domingo, 21 de fevereiro de 2016

Colcha de Retalhos D 7


                          
Delcidio Amaral em prisão domiciliar

 
         Segundo escreve em sua coluna de ontem Merval Pereira, está praticamente confirmada a delação premiada do Senador Delcídio Amaral.

         Com isso, "a investigação da Operação Lava-Jato ganhará um fôlego ainda maior diante da gama de relações que o ex-líder do governo petista cultivou em sua trajetória política."

         Prevêem-se inúmeras saias-justas na volta de Delcídio ao convívio dos que ainda são seus pares. Que ele nunca foi unanimidade no PT não há dúvida. O próprio Presidente do PT, o deputado Rui Falcão, disse, após sua prisão, que a legenda não precisava dar "qualquer gesto de solidariedade". Assim, depois do encarceramento - que durou 85 dias - o Ministro do STF encarregado da Lava-Jato, Teori Zavascki, o autorizou a responder as acusações que pesam contra ele na supracitada Operação, em prisão domiciliar.

         Teori rejeitou o pedido do MPF para que Delcídio usasse tornozeleira eletrônica. Se já é esdrúxula a sua condição de prisioneiro domiciliar, enquanto em exercício do mandato, ele está obrigado, com hora marcada para estar em casa à noite, assim como nos fins de semana e feriados não poderá sair para passear. Como sublinha Merval Pereira, "vai para sua prisão domiciliar, não para a cadeia, mas continuará sendo um senador cumprindo prisão, mesmo que domiciliar."

          Além de obviamente não poder participar de reuniões noturnas (...), e nem será mais um parlamentar que gere confiança  em seus interlocutores, "pois pode tê-los delatado ou estar disposto a fazê-lo em alguma oportunidade".

           Torna-se assim ameaça ambulante para os seus pares. A par disso, "a presença de Delcídio no plenário do Senado servirá para piorar ainda mais a imagem do Congresso, que assim atingirá o ápice da desmoralização: terá entre seus pares um senador em prisão domiciliar."

           A esse respeito, o Senador Paulo Paim (PT-RS) descartou a possibilidade de atitude mais drástica do PT, com a pronta destituição da presidência da Comissão de Assuntos Econômicos, ou mesmo a expulsão do partido. Paim lembra que Delcídio não está condenado. "Sempre haverá um constrangimento nesse reencontro, mas culpado é culpado, e inocente é inocente. Eu votei que o Senador Delcídio ficasse à disposição da Polícia Federal, mas se o Supremo Tribunal Federal decidiu que ele pode responder em liberdade seu processo, que reassuma com todas as suas prerrogativas".

             Não obstante tais declarações do Senador Paim, todas as incertezas que cercam  Delcídio - inclusive sua provável delação premiada - tendem  a tornar-lhe difícil a própria situação, máxime no que concerne  às funções que atualmente ainda retém. Elas poderiam criar dificuldades e constrangimentos que levem à sua destituição de tais cargos, a começar pela circunstância de que ainda é líder do governo no Senado.      

   

Déficit bilionário de R$ 60 bilhões

 

             Com a sistemática recusa de enfrentar a real situação financeira do pais, a equipe econômica informou que vai encaminhar ao Legislativo proposta que permita à União abater R$ 84,2 bilhões da meta fiscal (hoje ela é de R$ 24 bilhões). Trocando em miúdos, isto significa  que o déficit do governo federal pode chegar a R$ 60,2 bilhões.

             Para acalmar o mercado, que já prevê um rombo de R$ 70,7 bilhões nas contas de 2016, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, também apresentou projeto de reforma fiscal que será encaminhado ao Congresso fixando um teto para os gastos públicos. A idéia é que tal regra possa valer já para 2017. Quando as despesas superarem o valor definido em lei, serão acionados vários gatilhos para conter os gastos. Eles incluem até a suspensão do aumento real do salário-mínimo

              Malgrado o desgoverno e a situação das contas públicas - que estão entre os fatores que levaram à demissão de Joaquim Levy - a administração do Ministro Nelson Barbosa continua no faz-de-conta que essas medidas - que pressupõem firmeza atualmente inexistente - sejam para valer.

              Como solução o governo preconiza a famigerada CPMF. Em um processo primitivo, pensa-se apenas  em empilhar tributos. Nada se fala - e sequer se considera - acerca da possibilidade de uma real reforma tributária, com a agilização dos tributos e um sopro de modernidade. Caberia repensar o nosso sistema tributário, hoje totalmente ultrapassado, pois vivemos no mundo do impostômetro, com o respectivo enorme ralo do desperdício (e da corrupção). Estamos quase na idade da pedra do sistema fiscal, e sequer se pensa em implantar o IVA, com a agilização da aplicação dos impostos nas suas esferas federal, estadual e municipal.

                    O nosso sistema tributário permanece vítima de  mercantilismo às avessas, eis que o ICM (imposto de circulação de mercadorias)  tem formato antiquado e, por outro lado, o ágil IVA - que é aplicado com sucesso em tantos países, aqui é enjeitado.

                    Será que o nosso modelo será sempre o patrimonialista?

                    Como  já é patente, corrupção e burocracia são duas forças que se complementam, mas não no interesse da Nação.

 

           
O Referendo Britânico sobre a UE

 

 
              Marcado para 23 de junho, o referendo no Reino Unido sobre a permanência na União Europeia mais uma vez divide a Inglaterra. Não é de hoje que esse aut-aut se coloca para Londres.

              O Reino Unido, na primeira tentativa de entrar na  Comunidade Europeia, teve barrado o caminho pelo general de Gaulle, em uma de suas conferências de imprensa, o que equivaleu a um veto.

              Apesar da oposição interna, o Reino Unido acabou acessando a União Europeia, já bastante mais tarde.

               Ao tempo de Tony Blair, já fora realizado um referendum, que decidira pela permanência inglesa em Bruxelas.

                Agora, depois de postura ambígua, o premier David Cameron, pensando ganhar tempo e as eleições gerais intervenientes (o que de fato ocorreu),  resolveu correr o risco, embora não se saiba bem para quê.

                Conquanto pareça, por vezes, oportuno, grita aos céus que o Reino Unido - como o sentiram, de resto, seus líderes que lograram vencer a postura insularista inglesa, e associar-se ao mercado comum europeu - dificilmente poderá prescindir da União Européia, com o seu parque industrial e os seus consumidores.

                Sem embargo, Cameron, ao que parece, semelha desejar exorcisar o perigo de uma volta ao insularismo britânico, ao tentar atravessar as forcas caudinas de mais um referendo sobre a permanência em Bruxelas.

                Ninguém o forçava a tanto, salvo talvez a própria fraqueza, e os costumeiros saudosistas do isolamento inglês.

                Nesse contexto, se me permitem a forma de expressão, não se deve brincar muito com uma alternativa que se sabe retrógrada, se não reacionária, porque ela pode acontecer.

 

                 Mais uma vez um  primeiro-ministro britânico tenta o referendo, pensando servir-se desse instrumento para conseguir mais concessões de Bruxelas.

                

                 Após brincar com fogo por bastante tempo - e hoje ter a metade do próprio gabinete posando de anti-europeísta - o fraco David Cameron tem  decerto pela frente um senhor problema, que pode até ficar mais grave, se o tiro sair pela culatra...

                     

 

(Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo)

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