quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Hillary depois de New Hampshire


                                   

        De pouco serviram as invectivas de Bill Clinton, e as saudosas lembranças de vitórias no passado. A gente jovem de New Hampshire ignorou a 'veterana' Hillary e preferiu votar na promessa de Bernie Sanders, que depois de décadas de obscuridade reponta para agregar os opositores da ex-Senadora por New York.

        É muita gente que, sem conhecê-la, professa dela desconfiar, enquanto os seus inimigos de carteirinha podem sair das tocas para investir contra Hillary, pensando dispor de preciosa oportunidade para afastá-la de vez.

       Para quem se agrega ao lobby parlamentar pró-armas, que se professa socialista e anti-bancos e establishment, não poderia ter o Partido Democrata melhor candidato, se está interessado em abrir as portas da Casa Branca para que alguém que, no frigir dos ovos, possa ser apresentado pelo GOP como perigoso socialista, alguém que quer investir contra os bancos e Wall Street.

       Estranha maneira de o partido de FDR, John Kennedy e Barack Obama querer impedir a volta dos republicanos, sob Donald Trump, ao poder! Mexicanos e outros latinos, preparem-se para a fúria republicana, que vai construir enorme muro para barrar a migração dos 'latinos', não aqueles que matam e violentam, mas que trabalham no campo e fora dele, embora até hoje pobres de garantias.

       Dizem  que Donald Trump não é típico, mas peço vênia para discordar. Ele tem, pelo menos, a virtude de dizer o que muitos pensam, e não ousam pronunciar, assustados pelos castigos da correção política.

      Dizem que Bernie Sanders, posto que embalado por longa e inabalável mediocridade, se prepara para investir contra os moínhos de vento dos grandes bancos, além da concentração de renda do grande capital! Por isso, as mulheres do pequeno estado rural de New Hampshire o acharam preferível a Hillary.

       Por que ela tem tantos inimigos que, alegres, levantam as cabeças nas colunas da grande imprensa, quando se alvorotam ao ver na neve de New Hampshire as marcas da sanhuda derrota imposta por jovens mulheres que alegremente desconhecem as suas passadas porfias, e a bagagem no Congresso. Que maior alegria podem ter os republicanos e os inocentes úteis de vê-la fustigada por gente que não a conhece, e dela tem desconfiança por não ter sido medíocre como tantos outros que ora militam no campo adversário?

        Os Clinton pensaram que New Hampshire, este pequeno estado que lhes proporcionara no passado grandes vitórias, lhes seria grato, e não lhes faltaria nessa hora difícil...

        Entrementes, os muitos que a temem aproveitam a oportunidade rara em que vaca desconhece bezerro.      Com efeito, os que a temem aproveitam a chance  e saem de seus esconderijos, pensando investir na hora em que a onça desce para beber água.

       Por que aos poderes da terra americana atemoriza tanto o casal Clinton? Podem até tentar abraçá-la, mas seria melhor evitar esse amplexo... Nem sempre, os braços que envolvem serão para dar forças e alento...

       Se muitas mulheres preferem que o pavilhão seja levado por alguém que surge como o candidato dos sonhos do Partido Republicano - é socialista, promete investir contra os bancos de Wall Street, vota com o partido das armas, e advoga impostos mais altos - algo de muito errado está ocorrendo com a divulgação e publicidade do Partido Democrata.

       Ao invés de mostrar ao público feminino o que significa ter mulher na Casa Branca - e não como cônjuge - o que seria mais um avanço na democracia americana, o que deseja o estabelecimento democrata? Entregar de bandeja a presidência a mais um republicano - seja ele quem for - ou investir no futuro, com a construção de sólida aliança entre o progressismo e a esperança, entre o liberalismo e os latinos, entre uma América que não se refugia atrás de muros, mas que confia  na solidariedade e no trabalho, na democracia que abomina todos os seus inimigos - o gerrymandering, as longas filas, a burocracia do medo nas seções eleitorais, e tudo o mais que deseja sufocar a vontade das maiorias- essas que só querem o voto limpo, a confraternização e o progresso.

        Votar em Hillary é trazer o futuro para o presente, pois é isso que será o porvir: abrir as portas sem medo do amanhã. Dele hão de participar  pobres e  ricos, latinos e  anglo-saxoes, velhos e jovens, negros e brancos, nessa grande democracia que une a todos e que só abomina  rótulos,  preconceito e  intolerância!

 

( Fontes : The New York Times, O  Globo )  

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