sábado, 22 de agosto de 2015

Dilma tem salvação ?

 
                                         

         Antes de ocupar-me das últimas características de Dilma Rousseff, consoante verificadas nesta crise do regime petista, não se deve esquecer o caráter do chefe supremo. Nas diversas provações atravessadas pelo capo di tutti i capi (o chefe de todos os chefes) ele tem dado prova de um afastamento de qualquer plano sentimental. Todas as suas grandes decisões são tomadas no interesse do partido, o que trocando em miúdos significa  seguir o que lhe determina a sua intuição, que, pelo visto, costuma soprar-lhe que fora dele não há salvação para o Partido dos Trabalhadores. Assim, para que bem entendamos o pensamento do Chefe, devemos desnudar todas as suas grandes determinações como pautadas em obedecer ao estrito interesse do PT. Daí se segue, portanto, que as suas principais decisões se atêm a essa premissa básica de que nada serve melhor ao partido do que atender aos direitos de seu fundador e presidente.

         Reveja-se o seu comportamento pretérito, tanto em hora de crise, quanto em momentos de decisão sobre os rumos a seguir, e a sua posição tem sempre se atido ao respectivo interesse, eis que isto será sempre visto por ele como a outra face de o que melhor há de servir ao próprio PT.

        E tenha-se desde já presente que não é o caso de obtemperar acerca do circularismo dessa posição. Para ele, não há qualquer distinção entre interesse do PT e interesse dele próprio. Os dois se superpõem e se confundem. Por isso, Sua Excelência nunca hesitou quando soa a hora das magnas decisões. Foi assim quando, na crise do Mensalão, aceitou que o companheiro José Dirceu, que passava por seu delfim, se exonerasse da chefia do governo no Planalto, e partisse para a Planície a fim de assumir as eventuais responsabilidades pelo magno escândalo.

        Tampouco o Presidente, após dar-se conta de que inexistia em Pindorama espaço para soluções chavistas em termos de reeleição sem limite, consultou in camera a ele próprio e tirou da algibeira a destapada Dilma Rousseff, a quem fez passar não por chefe de gabinete, mas por uma espécie de Primeiro Ministro, para assim melhor azeitar os trilhos da sua chegada à Presidência. Diga-se de passagem que tal só foi possível pelo despreparo de cunho clientelista de boa parte do eleitorado, assim como pela inépcia do candidato oposicionista.

         Por isso, não se surpreendam com a falta de sensibilidade e o comovente egoismo das decisões do grande líder petista. Como se pode descrever, de resto, a sua alegada iniciativa de agora pedir ao companheiro Dirceu que se desfilie do PT, para que a presença do seu ex-delfim não venha a prejudicar a imagem do Partido?

        Por outro lado, a presidente Dilma Rousseff, que entrou de pé esquerdo no seu segundo mandato, é a legatária das mentiras (com que se livrou do desafio, ultratemido pelos petistas, de ter de enfrentar em segundo turno, a veraz, honesta e carismática Marina), logo mostraria que a sua segunda versão poderia ser ainda pior do que a do primeiro mandato (quando bagunçou a economia e trouxe a inflação de volta). Não surpreende, por conseguinte, que com tal desfaçatez, a sua popularidade despencasse.

          Como os leitores do blog já sabem, segundo José Ingenieros, os medíocres podem ter valor.  Mas convém não exagerar na dose. Por isso, a Presidente quer e não quer ser ajudada pelo Vice. Seria natural que alguém tão inepto em termos de articulação política recebesse com ansiosa gratidão o auxílio de um político tarimbado. Sem embargo, se acaso Michel Temer conseguir melhorar a situação, dada a insegurança (insuflada pelos intrigantes de turno) da Chefa, isso pode torná-lo suspeito de querer ir além.

           Para o circulozinho a sua volta, o sucesso do Vice será havido como prova de desleal subordinado, que, enquanto primeiro na fila da eventual sucessão, estaria acintosamente mostrando os respectivos atributos, e por isso mesmo, desmerecendo do trabalho daquela  que eles continuam a chamar de Presidenta...

 

 ( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo )

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