domingo, 23 de agosto de 2015

Análise do Fator Donald Trump



        Há uma série de erros sobre a candidatura do megamilionário Donald Trump. A idéia inicial seria a de um fenômeno do verão. Houve no passado pré-candidatos que surgiram com muita força e de repente, desapareceram do visor. Herman Cain, em 2011, é prova disso. Outro exemplo, de quem surge com vigor, mas por causa de erros e gafes, também fica para trás:  O ex-governador Rick Perry, do Texas, é amostra desse tipo de pré-candidato. Semelhante àquele que nas corridas de cavalos, logo cai para o pelotão de retardatários.

        Por outro lado, se disse que a ilusão da postulação Trump desapareceria, quando confrontada por pré-candidatos mais preparados, e com base de apoio mais estável. Isso também se pensava. Mas no recente debate dos principais pré-candidatos do GOP, estavam os muito citados Jeb Bush e Scott Walker.  Ter participado das discussões e ter sido visado especialmente – inclusive por jornalista da Fox – não afetou, nem desestabilizou Mr Trump.

         Análise  de sua pré-candidatura pelo New York Times estabelece que Trump formou larga, demografica e ideologicamente diversa coalizão, que formou construída em torno de sua personalidade e não da substância das matérias envolvidas. A vantagem dessa aliança reside em estar acima das divisões políticas e demográficas. Em assim procedendo, Trump está protegido das eventuais consequências de afirmativas ousadas que poderiam afundar as candidaturas rivais.

          Assim, em pesquisa após pesquisa, Trump lidera entre as mulheres, apesar de seus termos ‘porcas gordas’ e ‘animais nojentos’, sem esquecer a menção do fator menstrual sobre o eventual juízo feminino. A sua liderança não para aí. Está na frente nas preferências dos cristãos-evangélicos, a despeito de haver dito que nunca teve uma razão de pedir perdão a Deus. Também está na frente, entre moderados e votantes de nível universitário, malgrado a sua mensagem populista e anti-imigração, que é suposta cair melhor com a faixa conservadora e os votantes com menos recursos. Além disso, ele lidera entre os votantes mais frequentes (nas primárias), ainda que o seu atrativo seja maior junto àqueles que pouco votam nas primárias.

           A avaliação do New York Times não minimiza os problemas que a sua candidatura enfrenta. A maioria dos republicanos não apóia a sua candidatura e não semelha com vontade de mudar de ideia.

             Contudo a amplitude da coalizão  de  Donald Trump é surpreendente em um tempo de divisões religiosas, ideológicas e geográficas no Partido Republicano. Há um sinal forte de que a sua candidatura não é um fenômeno temporário, tendente a logo desaparecer.

             Diante desse largo apoio no espectro do GOP, os seus adversários já sentem a pressão de confrontá-lo desde já (Jeb Bush e Scott Walker já estão malhando este ferro). A sua sustentação não está ligada a nenhuma questão ou sentimento isolado: imigração, ansiedade econômica ou atitude  anti-establishment. O que semelha mais importante é sua personalidade, celebridade e ousadia. Dessarte, o seu populismo e as suas posições políticas tornam possível que ele defenda de forma crível posições tido por polêmicas.

             Os seus partidários, com diferentes vivências,  enfatizam que ele ‘diz como é realmente’, e muito apreciam a circunstância de que ele ‘não é politicamente correto’.

             Quando perguntados sobre as qualidades que traria para a Casa Branca, eles mencionam o executivo implacável que gostava de demitir funcionários pela tevê.  Outros referem os seus campos de golfe, de manutenção impecável. E o refrão: ele é alguém que faz (gets things done).

              Tampouco para os partidários,não é um defeito não ter experiência executiva. Que ele não a tenha, é uma das principais razões porque seus partidários o querem em Washington.

               Outra vantagem de Trump é que ele supera os seus concorrentes em segmentos em que eram supostos vencê-lo com facilidade.  Assim, ele vence o Senador Ted Cruz, do Texas, entre os partidários do Tea Party (26% a 13%), o ex-governador Mike Huckabee, de Arkansas, antigo pregador, de 21 a 12%, entre os evangélicos, e lidera Jeb Bush, ex-governador, e favorito dos republicanos moderados, de 22 a 16%.

             Outra suposta desvantagem de Trump – a sua falta de lealdade com o GOP e os seus francos e cáusticos ataques aos rivais – na verdade confirma a sua condição de outsider desejoso de desafiar as convenções, e satisfaz um desejo de um approach franco e sem hipocrisia. Um policial aposentado de Nova Iorque declarou: a gente começa a ver que esta correção política é lixo.

            Outra motivação para apoiar Trump estaria na sua riqueza.  Muitos sinalizaram a sua fortuna como algo que o separa dos políticos de carreira, e que o libera das exigências dos doadores de fundos.

            Baseando sua pesquisa em votantes registrados, o que inclui o seu histórico de sufrágios nas primárias do GOP, buscou-se delimitar o apoio a Trump por aqueles que votam regularmente nessas primárias (dado o fato de que a sustentação de Trump viria de gente que não costuma votar em primárias). E mais uma vez, os profissionais foram surpreendidos pelo fenômeno Trump:  16% dentre os republicanos devidamente registrados apoia Donald Trump. E seus rivais, Ben Carson e Jeb Bush, têm respectivamente 11 e 10%.

             De acordo com as premissas, faz sentido que Trump desfrute de mais apoio junto aos votantes menos frequentes. Assim,  a assiduidade do votante não impede a Trump de deter a maioria nos segmentos respectivos. Como resumiu o Senhor Aida, não importa se a pessoa votou em republicanos em duas, oito ou doze eleições. Trump tem a vantagem em todas as hipóteses.

             Pelo visto, e com a proficiência dos pesquisadores estadunidenses, o fator Trump não se limitará ao verão boreal. O futuro dirá se o seu modo de fazer campanha continuará como fator favorável, ou se a sua liberdade verbal virá a colocá-lo em águas revoltas.

             De qualquer maneira, os grandes nomes do GOP dificilmente poderão dar-se ao luxo de ignorá-lo.

 

( Fonte: artigo do New York Times : “Porquê Donald Trump não desaparecerá: pesquisas e gente falam )                    

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