De uns anos para
cá, a quentura do verão tem sido a mãe gentil das epidemias de dengue. Neste
quadro sombrio, há dois vetores que crescem sob a marca do descontrole.
Primo, a dengue vira flagelo quando as
temperaturas médias se elevam, e surgem as condições ideais para a proliferação
do mosquito Aedes Aegypti.
E qual a razão
da elevação dessas temperaturas médias, a ponto de os verões se alargarem e o
inverno recuar em quase todas as plagas?
O motivo é o aquecimento global, que a grande maioria dos países encara
como maldição da natureza, quando não passa de fator criado (ou incrementado)
pelo bicho-homem.
Há muitos
poluidores globais - China, Estados Unidos, Brasil entre eles - porque
prevalece a falsa impressão de que, como o aquecimento global é resultante da
ação de todos, são poucos os países que se conscientizem da importância do
exemplo individual. Passam para um indeterminado outro a responsabilidade por agregar mais em termos do agravamento
da temperatura média de Mãe-terra. A China
continua a 'destacar-se' neste campo, como vimos recentemente no 'fog londrino' [1]de
suas estradas, que não é outra coisa que o efeito do emprego irresponsável do
carvão.
Há decerto
países responsáveis como muitos dos
europeus, mas há outros que, seja por arrogância, ou por burrice coletiva,
pensam trafegar na via expressa do desastre ecológico (dentro do quadro da
responsabilidade geral safadamente transmitem a respectiva quota para o vizinho
ou algum imprecisado outro país, de que não querem saber nem o nome).
A
temperatura média global cresce quando as florestas diminuem - cada balão
lançado aos ares, cada queimada ou corte abusivo na Amazônia, são crimes
ecológicos, em geral impunes (por causa da ineficiência ou coisa pior das
burocracias responsáveis) - e assim sobem as águas, são turbinados os furacões
e seus parentes asiáticos, os ciclones, e por aí afora.
E com a
elevação da temperatura média quebra-se a única benéfica ditadura que é a do equilíbrio ecológico! Assim, morar a
beira-mar vira risco, enquanto a Groenlândia se vai derretendo (junto com a
Antártida), o polo norte e suas águas viram avenidas para a navegação global
durante todo o ano, aumenta a poluição (o mar de plásticos no Pacífico e também
no Atlântico, libera-se o metano do permafrost
(no Alasca e na Sibéria) - o que não é necessariamente medida politicamente
distensiva.
Assim, se
cresce o oportunismo burro (uns continuam a agir na larga faixa da
irresponsabilidade, deixando as obrigações para os poucos que são conscientes
de que as responsabilidades são de todos), as conferências do clima persistem
no fechar de olhos para os mercadores
dos combustíveis fósseis, que continuam a usufruir de vantagens, vantagens tais
que são uma espécie de libra de carne do bom Shylock,[2]
porque na verdade, e em fim de contas, nem tais companhias ao final serão
beneficiadas...
Que me
perdoe o leitor por essa aparente digressão, que, na verdade, não o é. Voltemos, portanto, à vaca fria, para falar
do infausto crescimento da dengue no Brasil. Depois de um período em que ela
foi eliminada em Pindorama - governo
Kubitscheck - a praga do mosquito Aedes
Aegypti voltou para o Brasil, de que se apossou por inteiro, ao que me
parece (até mesmo no sul ele vive bem, obrigado).
Em nossa
terra, essa peste dispõe do território ideal -
altas temperaturas, coordenadas com a
incúria do poder público, asseguram-lhe a implantação e permanência.
Para a
eliminação do flagelo não se careceria de muito. O que se faz necessário é a
presença ativa do Poder público através de campanhas de conscientização de toda
a população (com a eliminação dos focos do mosquito - piscinas abandonadas ou
não, terrenos baldios, negligência dos moradores ricos, classe média e pobres, lixões,
depósitos de carros, pneus e o mais que imaginar-se possa em termos de sujeira
e descaso). Dessarte, se cada um cumprisse com a respectiva obrigação e o poder
público se imbuisse de responsabilidade
permanente (e não apenas sob o látego da epidemia), passaríamos todos a ter
melhor saúde pública, e o SUS, por menos sobrecarregado, daria
à sociedade em geral assistência efetiva, de resto o que estava na mente de seus
criadores.
A par
disso, a consciência individual dos respectivos deveres e também direitos
cresceria. A memória coletiva ganharia -
com a eliminação dos poluidores, a supressão dos lixões, da sujeira em praias,
lagoas, rios e vá lá o que seja vítimas da incúria e da imundície - e com isso
o nosso ego social melhoraria.
Quem
sabe não iríamos virar uma enorme Suiça no Continente americano ? Livres afinal
dos sujildos, das pragas do
subdesenvolvimento (e, por conseguinte, dos subpolíticos
da corrupção e da sujeira), e tudo não passaria de jogo maravilhoso, em que
cada um trataria de contribuir com a sua pequena porção (contra o Aedes
Aegypti que vive na e da sujeira; contra o lixo jogado ao deus-dará e
até como 'suposta punição a eleitores corajosos'; e tudo o mais que trabalha
para o aquecimento global !).
Sonhar
não é proibido, sobretudo se trabalharmos com a nossa pequena mas eficaz parte
na campanha contra a sujeira seja ela ética, moral, ou ela própria mesmo (in natura!).
Será que
administrar bem é assim tão difícil ?
Nenhum comentário:
Postar um comentário