domingo, 31 de maio de 2015

Colcha de Retalhos C 20

                                      

Um alerta importante

 
          Depois da apressada e errônea observação da Presidenta, de que o Poder Público nada poderia fazer contra figuras como José Maria Marin, mestre Zuenir Ventura vem a público com importante alerta na sua crônica de ontem.

          De início enfatiza a sórdida campanha feita pelo então deputado estadual pelo partido da Ditadura, contra Vladimir Herzog (assassinado nas dependências do Exército em 1975). De que o acusava Marin? De que Herzog, então Diretor de Jornalismo da Tevê Cultura, colocara a emissora ‘a serviço do comunismo, por mostrar fatos negativos como a miséria’. Dias depois de  Marin exigir providências das autoridades, Vladimir foi ilegalmente detido e, em seguida, barbaramente torturado e morto.

          Mais tarde, Marin seria vice-governador de São Paulo, na chapa biônica presidida por Paulo Salim Maluf.

           Que essa figura tenha ficado à frente da CBF para a Copa de 2014, apesar da campanha patrocinada por Romário e Ivo Herzog, é mostra do descaso e indiferença das autoridades que costumam escudar-se na desculpa de que a CBF é organização privada.  Com todos os fundos gastos pelo Brasil para financiar a festa que, para nós, terminaria no 7x1 do Mineirão  foi um triste espelho do aludido descaso do poder público.

           As organizações esportivas, e a futebolística que é a mais importante, deveriam voltar aos tempos de Paulo Monteiro de Carvalho. Não podemos tolerar personagens sobre quem pesam tão   graves suspeitas.

           Romario, que é agora Senador da República, deveria verificar se é do interesse brasileiro que a CBF seja entregue à pessoa como Marco Polo del Nero,  que fugiu de Zurique às carreiras, sequer votando no seu candidato  Joseph Blatter. Estaria ele, por acaso, assustado com a prisão de seu protetor José Maria Marin, hoje atrás das grades, a caminho de extradição para os Estados Unidos, a fim de responder pelos crimes de que é acusado?

      
Testemunhos de Cristovam Buarque

 

            Sabíamos há muito das grandes qualidades do Senador Cristovam Buarque. Na sua coluna quinzenal em O Globo, o leitor encontrará não só problemas da atualidade brasileira, mas sinalizações do interesse e da possibilidade de resolvê-los.

           Apesar da retórica oficial que encontramos nas relações triunfalistas de Lula da Silva – com o Brasil credor do FMI – é importante não esquecer que a dívida bruta do Brasil é de R$ 3,48 trilhões, e que a conta dos juros nominais do setor público nos doze meses terminados em março de 2015 foi de R$ 396,6 bilhões. 

            Assinale-se que nos álacres tempos de Guido Mantega e Arno Augustin,  a dívida líquida do Brasil estava inquinada de tantas artes de inventiva fiscal, que o mercado – e as autoridades internacionais – não mais a consideravam como base de referência pare exames.

            Por outro lado, a fragmentação do País é uma decorrência de falta de liderança nacional e, por conseguinte, ausência de um sentimento nacional, como assinala com grande oportunidade o colunista e Senador Cristovam Buarque.  Os grupos e facções se digladiam entre si e nenhum pensa no interesse coletivo e no futuro.

            A própria propaganda partidária obrigatória – e a sua absurda, congolesa multiplicação já virou acinte e um teste para a paciência do Povo brasileiro – reflete essa divisão “em corporações e grupos preocupados com interesses específicos e imediatos, banqueiros ou trabalhadores, sem considerar o interesse coletivo e o futuro”.

             O Brasil, pela ausência de lideranças e a desmoralização do PT, e de seus líderes máximos, manchados por uma série de grandes escândalos, virou gigantesca Casa da Mãe Joana, em que todos deblateram, pensando serem donos da razão, quando na verdade  sóem  apenas de tratar dos próprios interesses.

             Confrange ser assistente do momento que o Brasil atravessa:  ausência de um denominador comum e do surgimento de um punhado de pessoas que mereçam o respeito de seus contemporâneos.Há uma vã procura por personalidades que estejam acima dos interesses particulares e se proponham a defender a causa da maioria.
 

Fernando Pimentel

 
            Muito ligado a Dilma Rousseff, na última eleição, logrou vencer o favoritismo do PSDB em Minas Gerais.  Para tanto, Fernando Pimentel teve a ajuda providencial de candidatura desastrosa para Governador de Minas pelo PSDB.

             Talvez uma atitude de descabido otimismo tenha sido duplamente nociva para o partido de Aécio.  A sua derrota em Minas Gerais para Dilma Rousseff  refletiu a mesma  realidade do pernicioso ‘já ganhou’, que – pela diferença geral de votos de apenas 3% entre Dilma e Aécio – poderá  ter sido tristemente determinante da derrota nacional do candidato do PSDB.

             O amigão de Dilma Rousseff já tivera seus problemas na justiça, como apontados pelas ‘consultorias’ recebidas em Minas. De qualquer forma, se o novo Governador do PT em Minas teve questões a dirimir, elas foram de um modo ou de outro afastadas.

              Agora pipoca um novo problema que se refere ao apartamento da mulher do Governador Pimentel, Carolina de Oliveira Pereira. O imóvel, de propriedade da Primeira Dama de Minas, sediaria a Oli Comunicações e Imagens, que está no nome de Carolina Pereira, e que seria empresa fantasma a serviço do grupo de Bené para movimentação financeira indevida.

              Nesse contexto, está também a principal empresa da família do empresário que faturou R$ 465 milhões desde 2005. Tal chamou a atenção dos investigadores.

              A PF deflagrou na sexta a Operação Acrônimo e prendeu em flagrante quatro pessoas, entre as quais Bené, que é ligado ao PT. Esse empresário é apontado como chefe da organização criminosa investigada por lavagem de dinheiro.     

              Auditorias da CGU feitas desde 2005 detectaram irregularidades nos contratos firmados pela empresa (Gráfica Brasil) com pelo menos três ministérios:  Cidades, Agricultura e Turismo.

              E não é que aparece também a nossa conhecida Erenice Guerra. Afastada da Casa Civil de Lula após ser alvo de denúncias de tráfico de influência e lobby, a revista Epoca (das organizações Globo) informa esta semana que em maio de 2014 Erenice acertou contrato de sociedade com a Brasil Século III, do ex-deputado Virgilio Guimarães (PT-MG), que é um dos investigados  na operação Acrônimo. Seria por meio dessa empresa que o petista recebia dinheiro do esquema de Bené.

 

 

( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo )

Xenofobia na Rússia


                        

          Não é de hoje que o regime de Vladimir V. Putin singulariza o estrangeiro, como elemento vizinho ao indesejável. Ver o alienígena como ameaça é uma característica das ditaduras. Em sociedade como a Rússia em que o preconceito contra o estrangeiro existe, o governo autoritário não hesitou em associar a onda de protestos de 2012 como devida também a influências estrangeiras.

           Não será pela sutileza ou o combate franco na arena pública das idéias que gospodin Putin parece crer que terá maiores possibilidades de prevalecer.

           Passados os embates e os protestos da população moscovita contra eleições fraudadas e o avanço da corrupção, o regime tratou de apertar as cravelhas de organizações sociais que recebessem alguma assistência do Ocidente.

          O povo russo guarda experiência de gerações em que o estrangeiro, o forasteiro tende a ser agente de propósitos e idéias que, supostamente, não se coadunem, nem visem a favorecer avanço e pujança dos valores nacionais.

          Vagando no inconsciente da massa, e resultado de décadas de preconceito contra o xenos, o estrangeiro – que nada de bom  supostamente traria – essa atitude estaria letárgica nesse subconsciente popular. Pode-se deparar com tal preconceito, sobretudo na direita, e seu abrigo estaria mais nas camadas de baixa renda.

           Para despertá-lo bastará um evento que o Kremlin distorça. Nas grandes nações continentais – e não há muitas – que sofreram invasões de hordas alienígenas, esse temor, essa ojeriza a suposta ameaça pode dormitar no inconsciente coletivo. Nos séculos passados, anteriores à Grande Guerra de 1914 – 18,  o Império Russo, como potência continental, fora assolado por grandes exércitos, vindos seja do Ocidente (Napoleão foi o último deles), e também do Oriente, seja com as invasões dos Khan asiáticos.

          Se Moscou e São Petersburgo prevaleceram, o padecimento nessa luta marcou deveras a massa de camponeses e da população em geral. Assim, é difícil para os extratos de menor renda – solo fértil para vetustos preconceitos - e mesmo as classes com mais recursos liberar-se desse íncubo do estrangeiro como o malfeitor invasor.   

           A esse propósito, exemplo pessoal pode ter alguma valia. Quando assisti no Bolshoi espetáculo sobre o Tzar Boris Godunov – em que se retratam igualmente as nações a leste, naquele tempo com  poder bastante para enfrentar a Rússia imortal – me espantou deveras que os atores e dançarinos que representavam os estrangeiros eram recebidos em gélido silêncio por plateia que não era exatamente de camponeses e operários. Aquela me seria lição prática de que antigas batalhas, há muito sepultas, ainda transpiram fortes emoções e longevos, empedernidos ressentimentos.

          Nesse terreno minado, a aversão e as antigas memórias de batalhas que hoje só existem nas páginas dos manuais de história pareciam pulsar, como se bastasse que clássico espetáculo fosse encenado acerca dessas longínquas porfias para que repontasse nas cuidadas fileiras do Bolshoi, com o coletivo gesto carrancudo por agravos que os séculos  não logram seja perdoar, seja esquecer.

            Não foi difícil, por conseguinte, ao governo Putin, na sua paranoia contra o Ocidente como o transmissor do mal da democracia, cuidar de associá-lo aos râncidos  temores do povo russo com os maus ventos que vem de fora. Para tanto, se procura sufocá-las com a burocracia, a que se acresce o rótulo embaraçante e, para muitos, malcheiroso do agente estrangeiro.

            Assim, o trabalho de muitas organizações de direitos humanos na Rússia se vê estorvado pela virtual proibição de recebimento de fundos do estrangeiro.  Sob esses velhos fantasmas do inconsciente coletivo,é que uma organização não-governamental vem a ser rotulada como “agente estrangeiro”, tal equivale na prática a confissão de conluio com o alienígena, que nada de bom pretende trazer para a Velha Rússia...         

             A etiqueta de “agente estrangeiro” semelha, contudo, não estar atendendo aos respectivos fins de inviabilizar na prática a ação de ONGs locais \(que recebem subvenções do exterior). Tal se aplica sobretudo a entidades cujo prestígio seja suficientemente alto e sólido para que a insinuação de ‘agente estrangeiro’ não logre impedir que o trabalho da agência em causa continue a ser visto como benéfico para a pátria russa.

               Todavia, como essa lógica da insinuação não tem logrado,  na amplitude desejada pelo regime, os seus fins de fazê-las encerrar a respectiva atividade – eis que a verdade e o sólido conceito de muitas associações vem contribuindo para cegar o molesto efeito de “agente estrangeiro” -  o autoritarismo de Putin se vê constrangido àquele velho recurso do lobo diante do cordeiro – se não foi seu pai, foi seu avô.

               Para pôr abaixo a ulterior resistência do regime autoritário,  o Kremlin já fez aprovar pelo Parlamento legislação contra “organizações indesejadas”.  É típico das ditaduras esse endurecimento, que radicaliza a questão, e arranca a máscara que pespegava o sinal de “agente estrangeiro” na ONG ou outra organização. Pela nova lei, assinada por Vladimir Putin na semana passada, o governo tem inteira liberdade de fechar de forma rápida organizações que, supostamente, ameacem o Estado.

               Com o fuzil da ditadura, o tratamento coercitivo e violento está no DNA desse estado autoritário. E, dessarte, impelido pela necessidade de agir com suposta eficiência,  desaparece qualquer simulacro de diálogo e com a sua partida, os anteriores  intentos de tapar sol com peneira. A lógica da violência não dá alternativa ao poder autoritário.

               Com efeito, o DNA do estado autoritário – penúltimo degrau na transição para a ditadura – dificilmente convive com sutilezas ou os álacres cenários do Conde Potemkin para a sua viajante soberana, Catarina de todas as Rússias.

                A maquiagem da pobreza fica mais para os picadeiros dos circos. Assim, malgrado os andaimes do Senado e da Duma, o poder imperial de Vladimir Putin continua a crescer. Como o estrangeiro é portador de armas que as duanas não podem barrar nos portos do Império, o jeito será esperá-lo já quando se apreste a difundir no sagrado solo russo armas ainda mais nocivas do que a bacteriológicas.

                Papai Putin está aí para velar e proteger o popular e o campônio da Rússia imortal do solerte estrangeiro, que traz na mala idéias tão malignas quanto perniciosas, eis que visam a abrir a mente do bom e confiante cidadão da Federação Russa. Dessarte, como não se pode compor com a insídia e a propaganda exótica, que são companheiras da traição, a nova Lei vem pressurosa ensejar ao Ministério Público – em cooperação com a Chancelaria – o banimento de organizações que ameacem “os interesses nacionais e a segurança do Estado”.

                  Nos moldes do próprio modelo o Duce Mussolini – que gostava de exibir o torso nu para as moçoilas dos anos trinta -  a catadura de Vladimir Vladimorovich Putin não desvela sombra de sorriso, pois pesa-lhe no ânimo a magna tarefa que lhe está defronte, de salvaguardar a sua boa gente das insídias do estrangeiro.

 

( Fonte:  O  Globo )  

sábado, 30 de maio de 2015

Dilma, Lula e a Economia


                                        

           Os resultados do primeiro trimestre de 2015, com a divulgação dos dados do IBGE, já eram esperados. A retração da economia, para senti-la, não se carece de estatísticas. Ela é visível em toda parte, com as férias coletivas e a profusão de ofertas pela indústria automobilística, que, sem embargo, não conseguem esvaziar os pátios das fábricas. Também o consumo das famílias, tangido pelo incremento da inflação, se retrai. E a ciranda continua nos anúncios e nas liquidações que não motivam os compradores, e, em consequência, o desemprego aumenta, e não só nas chamadas ‘feitorias’ que são as sucursais das grandes marcas europeias e japonesas que, em outros tempos, serviam para encher o caixa das matrizes em crise.

           Diante do desafio da queda no consumo, serão de pouca valia as chamadas promoções, as datas trazidas às pressas da atividade comercial de além-mar, e a enxurrada de propaganda com que estabelecimentos às moscas se lançam na busca frenética de artigo de repente em exacerbada escassez: o freguês,  ele próprio com o fantasma do desemprego a rondar-lhe a porta, transfere as compras supérfluas para um futuro menos incerto.

           Seria a classe política a única a talvez se locupletar com esse clima de tempos ruins, tempi bui (tempos escuros), como diriam os primos italianos, que em tantos aspectos – nos bons e nos maus – se assemelham à nossa gente.

            Dessa feita, porém, não há nada no estrangeiro – a grande recessão nos Estados Unidos, v.g. – que sirva de desculpa à la carte para a classe política do PT que, contra vento e maré, continua no poder. Por quanto tempo, já é outra estória.

            Assim, não há jeito de transferir para os estranjas a má-surpresa da crise estourada com a falência do Banco Lehman  Brothers e todas as irresponsabilidades que cercaram a inchação do mercado das hipotecas, incentivada pela insana especulação de Wall Street.

              A nossa ressaca o mago Lula chamou de ‘marolinha’.  Não foi tão reles quanto o torneiro-mecânico tentou empulhar ao mercado de Pindorama, pois a causa de além-mar, com as devidas atenuações, existia.

             Hoje, a recessão na economia que se prefigura só tem uma causadora primária, e as suas iniciais são... Dilma Rousseff.  Se se quiser ir um pouco além, chafurdar um pouco mais nesse fétido lodo, há um grande responsável, além da aprendiz de feiticeira que o povo brasileiro elegeu em 2010.

             Esse senhor continua muito presente no grande palco do Brasil. A sua responsabilidade é grande, pesada mesmo, porque não trepidou em indicar alguém para o seu lugar, que ele sabia não ter condições de preenchê-lo.

             Não direi que Lula da Silva fosse um gigante na cadeira presidencial. Não foi por acaso que José Dirceu, no discurso de despedida, quando teve de sair à carreiras do Planalto, escorraçado pelo escândalo do Mensalão, reportou-se ao “meu governo”, como se dele fosse a responsabilidade executiva de tocar a alta administração.

             Lula mostrou ser um mestre na própria salvação in extremis.  A princípio, choramingou na mídia, e pediu desculpas. O tempo e o Rio do Letes – que, por aqui, tem efeitos miraculosos – cuidaram de que sobrevivesse, vencendo o rival tucano da vez.

             Vimos há pouco que a verdade para ele pode ser compartimentada, desde que soprada para o companheiro de lutas sindicais na Banda Oriental.

             Não há dúvida que além de mestre na sobrevivência, terá visão um pouco elástica dos canais de financiamento político.

             Mas a sua atividade não se confina a essa capacidade imitada de Penélope de tecer de noite o que desfará no dia seguinte.

              Contudo, e data vênia, sobre seus ombros recai a responsabilidade do quadriênio desastroso da pupila Dilma Rousseff. Pensando em si – e só em si, ele a apresentou ao Povo brasileiro como a candidata ideal.

              Começava, então, a famigerada série dos Postes, com que ele designa as pessoas que, como Coronelão supremo, indica para que o Povão eleja. Note-se, porém, que sobretudo no caso em tela, ele o fez pensando passar o governo para quem o restituiria, transcorridos quatro anos.  Errou, porque menosprezou  a força inercial da Presidência. E, assim, a discípula pôde, contra vento e maré, e a custas de mentiras mil,  reeleger-se, ainda que por escassos três por cento!

              Escarmentada, com as feições contraídas, no gesto o temor dos escândalos que não mais  pode confinar no cercado do silêncio,  a arrogante, menosprezante Dilma dos debates, que a tudo de ruim afastava, logrou manter-se na cadeira.

             Para salvar-se, convocou a Joaquim Levy, a quem ora presta o apoio que pode  para que ele a salve da rocha Tarpeia[1] do Impeachment, e de outros percalços, enquanto ruge a plebe ignara e se desembesta o mar proceloso das assembleias, em que cada dia trata de estender-lhe a mão.

           Mas em meio à Tempestade, enquanto a discípula se esfalfa em luta ingente, não é que o Grande Líder, com o pó de perilipinpim, tenta fazer com que o seu amado povo se olvide de que essa infernal herança de um mau quadriênio, nós a devemos ao seu egoísmo. Em quatro anos apenas, a grande chefe e gestora logrou com loucuras várias, como relançar a inflação, destrambelhar a economia e atacar o Plano Real e a sua chave de abóbada – a Lei de Responsabilidade Fiscal – criar as crises do presente, como esta vítima atual da inflação alta e da consequente baixa propensão ao consumo – em que são pavimentadas as vias expressas da Carestia e da Estagnação econômica.

              Ora, dizei-me.  Pode-se responsabilizar quem não estava preparada para tal desafio? Será que também na crise presente – e há outras que tentam fugir da foto – pode-se em sã mente dizer que ela, a fiel secretária do Máximo Líder, é na verdade a responsável por tudo de ruim que ora nos cai na cabeça?  




[1] Rocha Tarpeia – rochedo na colina do Capitólio, de onde, na Antiga Roma, eram lançados  os assassinos e os traidores.
 
 


( Fontes:  O Globo, Monteiro Lobato, Abel Gance )

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Dona Vanna e a Leonardo da Vinci


                                

         Conheci, como tantos outros da minha geração, a livraria Leonardo da Vinci nos anos cinquenta. Era época em que havia outras grandes livrarias, como a Civilização Brasileira, se não me engano na Sete de Setembro, a José Olympio e a Francisco Alves, na rua do Ouvidor, a Kosmos, na rua do Rosario.

          Se na Civilização, existia um segundo andar, com estantes repletas de livros franceses, na da Vinci, além de estantes com edições atualizadas de livros havia a presença de dona Vanna.

          Nos tempos de estudante, a vontade de conhecer e adentrar no mundo dos livros tem como polícia a magreza de fundos.

          Dona Vanna estava ali justamente para facilitar o acesso àquela em que, se não éramos amigos do rei, encontrávamos na cancela a sua presença. Com o seu sotaque característico, ela era uma espécie de super-ego, que nos poderia abrir a porta do paraíso.

         Para os jovens, colocava o limite do bom-senso. A sua generosidade se pautava pelas regras do mundo do possível. Tinha prazer em proporcionar-nos o acesso a estratos mais altos do conhecimento, desde que se tivesse alguma perspectiva de repor-lhe os fundos empenhados.

        Nesse contexto, recordo-me da minha encomenda da Correspondência de J.J.Rousseau, na edição organizada por Théophile Dufour, publicada em vinte volumes pela “Librairie Armand Colin”. Era uma ordem meio salgada, eis que o preço, ainda que não astronômico, já representava um avanço ponderável pela livreira.

        Como já me conhecia, a sua hesitação inicial logo se desfez, embora ela lançasse, ao final, como os partas, um resmungo: espero que V. tenha boa saúde...

        Refugiada da Europa, dona Vanna tinha a atitude de quem esteve na escola da adversidade, que se vestia de aparente aspereza, mas que na realidade entendia as limitações da bolsa dos jovens.

        Se a idade não lhe pregasse uma peça, tenho poucas dúvidas de que o desafio presente seria vencido. Mas a sua longa presença à testa da livraria, com o seu ethos de livreira – quem gosta e até ama ser transmissora do conhecimento – marcaria seja pela voz inconfundível, seja pela qualidade de não encarar o livro como bem material mas sim objeto transmissor de mensagens, uma postura que tinha prazer em dar, em proporcionar as viagens da leitura e da consulta, sem qualquer sentimento menos confessável de sua parte. Assim, não importa qual fosse o livro, a sua passagem ao leitor, para ela era um ganho, porque sabia quão importante é o livreiro na corrente do conhecimento.

        Na era cibernética, em que o paradigma de Gutenberg semelha sair de cena, me recordo do bom amigo Pedro Neves da Rocha, que a senhora conheceu tão bem como percuciente frequentador de suas estantes e mesas de exposição livresca, assim como comprador insaciável dos livros que nas suas salas descobria, ou encomendava por seu intermédio a livrarias europeias e americanas. Ele não dispensava sorver do conhaque que a senhora punha à disposição dos frequentadores. Por vezes, um trago pode aclarar as idéias...

         A  senhora me desculpe que não apareça na Livraria em que a frequência aumenta, na hora dos volumes vendidos sob o toque da retirada diante do desafio dos tempos novos. É um outro tipo de concurso que não me agrada. Pois nele não vejo a Livraria Leonardo da Vinci que conheci, jovem ainda.

         Não se esqueça, porém, minha cara dona Vanna, que a senhora construíu e moldou  grande, magnífica livraria, remanso de mais de uma geração de escritores, literatos e intelectuais, que em nela entrando viravam alunos seus, enquanto buscavam nas prateleiras e nas mesas as mensagens que se escondem atrás de tantas capas.

          A todos nos unia o desejo e a ilusão do saber – não importa se literário, artístico, histórico, sociológico, antropológico, bio-ético e o que mais essa alma errante do conhecimento inventar possa.

           Em meu modesto nome, no de tantos outros visitantes interessados no seu tão próprio mercado do saber, qualquer que ele seja, os meus parabéns pela realização deste maravilhoso sonho, que com a sua generosidade e inigualável saber livresco nos propiciou a todos sem exceção.

 

( Fonte:  O Globo )     

Corrupção na C.B.F.?

                                 

          Malgrado as afirmações de Dilma Rousseff que, na prática, afastavam a possibilidade de investigações públicas na área do esporte, sob o pretexto de que o Estado não teria competência para julgar a corrupção no setor privado, parece que a súbita mudança de ventos terá mudado a opinião desse mesmo Estado...

          Sob o impulso do Federal Bureau of Investigation a Polícia Federal – que é autônoma – abriu inquérito para investigar corrupção em competições organizadas pela CBF e pela FIFA no Brasil. De acordo com o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo há indícios  de que os crimes investigados pelo FBI nos Estados Unidos foram cometidos também neste país.

           O Estado brasileiro sempre foi complacente com a CBF, mesmo nos anos de Ricardo Teixeira. O Brasil e seu povo acompanham com grande paixão e interesse o futebol, e não tem negado apoio à dita CBF, apesar dos escândalos que a tem assolado ao longo dos anos.

           Quem comparece com aportes tão substanciais, não pode esconder-se atrás do  biombo que não é lícito intervir em assuntos privados.  O futebol faz muito deixou de ser questão particular, e sempre pareceu demasiado cômodo que os estádios fossem construídos sob especificações da FIFA, e que a esse mesmo Estado não fosse lícito vigiar de perto o modus faciendi, que seria assunto defeso para as autoridades governamentais.

            Vejo com preocupação  o recurso excessivo às CPIs, e por isso  a iniciativa de Romário deva ser saudada com cautela. Nos últimos tempos tem havido cínica instrumentalização das  Comissões parlamentares de inquérito. A última CPI sobre a Petrobrás dominada pelo PT é exemplo desse cinismo, que segue o modelo das Comissões de Inquérito do defunto Orestes Quércia,  que sempre acabavam em pizza.  

             No entanto, dado o conhecimento e a experiência no assunto do Senador Romário, deve-se dar a essa tentativa o benefício da dúvida.

             Por outro lado, nessa questão da corrupção no futebol – não revelada, malgrado  o conhecimento generalizado dos negócios escusos dos cartolas, mas agora exposta  graças ao FBI, com os corruptos detidos e, possivelmente, a caminho da terra de Tio Sam. A perspectiva mudou bastante, espalhando o terror nesse mundo de negociatas, deixado há demasiado tempo livre de qualquer fiscalização para valer do Estado.

              Será nesse contexto que o imprevisto retorno  às pressas ao Brasil do atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, abandonando Zurique para onde fora a fim de participar e votar na eleição de hoje do presidente da FIFA, provoca muita estranheza. Por que o Senhor Del Nero resolve renunciar ao motivo de sua viagem – que era o de participar do evento da FIFA ?

               Segundo informa a Folha, em primeira página,  “ há indícios na investigação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos que  podem relacioná-lo a esquema de propina. (...) Documento indica que Marin dividiu com Del Nero e Ricardo Teixeira, também ex-presidente da CBF, R$ 2 milhões para fechar  a venda de direitos sobre a Copa do Brasil para duas empresas de marketing.”

                 Inquirida pelo Jornal, a Fifa declarou que “Del Nero não explicou os motivos de ter deixado o Congresso. Ele votaria hoje (29)  na eleição presidencial da entidade.” Segundo o diretor financeiro da CBF, Rogério Caboclo, não houve “fuga” de Del Nero. Consoante a CBF, o seu presidente “é uma pessoa inquieta e quer estar no Brasil, próximo da sua diretoria, neste momento.” 

                  Apesar da reação da UEFA, capitaneada por Michel Platini,  a eleição para o eventual quinto mandato de Sepp Blatter não será postergada, como o escândalo revelado pelo FBI recomendaria. Nesse contexto, apesar de existirem outros candidatos, a vitória do continuísmo de Blatter semelha provável. A despeito das suspeitas  sobre o atual presidente e a clara conveniência de que se suspenda o processo eleitoral – como se posiciona a UEFA – Joseph Blatter pretende ir em frente, e continuar na presidência, contra vento e maré.

 

 ( Fontes: Folha de S. Paulo,  site de O Globo )

quinta-feira, 28 de maio de 2015

A Corrupção na FIFA


                                      
        A  Fifa (Federação Internacional de Football Association) fundada em Paris, 1904 e com sede em Zurique, na Suiça, será apenas uma andorinha, mas ao contrário do provérbio, esta andorinha faz o verão.

         Se nos detivermos por um instante e pensarmos nessa questão, nos daremos conta de como a corrupção se faz presente por toda a parte, inclusive no esporte.

         Não está esclarecido se o ‘convite’ ao FBI de parte da FIFA existiu realmente, ou se foi apenas formalidade, para tapar o sol com peneira, diante de  investigação que independia de Sepp Blatter & Cia.

        Desde muito  suspeita-se da corrupção no futebol.

        Sem embargo, a dose foi muito além de qualq   uer expectativa. Nove dirigentes da FIFA e de organizações internacionais latino-americanas foram presos por iniciativa do Bureau Federal de Investigações (FBI), dos Estados Unidos.     

        A própria relação retira qualquer ilusão sobre a qualidade ética desses paredros do futebol da FIFA, a maior parte representada na reunião da Federação Internacional para acompanhar a eleição do Presidente da FIFA. O quinto mandato de Sepp Blatter vence e ele deseja o sexto...

         Os alvos na operação da polícia americana na Suíça são José Maria Marin, que é vice da CBF, foi dela presidente e do Comitê Organizador da Copa de 2014. Para vergonha dos cartolas do futebol latino-americano, foram igualmente detidos: Jeffrey Webb, Vice-Presidente da FIFA e Presidente da CONCACAF (Confederação de Futebol da América do Norte); Eugenio Figueiredo, vice-presidente da FIFA e ex-Presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol; Eduardo Li, membro do Comitê Executivo da FIFA; Rafael Esquivel, Membro do Comitê Executivo da FIFA e Presidente da Federação da Venezuela; Nicolás Leoz, ex-presidente da Conmebol (Sul-americana); Julio Rocha, presidente da Federação de Futebol da Nicarágua; Jack Warner (*), ex-Vice-Presidente da FIFA e ex-presidente da CONCACAF (Confederação de Futebol da América do Norte); Costas Takkas, assessor da presidência da Concacaf. (*) Warner – que não estava na Suíça – se apresentou à polícia em Trinidad Tobago, onde reside, pagou a fiança[1] e foi, por conseguinte, liberado.

         José Maria Marin, preso na Suiça, e os demais acusados na operação do FBI, foram afastados (por ora, a título provisório) de todas as atividades concernentes ao futebol.  Marin ocupava a vice-presidência da FIFA e é membro do comitê organizador do futebol na Olimpíada. Em função das acusações, Marin deverá renunciar a tais cargos.

         Acompanhava Marin em Zurique o atual Presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, se achava no mesmo luxuoso hotel em que se hospedara o ex-presidente da CBF e Vice-presidente da FIFA, José Maria Marin, conforme noticia a Folha.

         A nova Attorney-General dos Estados Unidos, Loretta Lynch, fez questão de participar da entrevista em New York.  Dado o maior interesse atual dos Estados Unidos pelo futebol – o que se reflete no acompanhamento de sua seleção, que vem crescendo em Copas do Mundo sucessivas – tanto a Ministra da Justiça (a Attorney-General Lynch) e James Comey, diretor do FBI, foram à Corte de Brooklyn, em New York, nesta quarta-feira, 27 de maio.

          As declarações das autoridades americanas denotam a relevância atribuída e o consequente empenho. Dessarte, Comey, do FBI, afirmou: “O trabalho vai continuar até que todos os corruptos sejam descobertos. A mensagem é que este tipo de conduta não será tolerada”.

          Diante de uma centena de jornalistas, que cobriam a sensacional matéria, a novel Attorney General declarou: “Duas gerações de executivos da FIFA, da Concacaf e da Conmebol usaram seus cargos de confiança para solicitar propinas de empresas de marketing esportivo em troca de direitos comerciais sobre campeonatos. Eles fizeram isso, ano após ano, campeonato após campeonato”. Entre outros exemplos, a Sra. Lynch citou o acordo de patrocínio da seleção brasileira com uma “grande empresa de artigos esportivos dos EUA”.  É interessante rememorar o tal acordo de patrocínio que incluía cláusulas bastante intrusivas acerca do comportamento (inclusive escolha de jogadores) pelos responsáveis técnicos da seleção brasileira. Na época, o assunto causou espécie, mas não a ponto de ser aprofundado como devera.

           Questionada sobre a ausência do Presidente da FIFA, Joseph Blatter, no mandato de captura dos paredros latino-americanos detidos, a Secretária de Justiça declarou que não falaria sobre indivíduos não mencionados.  No entanto, o seu adendo a essa observação não semelha de molde a que tais pessoas não estejam ainda sob investigação: “O que posso dizer é que essa investigação está em andamento e vai continuar”.

           Por ora, não há comprovação de que o Presidente Blatter tenha ligação direta com os escândalos de suborno em contratos comerciais que foram apresentados de forma pública pela Justiça estadunidense. Por sua vez, Del Nero, mandatário da CBF, aparece nos documentos da investigação, mas não tem o seu nome citado e é identificado apenas por um número.

           A ficha ainda não caíu para Sepp Blatter. Ele pretende, contra vento e maré, mais uma reeleição. Assim como Havelange no passado, o suíço acha que ainda pode continuar. Não é a opinião da UEFA, que tem o apoio das Federações Européias. A Liga europeia tudo fará para impossibilitar mais esta reeleição. Politicamente, fica muito difícil dizer que o assunto não lhe concerne. Se não participou, e toda pessoa é inocente até prova em contrário, ter permitido que uma atmosfera dessas tivesse alcançado as dimensões expostas pelo FBI  já indica uma certa omissão. Por outro lado, as autoridades americanas não o isentaram de culpa. Perguntadas pela imprensa, silenciaram quanto à acusação, mas frisaram que a investigação está em andamento.

           Segundo a polícia americana, a investigação envolve esquema de corrupção superior a US$ 100 milhões na FIFA nos últimos vinte anos, abrangendo fraude, extorsão e lavagem de dinheiro  em transações  ligadas a campeonatos e  acordos de marketing e transmissão  televisiva.  As contas bancárias dos suspeitos no país foram bloqueadas (dois brasileiros estão envolvidos no caso). 

             Há dois brasileiros com as contas bloqueadas: Réu confesso, José Hawilla, septuagenário, dono do Traffic Group , que tem os direitos de transmissão, patrocínio e promoção de campeonatos de futebol e jogadores, além de empresas de comunicação no Brasil. Por outro lado o brasileiro naturalizado (natural da Argentina) José Margulies, conhecido como José Lázaro, é outro envolvido. Intermediava contratos da Conmebol com emissoras de TV e empresas de marketing.

              Deve considerar-se de muita oportunidade a entrada do Federal Bureau of  Investigation (FBI) dos Estados Unidos nesse campo minado. Há muita aparente omissão do poder público, nas competentes instâncias judiciais – excluídas as indiretas e diretas de Romário contra o genro de Jean Havelange, Ricardo Teixeira – em umbrosos episódios que se estendem por tantos anos. A suposta ‘chasse gardée’ (o defeso da caça) para a Justiça Esportiva, amparada pelas diretivas e ameaças da FIFA, terá criado no país do futebol a doce ilusão de que bastaria essa justiça especializada para controlar o futebol.  Pelo que a investigação do FBI está demonstrando, é que há um possível campo (de tamanho a ser determinado) de omissão em tópicos relevantes dos diversos direitos públicos.

       Nesse ponto, a declaração da Presidente Dilma Rousseff se me afigura tristemente  típica da atitude das autoridades de Pindorama. Apesar de rejubilar-se com essa ação do FBI: “acho que vai permitir uma maior profissionalização do futebol”,  ela dá impressão de ser uma espectadora na matéria. 

       Com efeito, perguntada se o envolvimento de Marin e da CBF não sugere que o governo deveria ter mais ingerência sobre a entidade e seus negócios, Dilma lembrou que a legislação brasileira não permite ao Poder Executivo investigar corrupção no setor privado.  Não obstante, ela própria lembra em seguida  que o uso do dinheiro público pela CBF – por exemplo, os recursos desembolsados para a Copa de 2014 – “está sujeito a escrutínio da CGU, do Ministério Público Federal (MPF) e outros órgãos, além da PF (Polícia Federal)”.

        Tudo isso é para ficar bem na foto. Não escapará ao leitor atento é que todas as considerações  estão na faixa do hipotético e do condicional.  São apenas hipóteses. Será que a ação do FBI não mostra os benefícios da investigação levada a sério?

        Entrementes, tudo fica na mesma. Continuamos no plano das hipóteses  e de assertivas tão amplas quanto vazias.

        Se me é permitido adaptar uma frase célebre,  o futebol é importante demais para ser deixado totalmente nas mãos dos paredros da CBF. É um tanto deprimente ficar de basbaque a admirar a ação do FBI, enquanto a Presidenta se enrola em considerações mil atrás das quais se esconde a própria inação.

         Pelo visto, a turma da CBF e das demais confederações latino-americanas podem dar lições de propina aos diretores da Petrobrás e à turminha de quem cuida – e bem! – o juiz Sérgio Moro. Que negócio é esse que futebol é assunto privado no Brasil? Quando uma questão tão importante para o brasileiro pode ser deixada exclusivamente por conta dessa gente da CBF?

          Essa postura de avestruz ajuda a entender melhor o vexame do 7x1, que para o Felipão, é coisa do futebol...  

( Fontes: Site de O Globo, Folha de S. Paulo, O Globo )          



[1] A bagatela de US$ 2,5 milhões de fiança, tendo sido liberado sob a condição de reapresentar-se a doze de julho p.f.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Notícias direto do Front

                                       

Prisões na Fifa

 

        Desde muito se fala em corrupção  nos paredros do futebol. Uma coisa, no entanto, é o que se diz à boca pequena nos círculos da CBD e da FIFA, e outra muito diversa é quando se vê decretada a prisão de um dirigente nacional, que comparecia à eleição do sucessor de Joseph Blatter, como é noticiado de José Maria Marin, ex-presidente da CBD, por ocasião da Copa do Mundo no Brasil e o histórico vexame dos 7 x1 no Mineirão aplicado pela seleção alemã ao scratch canarinho..

        Em que foi que errou a FIFA? Para eles, seguramente, o erro principal foi ter chamado o FBI para investigar... Quem vive em ambiente tão ressecado, é um grande risco solicitar os serviços do Bureau Federal de Investigações, porque eles não costumam brincar em serviço.

        Agora, falando sério, quem acredita que o Marin é o único corrupto na CBD? Na minha opinião, o governo Dilma Rousseff deveria examinar seriamente a possibilidade de intervenção no futebol brasileiro.

        Mas, por favor, encarreguem alguém honesto e com autoridade para limpar a casa. Será muito difícil tal empresa? Por mais podre que esteja o ambiente, haverá sempre gente honesta para encarregar-se da missão. Ou será que pensam ser o Del Nero o nome apropriado para essa missão ?

 

Desenvolvimentos no Brasil e alhures

 

      Nunca um Senador brasileiro saberá tanto dos podres do futebol brasileiro quanto o recém-eleito Romário. Ele já conseguiu as assinaturas para convocar uma CPI sobe a CBF no Senado. Declara que ficará mais contente quando o Ricardo Teixeira for preso.

      As investigações que concernem à CBF focalizam em patrocínios. Dessarte, as propinas estariam relacionadas com acordos de marketing e transmissão de jogos.

       Por outro lado, a UEFA está pressionando a FIFA para que a eleição de seu Presidente seja adiada. O que diz a respeito o Excelentíssimo Herr Joseph Blatter?

 

(  Fonte: site de O Globo  )

Justiça contra a Imigração ?

                               

           O decreto-executivo de Barack Obama, de novembro de 2014, continua a ser mal-recebido pela Justiça Americana.

           Quanto ao juiz escolhido pelos impetrantes da ação de inconstitucionalidade do decreto de Obama, não havia decerto o que fazer. Era um juiz do Texas, estado que há muito deixou de ser democrata, para adentrar o barco republicano. Seria de presumir-se por conseguinte que a primeira instância seria desfavorável. 

           A visão regressiva do Sul estadunidense continua infelizmente a prevalecer. Agora, a Corte do 5° Distrito de New Orleans confirmou, por maioria de votos, a decisão do Juiz singular do Texas.

           Contra a maioria de dois votos, houve, no entanto, um magistrado – o Juiz Higginson – que considerou constitucional a ordem executiva do Presidente americano.

           É clara a necessidade de que a legislação para imigração nos Estados Unidos adquire  forma mais consentânea com a realidade da sociedade americana. Cada vez mais é sentida a necessidade de aporte do imigrante para atender às carências do mercado.

           Diante do bloqueio legislativo então determinado desde 2010, com a ‘tunda’ (shellacking) recebida pelo então  inexperiente Obama, em que o Partido Democrata perdeu a maioria na Câmara de Representantes por causa da famosa ‘tunda’, a possibilidade de aprovar legislação importante se viu gravemente obstaculizada.

           A Câmara Baixa – graças a maioria do GOP construída pelo guerrymandering que o shellacking  de 2010 possibilitara – se tornou feudo republicano. Dessarte, a legislação relevante – como comprovaram a Reforma da Saúde, a Reforma de Wall Street, e a concessão de maiores fundos  para os setores atingidos pela Grande Recessão – virou verdadeira miragem, pela total impossibilidade de cooperação de uma Câmara Baixa dominada pela facção ultradireitista do Tea Party.

             O que a Câmara de Representantes do Speaker John Boehner tenta desde 2011 é provocar paradas no Estado, através da (negação) da renovação do teto fiscal americano, ameaçando inclusive o não-pagamento dos bônus da dívida, com graves possíveis consequências para o Tesouro Americano.

             Entende-se, por conseguinte, que a reforma da imigração, com o assentimento do Senado, não tinha qualquer perspectiva de implementação pela Câmara, a qual por força de sua composição artificial não reflete o sentir da sociedade americana.

             Foi por força desta grave situação de paralisia legislativa em tópicos de alto interesse para os Estados Unidos, que o Presidente Barack Obama optou recorrer ao decreto executivo (Executive order), o único instrumento de que a paralisia do Legislativo tornara mandatória a respectiva utilização.

             As duas Cortes (a singular e a distrital) se serviram do recurso de apelar para a alegada inconstitucionalidade da medida executiva de Obama. Na verdade, a oposição à imigração e à introdução de regras mais humanas e consentâneas com o valioso aporte trazido pelos imigrantes – em sua grande maioria mexicanos e centro-americanos – para atender às lacunas em termos de serviço da sociedade americana do século XXI, cabe sempre ao Partido Republicano, enquanto a maioria dos democratas defende as classes menos favorecidas.

                Diante da necessidade de “consertar um sistema de imigração arruinado” o Presidente resolveu recorrer à sua faculdade constitucional de servir-se de um decreto executivo para evitar a injusta deportação de pais de cidadãos americanos, ou cujos filhos já dispõem de permissão de residência permanente.

                Nesse sentido, Brandi Hoffine, porta-voz da Casa Branca, assinalou que as ações de Barack Obama para evitar a deportação de imigrantes sem documentos “estavam perfeitamente dentro dos limites de sua autoridade”. E referindo-se ao voto que dissentiu da maioria de dois juízes, voto esse emitido pelo juiz Higginson “a ação executiva de imigração do Presidente Obama é totalmente conforme à Lei.”

                No itinerário previsível, o processo deverá ser levado às Cortes distritais de Washington. É muito provável que nesse âmbito, o Presidente tenho ganho de causa.  Contudo, é igualmente assaz provável que essa disputa seja por fim levada à Corte Suprema, onde o resultado é, no mínimo, imprevisível, eis que na mais alta Corte persiste maioria de cinco juízes conservadores com quatro liberais.

 

 ( Fonte:  O  Globo )                                   

BEABÁ do ISIS

                                               

              O chamado ‘Estado do Exército Islâmico na Síria’ (ISIS)[1], e em especial a suacapital’ são mencionados de forma assaz perfunctória pela mídia, a ponto de que a desinformação seja a principal característica dessa entidade. Nesse contexto, a divulgação concernente ao ISIS se assinala por três grandes traços: (a) as decapitações dos reféns; (b) os bombardeios de seus núcleos pelas potências ocidentais, notadamente os EUA; (c) o seu avanço pelos espaços abertos pela guerra na Síria e no Iraque.                 

              Partindo do pressuposto de que é melhor conhecer do adversário, sobretudo por força de seus traços realçados  pelo noticiário, como o seu caráter obnóxio, tão contrário às características do estado moderno, semelha revestir   interesse a descrição de certos aspectos relacionados com a sua ‘capital’.

              A maior parte dos dados foram colhidos em artigo, publicado por ‘The New York Review of Books’, em seu número 2, de 5 de fevereiro do ano corrente. A  autora, Sarah Birke, é correspondente para o Oriente Médio do ‘Economist’, e consoante o resumo fornecido pela NYRB, viveu na Síria por três anos. Presume-se, por conseguinte, que os dados por ela obtidos são consequência dessa cercania.  

              Dadas as características do movimento, é de intuir-se que as fontes primárias de suas informações tenham de ser resguardadas.

              Há muito mistério acerca deste suposto califado. Os seus traços reacionários não poderiam enfatizar mais o desígnio da reexumação do califa, enquanto chefe religioso e político. A sua filiação é do ramo sunita radical. Por não admitir a composição com o “erro”, a transigência não é substantivo que o caracterize. Tampouco ela é aconselhável como norma existencial para os seus habitantes, voluntários ou não.

             Como se sabe, o islamismo é a mais nova das três religiões monoteístas (judaísmo e cristianismo são as outras duas), e talvez por tal característica seja a mais intolerante. Obviamente, esse traço é mesmo nesse credo bastante variável. O Islã já teve fases de maior liberdade, com o sufismo e seus diversos santos. Contudo, o antagonismo presente leva a que os crentes do Suna (tronco) vejam na Xia (o novo ramo saído de um dos sucessores de Maomé) mais do que adversários, inimigos.  Nesse contexto, a seita Alauíta (uma composição de várias crenças) é considerada pelos sunitas radicais (e são estes os dirigentes do ISIS) como outro inimigo, no mesmo nível dos demais credos, islamitas ou não.

              A tolerância – ou a compreensão do Outro – é um dos traços das religiões mais antigas como o Hinduismo e o Budismo. Não sói, no entanto, ser característica do mundo islâmico, embora o paroxismo presente nem sempre haja prevalecido. Talvez o caráter mais intolerante do islamismo surja no Egito, com o sunismo politizado da Fraternidade Muçulmana, fundada pelo mestre-escola egípcio Hassan al-Banna, em 1928. Essa postura radical – com a  suposta volta às raízes – está igualmente na seita Wahabita, da Arábia Saudita, no movimento terrorista da al-Qaida  e nos talibãs do Afeganistão.

               Dentre as proibições das seitas islamitas mais radicais – e a sunita é uma delas – a figuração do humano é expressamente desaconselhada.  Nesse contexto, entende-se melhor – embora tal não seja sinônimo de aceitação – que os muçulmanos não vejam com bons olhos desenhos a respeito do Profeta Maomé, e, a fortiori, qualquer caricatura do fundador de sua religião.

                Mas voltemos aos dados disponíveis sobre a localização atual de sua ‘capital’, que é a cidade síria de Raqqa, situada no norte da Síria.  A sua população atual estaria entre 250 mil e 500 mil habitantes.

                Pela sua localização e facilidades de conexão com outras áreas de atividade do ISIS (o leste sírio e o Iraque, nele incluído o Curdistão), embora Damasco nominalmente se oponha ao Estado Islâmico, a presente situação de Bashar al-Assad pode levá-lo a considerar que quem não é seu inimigo declarado, possa ser tolerado, atendidas determinadas circunstâncias.

                O Estado Islâmico tem como  chefe – ou Califa – Abu Bakr al-Baghdadi, que é obviamente sunita. Presume-se que resida em Raqqa, mas não se deve exagerar nesse verbo.  Esta cidade é um dos alvos principais de bombardeio ocidental. Na distribuição de tarefas, os Estados Unidos são responsáveis por 97%  das ações (de que igualmente participam a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos). Da coalizão contra o ISIS participam também o Reino Unido, a França e a Austrália, mas as intervenções desses últimos três países se restringem ao território do Iraque.

                 Pelo que se possa saber do Estado de características medievais,  a população, além de apreciar a versão radical do Islã, apoia a própria liderança, e gosta de assistir aos únicos  espetáculos organizados  pelo ISIS. Como se sabe, tal ‘diversão’ – que o ISIS faz realizar em colina nos arredores da cidade – é a decapitação. Os vídeos passados aos serviços da imprensa ocidental mostram um grupo de infelizes que, por motivos diversos, caíu em mãos desse exército radical. Por serem infiéis, terão a cabeça decepada. Dessas vítimas, há nacionais americanos e de outros países europeus e próximos ao Ocidente, como o Japão.

                 A decapitação é a forma tradicional de ‘justiciar’ o infiel, ou aquele que por circunstâncias fora de seu controle caía nas mãos desta malta. O ISIS busca justificar a prática abominável como represália aos bombardeios americanos dos núcleos do movimento no Iraque e na Síria. Dados os traços medievais do Exército Islâmico – o califado, a intolerância como norma de conduta do poder, a aplicação da Sharia – não há de causar espécie que as execuções, além de entendidas como meio político, sejam vistas em nível de espetáculo para o povão.  

                 Não há outras diversões presumíveis neste estado radical. Segundo consta, a população deve cuidar-se dos bombardeios, embora não haja detalhes sobre o eventual procedimento. É lógico que as ações aéreas visem à liderança do ISIS, e daí a preocupação dos chefes e subchefes em circular continuamente.

                  Embora tal informação deva ser tomada com reserva, não existiria corrupção na área sob controle do ISIS. Esse traço positivo da liderança – dada a prevalência dessa usança em toda a região (e dizem que ela existiria mesmo em outros países...) – não deixa de ser mencionado de forma positiva pela população da ‘capital’  do Califado.

                  Quanto a outras formas modernas de comunicação, são de difícil utilização, mas podem ser acessíveis à população desde que deseje pagar por elas, dadas os inúmeros entraves existentes, que seriam  mais de ordem prática do que política.

 
Fonte: Artigo de Sarah Birke, Como o ISIS governa -The New York Review (número 02,


[1] Abreviatura da denominação em inglês de ‘Estado Islâmico na Síria’.