque minoritárias. Os
demagogos são camaleões - não importa de que posição - desde que sejam bons de
gogó e não tenham preconceitos quanto a abandonar companheiros pelo caminho,
nem abraçar personagens que antes diziam abominar.
É receita decerto amoral e a-ética. Dentro da
sua esquizofrenia - que fornece a palavra de ordem para os seus seguidores - não
há discussão entre os companheiros quanto às mudanças de ênfase, aos eventuais
desconfortáveis aliados, e à cara de pau que não é tanto produto do
possibilismo desenfreado, mas de escolha meticulosa dos aliados e das
palavras-de-ordem da vez.
Os antigos
aliados do PT e de seu grande líder, o dirigente sindical Lula da Silva, depois
do longo parêntese de FHC (sem falar no caçador de marajás, e até no discreto e
sisudo Itamar Franco), chegaram com estrondo em 2002, como salvadores da
Pátria.
Quem ler o
escorreito artigo de Safatle há de procurar em vão por alguma menção dos
eventuais erros do PT. Tudo são tramas da direita. Notaram que nem a origem das
passeatas de 2013, que estouraram em junho, é atribuída aos estudantes. Eles só
reentrarão em cena com a referência aos recentes movimentos na Paulistéia
contra a desajeitada reforma das escolas de Alckmin...
Porque dentro
da técnica do polemista lulista e petista, como é exemplo no esquerdismo
chapa-branca do PCdoB, que é parasita assumido do PT (e tem ainda sucesso pois
consegue impingir ao Senado Edson Fachin, que já põe as manguinhas de fora),
toda boa causa nasce do Partido dos Trabalhadores e de seus afiliados, dentro
do velho modelo mexicano do PRI, que cuidava de ter três ou quatro partidecos
sucursóides.
Por que tenho
caros amigos e pessoas queridas que ao ler o pomposo "O Estado Oligárquico
de Direito" que suspiram fundo e vem me dizer que gostaram do artigo de
Safatle ?
Pudera se não
gostassem! É bom ouvir estórias e contos cor de rosa sobre uma realidade amarga
e impudente.
Como explicar
o alegado envolvimento de Lula da Silva com o Mensalão e agora o Petrolão? Se não é verdade, porque tanto o atenaza o Juiz Sérgio
Moro e a nossa Operação Mãos limpas que é a Lava-Jato e os seus filhotes (Zelotes), a linda série de
Tesoureiros do PT na cadeia, Zé Dirceu (aquele que ao despedir-se em 2005 do Palácio do
Planalto, declarou "No meu Governo"...).
E como se
explicam as assembleias do Partido dos Trabalhadores realizadas a portas
fechadas, e os cochichos dos namorados do poder - Lula e Dilma!- sempre
protegidos por encabulados, pundonorosos dedos, a cobrir-lhes os delicados
lábios?
As injustiças
contra Dilma... Não vi palavra petista que se tenha levantado contra as
barbaridades e truques encomendados para silenciar o maior temor da turba
petista, que não é outra senão os delenda Marina Silva (nortista,
honesta, esquerdista e carismática!).
Teríamos sido
poupados de mais um governo patético de Dilma - com os seus inchados e corruptos
ministérios - se tivessem deixado Marina ir para o segundo turno... Todo o
segredo esteve aí. Apesar da fortuna encarniçada - a negação da Rede
por primeira vez, enquanto se aprovavam partidos com signatários mortos, a proibição de tempo de resposta de Marina
pelo TSE e por aí afora - a grande aliança carregou Dilma e suas mentiras de
volta ao Planalto? Para quê, senhor Safatle?
Para que Dilma se salpicasse com o Petrolâo (dez anos ou mais no
Conselho de Administração da Petrobrás, e vejam só, nada, nada sabia... Nem o Cerveró,
com que ela discutiu sobre a enferrujadinha Pasadena, a Rousseff
sequer conhecia!..).
E apesar de
todos os preconceitos contra o Povão, se nós prestemos atenção, veremos que ele
sempre sabe mais... Os piores índices da economia brasileira, nós vamos encontrá-los
em dois períodos: na entrada triunfal de Lula, com o repique da inflação, os
temores sobre o Plano Real, de um lado, e agora, que estamos no segundo
desgoverno de Dilma Rousseff, e assistimos ao desfazimento da própria
Administração, vítima da incompetência irremediável da grande líder e de sua enorme liderança...
Que grande
conspiração é essa? Será a conjunção da
esquerda sem rumo, e incapaz de reconhecer os próprios erros - e que erros,
esses! - do grande comandante e de sua criatura, que empulhou ao Brasil, bem ao
modo dos coronéis do Nordeste de onde saíu...
( Fonte: artigo
"O Estado Oligárquico de Direito" de Vladimir Safatle )
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