sábado, 6 de fevereiro de 2016

Propaganda encabulada


                              
        Vocês já viram a última propaganda política de um determinado partido que parece ter sido concebida sem pecado? Com efeito, e sem que me acusem de ilações inconvenientes ou mesmo pecaminosas, os novos magos da publicidade do grêmio político que, de repente e sabe-se lá por que, começou a apresentar inquietantes sintomas de rejeição popular, vejam só meus ilustres passageiros do velho bonde Brasil, o belo tipo faceiro que o senhores têm a seu lado!?

        A dizer verdade, não é alguém que o Rum Creosotado tenha salvo... É um ente estranho, que parece não ter passado nem presente. Lembra aquele tipo a que o poeta se refere - boca presa, que seu pai aí vem chegando!

        De repente, o estranho anúncio fala de tudo para de nada falar. É toda uma construção sem características, muitas palavras, mas ao cabo, se se busca aferrar com os punhos ou a cachola o que quer dizer, parece estória água com açúcar, que fala de tudo para nada significar.

       E os preciosos minutos do comercial-político, em que outros partidos - e há tantos a literalmente perder de conta nessa república de Pindorama, que inventou a multiplicação das ideologias, que ora são tantas que perderam o sentido para quem pensa sério, e ganharam triste sentido para aproveitadores venais e sanhudos da liberdade do pensamento político, que tanto a subdividiram de modo a torná-la sem sentido para a gente séria - hão de ver inquietos esse espaço outorgado pelo Povo e que a vergonha (ou o temor) obriga a ocupar sem nada dizer.

       Para que se tenha uma pista do discurso desenxabido, que asperge como se fora água benta conceitos sem nome, como se o espaço político fosse para ocultar-se, pundonoroso, do olhar público a que parece temer...

       Só no final a estrelinha vermelha que surge e logo se apaga, como se a demasiada exposição de uns poucos segundos já fosse por demais...

       Tanta vergonha, tanto rubor - que até pode ser usado para colorir a estrelinha - o que se esconde por trás dela, por trás dessa mesura ?...

       Como dizia a canção boa coisa não é...          

 

(Fontes: propaganda eleitoral obrigatória, Carlos Drumond de Andrade )

Nenhum comentário: