O cambalacho entre Dilma e Cunha,
como todo acordo debaixo do pano, não aguentou a pressão da opinião pública. A
sua aparente simplicidade - o PT ajuda Cunha no Comitê de Ética, enquanto Cunha
ajuda Dilma mantendo na gaveta a petição do Dr. Hélio Bicudo - não resistiu à
interveniência inexorável da opinião pública. Como sói acontecer, o problema
estaria nos detalhes.
Como poderiam
os três deputados petistas no Comitê de Ética - que vai votar sobre a falta ao
decoro do Presidente Cunha - prestar-se a tal tipo de arreglo? A pressão da
sociedade e, sobretudo, o caráter imoral desse acerto, que mais se parece à
combinação inconfessável, levou a trinca dos deputados a mudar de parecer,
diante das consequências da concretização de o que mais parecia um cínico
acerto de contas.
Por isso, o
forçado contubérnio se desfez. Menos de cinco horas depois do abandono pelo PT
de sua causa no Conselho de Ética, o presidente da Câmara, Deputado Eduardo
Cunha, veio a público em entrevista sob o usual contorno nos supostos grandes
eventos de jornalistas e microfones para anunciar que aceitara o pedido de
abertura de processo de impeachment
contra a Presidente Dilma Rousseff, 23 anos depois do Congresso analisar e acolher
ação similar contra o Presidente Fernando Collor de Mello.
Na sua
declaração, a Presidenta afirmou que jamais aceitaria barganhas, não obstante a
pressão exercida pelo Palácio do Planalto sobre o PT para que apoiasse Cunha no Conselho de Ética,
em troca da não-aceitação do pedido de impeachment.
No entanto, uma
coisa é a idéia do acordo, por mais antiético que seja, outra é a sua tradução
na realidade. Quando chegou a hora de os três deputados do PT, por menos
proeminentes que fossem, eles não desconheceriam que comprometiam o próprio
currículo (e sua reeleição futura) se se prestassem ao óbvio troca-troca. E foi
então que, reduzido a pessoas que carregariam o acinte, o acordo não resistiu.
Como se
verificou - e Ricardo Noblat assinalou - durou muito pouco o entusiasmo com
que os militantes do PT receberam a decisão de seu comando nacional de
confrontar Eduardo Cunha.
Veio logo a
consequência inexorável da quebra do acerto debaixo do pano, quando Eduardo
Cunha anunciou que acolhe o pedido de
impeachment contra Dilma, acabando-se o
entusiasmo da militância. E partiu para ceder espaço, nas palavras de Noblat, à
perplexidade e ao medo.
A perspectiva
do impeachment deve realmente incutir
medo na militância petista. Se 65%
dos brasileiros são hoje favoráveis ao impeachment,
e se eles descerem às ruas em grande número, as contas no Congresso se tornam
mais negras. É bazófia garantir que ela tem os 171 votos para enterrar o
processo (acena-se inclusive com duzentos).
Os partidários
de Dilma esquecem a crise e a sua causadora. Nunca o Brasil enfrentou tal crise
econômica - com a recessão ameaçando virar depressão - que seja tão claramente
atribuível à imprudência e incompetência da Presidenta.
O estrago que essa Senhora fez em quase
cinco anos vai pesar muito nesta votação.
( Fontes: O Globo,
artigo de R. Noblat )
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