domingo, 6 de dezembro de 2015

Colcha de Retalhos C 47


                                    
Eleições legislativas na Venezuela

 

        A imprensa estampa que o regime chavista - sob a inepta direção de Nicolás Maduro - deverá sofrer grande tropeço nas eleições deste domingo para a Assembleia legislativa.

        É marcante a rejeição de largas faixas da sociedade contra o desgoverno do novo caudillo Maduro, que a princípio colhia instruções de mestre Hugo Chávez através de um saltitante passarinho.

        Se o ex-caminhoneiro que virou delfim do coronel Chávez recorria a tais patéticos e risíveis truques para reivindicar o patrocínio do velho caudilho não é só problema dele, mas também da sociedade venezuelana, que estaria na faixa de tais patranhas.

        O problema, no entanto, não tem muito mais a ver com invocações do numen tutelar, mas com o incrível desgoverno de que padece o povo venezuelano, que enfrenta a hiperinflação, o decorrente desabastecimento, a truculência na sociedade, tanto a do regime - estruturada em uma dócil justiça, em milícias (do governo, é lógico) brutais  e mesmo assassinas - e no povão ao largo, onde se afirmam tenebrosos totais em termos de trucidamentos, tanto no atacado, quanto no varejo.

        Que esse regime das cavernas continue membro da OEA, se não lhe acrescenta nada, diz muito do nível a que chegou essa organização.

        É por isso tudo que as notícias na imprensa que falam da vitória da oposição - e todas as pesquisas mostram expressiva vantagem dos candidatos da Mesa de Unidade Democrática (MUD) - sobre o situacionista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) devem ser recebidas com cautela.  Falam até de maioria qualificada, que de acordo com analistas terá a capacidade de aprovar leis orgânicas que, consoante peritos, 'modificam as estruturas do poder'.

         A eleição em tela poderia desvendar um claro enigma na sociedade venezuelana. Há evidente contradição entre eleição aberta, com possibilidades teóricas de maiorias revolucionárias (no bom sentido), e a estrutura do regime forte, com o virtual ditador de plantão que tem férreo controle sobre o judiciário e o sistema prisional.

         Maduro pode orientar-se para a solução  das democracias populares, tanto as antigas comunistas, quanto as ainda atuais árabes e africanas, em que, uma vez 'cerradas' as urnas para os votantes, entram em cena os agentes do regime para sufocá-las com os chamados 'sufrágios do poder'. É isso que ocorre  na África (Magreb e África Negra, com algumas exceções), assim como nos regimes autoritários da Eurásia (v.g., Bielorrússia). Na Federação Russa, Vladimir Putin se vale de instrumentos similares.

         Que este fenômeno não vá acontecer na Venezuela semelha infelizmente pouco provável, se tivermos presentes os antecedentes do chavismo. É de notar-se, v.g., que Enrique Capriles teria sido o real vencedor do embate pela presidência com Nicolás Maduro, quando da eleição para o sucessor do Coronel Hugo Chávez Frias. Segundo dizem, no entanto, as fichas eleitorais quem venceu foi o delfim Maduro...



Corrupção e Burocracia

        
             Como o leitor terá presente, dediquei onze blogs para a avaliação  no Brasil dessas duas forças - Corrupção e Burocracia - que a nossa comum  experiência tende a indicar-lhe a interação, a exemplo de o que a nossa História tem demonstrado através dos séculos.

             A permanência do Aedes aegypti entre nós esconde  outra triste característica de nossa gente. Por falta de educação ou de conhecimento, ou talvez uma mescla dessas duas tendências, o povo brasileiro tem revelado seja nas instituições, seja nos seus próprios costumes, uma atitude laxista ao extremo.

            Dessarte, algo de interesse da comunidade (v.g., economia de água, dados os baixos índices nos reservatórios) não leva as pessoas a pouparem água, chegando mesmo a utilizar mangueiras para lavar calçadas. Mas essa atitude que é de considerar-se mais burra do que egoísta (porque afeta igualmente ao infrator) também se reflete em comportamentos relativos ao asseio. Dirão que isso terá a ver com a educação (e é verdade), mas também pode ser incutido através do claro perigo que a falta de higiene traz consigo.

             Houve nas últimas eleições, o exemplo de um candidato derrotado nas urnas, que resolveu vingar-se do seu eleitorado pela não-coleta de lixo. Essa pessoa provocou o caos através da suspensão dessa coleta, que é  disposição compulsória de higiene aplicada em países civilizados. O que deve ser sublinhado no episódio é que tudo  passou em branca nuvem para o responsável.

             Esse exemplo abominável é, no entanto, importante, para frisar a postura de indiferença com a sujeira, que constitui decerto a principal barreira para que o lixão e o depósito de sujeira em terrenos, baldios ou não,  venham a ser erradicados no Brasil. Na terra dos lixões, dos terrenos baldios e abandonados, nos depósitos de pneus e carros imprestáveis, nas piscinas e tanques ao deus dará,  o mosquito Aedes aegypti encontra o seu terreiro de criação.  Esta criação, prezado leitor, ela é feita contra todos e, em especial, contra você.

             A indiferença de todos os governos - a começar do municipal - é o triste facilitário para assegurar criadouros mil para esse terrível mosquito.

             A propaganda começa errando, ao chamá-lo de mosquitinho. Não há nada de queridinho nesse inseto, que transmite doenças sérias e graves, que podem até causar a morte.  Na verdade, o Aedes aegypti é um monstro real, e não daqueles que se escondem no quarto das crianças debaixo da cama. O único modo de acabar com esse vetor, que por desgraça  não é só da dengue, senão de outras doenças e afeccões graves, a exemplo da microcefalia, e de tantos outros virus, será através do trabalho e da limpeza.  Depois de uma propaganda insistente e ruidosa, daquelas que incomodam, que tal se se estabelecessem - e não pra inglês ver - multas pesadas, que fariam qualquer um pensar duas vezes antes de abrigar em seu quintal viveiros para esse abominável mosquito?

              O exemplo e a severidade na aplicação da multa (sem jeitinhos, por favor) se sucederiam a clara,  intrusiva e, sobretudo, incisiva propaganda.

 
( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo )

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