terça-feira, 11 de agosto de 2015

Vexame Olímpico (II)

                                             

         A resposta das autoridades do Rio de Janeiro (Estado e Município) no que tange ao problema da Baía de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas se pode resumir no cínico “Não ‘tou nem aí” da contestação de conhecido político no que concerne aos seus problemas com a Justiça.

         No entanto, importa não confundir as questões. Enquanto esta última é assunto pessoal, que concerne ao Senhor Paulo Salim Maluf, a primeira delas diz respeito ao Rio de Janeiro e ao próprio Brasil.

        Se é vergonhoso que se haja prometido atender a seu devido tempo o desafio da poluição na Baía de Guanabara, para assegurar a sede da Olimpíada, e nada, absolutamente nada, tenham Estado e município feito a propósito, e agora se refugiem no virtual cinismo do fato consumado, como se fora solução.

        É lamentável que a inércia do Estado e de suas inúmeras administrações nada tenha feito a propósito. Tornou-se triste característica da nacionalidade o de ser alegadamente bom de gogó, que seria uma importação do ethos carioca para o gentílico brasileiro.

        De início seja dito que o carioca, conhecido pelo bom humor e a boa disposição, não se caracterizou no passado por atitude tipo da vida nada se leva, e o importante seria aproveitar e não cuidar do meio ambiente.

       Recordo-me perfeitamente que a Baía de Guanabara não era essa pocilga em que se transformou nos últimos decênios. Como já escrevi nesta coluna, sou disso testemunha. Levado pelos meus tios a recantos desse belíssimo anfiteatro que a natureza nos proporcionou – e não foi sem lutas, e lá está Estácio de Sá para confirmá-lo – essa é agradável lembrança, dessa bagagem que levamos com gosto pela vida,  dos prazerosos mergulhos no Largo de São Francisco a que a lancha nos levava.

       Dos cinzentos tempos do presente, há dois aspectos a considerar: o respeito ético que o pretendente à sede do festival olímpico deve levar consigo ao comprometer-se a realizá-la. Dizer que fará a limpeza da casa e depois simplesmente faltar ao compromisso, já é falta grave e inaceitável. Valer-se do constrangimento da hora e sem respeito algum – mesmo a si próprio – forçar o fato consumado, é coisa de moleque, de gente que não preza a respectiva palavra, nem a imagem da nacionalidade. Dessarte, nessa estória da baía, o que mais me impressiona e confrange, não é tanto a quebra da promessa, mas a desfaçatez em lidar com a situação.

        O segundo aspecto a que me referi estaria em que, nessa situação vexaminosa, se faça pelo menos um esforço em melhorá-la (no caso da baía) e em atendê-la (no da Lagoa Rodrigo de Freitas).

        Tenham a coragem de mostrar algum caráter em situações adversas. No da baía, se a questão não se pode resolver por inteiro, dada a desídia de anos a fio (de que participa e muito a atual administração estadual), tenha-se ao menos uma fímbria de determinação e boa vontade, tomando medidas extraordinárias para diminuir com que se persista em tratar a baía de Guanabara como se fora ignóbil fundo de quintal, lugar feito para despejar os restos e o lixo do dia-a-dia. Apelemos a um caráter que se deixou esquecido por demasiado tempo.

        Quanto à Lagoa Rodrigo de Freitas, as suas dimensões tornam possível – muito possível mesmo – esforço resoluto e generoso para corrigir-lhe a atual situação.  Devemos procurar pelas bocas clandestinas de esgoto que lhe rodeiam o natural traçado. Não são difíceis de determinar-lhes a respectiva posição, punir os responsáveis, e corrigir, não com remendos, mas com obras sérias e para valer, este abuso privado a um bem público.

        Há decerto outras providências menores – como manter aberto o canal oceânico – que a desídia da prefeitura teima em deixar assorear, e tantas outras que a autoridade – que para isto foi eleita – conhece bem.

        Passamos lá fora como gente boa de gogó, que encontra desculpa pra tudo, e que com isso pensa esconder os próprios defeitos.

        No íntimo desses muitos indivíduos sem cultura, a que a educação não mostrou o quanto vale preservar a própria casa – na verdade, as duas, a respectiva residência, por mais humilde que seja, e o entorno que nos é dado pelo meio-ambiente, essa vasta habitação que o bicho homem tanto tem maltratado e  de que ora começa a colher os amargos frutos do desamor ao mundo que nos cerca – e nos acalenta.

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