sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

É a economia, estúpido !


                                    
        De novo, a frase famosa de Bill Clinton, que lembrava o eleitor, na sua campanha contra o Presidente George Walker Bush (o velho), de o que realmente interessava cuidar.

        Se a apóstrofe já é antiga, ela não perdeu o significado, seja no âmbito global, seja no que concerne a Pindorama.

        O prêmio Nobel Paul Krugman na sua coluna no New York Times de hoje recorda a pertinência da frase que não valeu apenas para 1992 - motivando a vitória de Clinton contra George Bush - mas também para os tempos que correm.

        E vejam só como se resume a coisa para Krugman: "De novo temos uma quantidade substancial de dívidas complicadas, desta vez não hipotecas residenciais, mas empréstimos para companhias de energia, atingidas fundo pelo despencar das cotações do petróleo.  Entrementes, economias emergentes anteriormente na moda como o Brasil de repente estão indo muito mal, e a China tropeça.  E, enquanto a economia americana se está dando melhor que quase todos os demais, não estamos decerto imunes ao contágio."

          Só o grifo é meu, mas toda avaliação pertence a Krugman, e como sempre tudo o que interessa está nela.

         Todos os atores da atual crise - pelo menos, os que mais interessam - estão nesse parágrafo. As dívidas complicadas, a causa imediata (não mais a jogada dos CDOs[1] sobre as hipotecas podres, mas a baixa alucinante nas cotações do petróleo, e as consequentes dívidas das companhias de energia), o tropeço da China - que assinalei no blog de ontem - e o problema no Brasil - que esperamos esteja no cast secundário e não no principal.

          Como se verifica, o Brasil tem dupla participação nessa crise. Posto que o problema da Petrobrás não tenha prima facie nada a ver  com as dificuldades das demais companhias, que são agravadas pela política da maior produtora, a Arábia Saudita, que é, na prática, a de tirar do mercado os produtores de sucedâneos ao forçar a violenta baixa nas cotações do barril de petróleo. Grita aos céus, no entanto, que essa queda não lhe facilita a respectiva posição, já afetada seriamente pela política de aparelhamento de nossa maior empresa pelo governo do PT.

           A corrupção, como auxiliar sistêmico na política, já se tinha visto no Mensalão, a famosa ação penal 470, que o Brasil deve em grande parte ao Ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, e presidente do Supremo Tribunal Federal. A opinião pública que costuma ver mais longe, assim como jurisconsultos, souberam avaliar da qualidade e seriedade do trabalho do Ministro Barbosa. Este último, baseando-se em teoria jurídica nova, a do domínio do fato, logrou vencer o desafio. Havia ministros no Supremo ligados ao PT que se empenharam em atrasar o processo, e a colocar as ocasionais pedras no caminho. O Presidente Barbosa levou, no entanto, o trabalho até o final, e se nem todas as suas posições prevaleceram, o conjunto da obra reflete a qualidade, a integridade e o empenho do relator.

           É lamentável que um valor do peso e da qualidade do Ministro Joaquim Barbosa haja preferido interromper a sua presença na mais alta Corte, uma vez findo o seu hercúleo esforço. Dados, no entanto, o apreço e se pode mesmo dizer a popularidade que lhe valeram a coragem, a capacidade de trabalho, e a qualidade jurídica de sua obra, é possível que outros lauréis, compatíveis com a sua obra, ainda lhe possam ser estendidos pelo Povo Soberano.

           O julgamento do Mensalão - a hoje famosa Ação Penal 470 marcaria época. No país da impunidade, muitos políticos importantes foram condenados a longas penas de prisão. 25 réus condenados, dentre os quais José Dirceu, Chefe da Casa Civil de Lula da Silva; José Genoíno, ex-presidente do PT; Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT; ex-deputado João Paulo Cunha (PT), ex-Presidente da Câmara dos Deputados; ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o delator do mensalão, e Marcos Valério, publicitário mineiro.

            Na política interna, com plantel legislativo e político bastante avantajado, o PT mostrou ao que vinha, em termos de tentativa de manipulação do Congresso, através de compra não de votos, mas de bancadas políticas.

           Diante, porém, do affaire Petrolão, o governo do PT - posto que tais operações tenham sido mais ou menos simultâneas - mostrou ambições ainda mais largas e por certo muito maiores no seu escopo.

           Nunca como neste caso a aplicação da chamada  lei de lord Acton terá sido tão pronta e sôfrega. De partido hiper-zeloso e correto ao extremo, não houve o que se poderia denominar kafkianamente de processo. A coisa foi na bruta, mesmo, levantando suspicácias de que não houve a chamada corrupção strictu sensu. Com todas as suas pretensões e as veleidades de um Savonarola, o Partido dos Trabalhadores, e a sua liderança, pela maneira com que abraçou a corrupção como meio não deixa dúvidas quanto a sua opção pelo processo da ilicitude como meio de ação e de que aguardava  apenas a oportunidade de empolgar o poder para dele valer-se de forma ilimitada.

        Quando as suas lideranças assumiram o poder executivo, não tardaram em buscar meio e modos para igualmente dominar o Legislativo, através de 'acordos políticos' que sancionavam o controle de bancadas de outros partidos, como o chamado delator do Mensalão, o Deputado Roberto Jefferson (PT-RJ) acabou levando ao conhecimento público a compra sistemática de votos causando a queda de José Dirceu da Casa Civil, e o início do longo processo que culminaria anos mais tarde no julgamento pelo Supremo Tribunal Federal da chamada Ação Penal 470, com os seus 25 réus condenados.

         Se o chamado Mensalão é processo acabado, no sentido de cousa julgada, continua, no entanto, a produzir resultados, como a recente extradição da Itália, obtida pela justiça brasileira de um foragido do Mensalão, Henrique Pizzolato, que com documentos falsos (inclusive valendo-se da identidade do irmão já falecido) se refugiara na Itália. Uma vez preso pela polícia italiana, toda a batalha jurídica girou em torno da condição dos estabelecimentos penais no Brasil em fornecer cárceres dignos para os condenados da justiça cumprirem pena. Depois de longa luta jurídica - em que Pizzolato chegou a recorrer à alta Corte Europeia de Direitos Humanos em Estrasburgo, tentando conseguir cumprir o restante da pena em cárcere italiano - o prófugo foi recambiado à Penitenciária da Papuda, nas vizinhanças de Brasília, aonde atualmente o ex-funcionário do Banco do Brasil cumpre o restante da pena a que fora condenado in absentia pelo STF.   (a continuar)

 

( Fontes: The New York Times; O Globo; Folha de S. Paul; The Oxford Dictionary of Quotations; Michael Lewis - The Big Short )




[1] Obrigações de Dívidas Colaterizadas (CDOs) - na prática juntada de obrigações com hipotecas, em geral contraídas por pessoas pobres, e que a despeito disso obtiveram através dos bancos a classificação AAA, das Agências de Avaliação de Risco, nos Estados Unidos.

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