sábado, 29 de agosto de 2015

Pedro tinha razão


                                       
         Ao deparar o descalabro da gestão da discípula de Lula da Silva, Dilma Rousseff, me é difícil esquecer o que na época pensara fosse um cacoete de meu bom Amigo Pedro Carlos Neves da Rocha, que sempre se recusou em votar num candidato que não tivesse curso superior completo.

          Conforme relatei neste blog, na época do encantamento nacional com o torneiro mecânico Lula da Silva, apesar dos instantes apelos dos amigos Augusto Rezende e meus próprios, ele sempre declarou pelo motivo acima que jamais votaria para presidente em quem não houvesse cursado universidade.

 

            Hoje me dou conta o quanto de razão Pedro tinha. Recusava-se a aderir ao oba-oba de então em sufragar quem se tornara uma candidatura nacional.

   

            Passados quatorze anos da consagração daquele que julgávamos o candidato da Nação, que liderava partido com linha jacobina quanto a princípios, que se referira aos trezentos picaretas com mandato no Congresso, e que denunciara como corrupto, entre outros, ao então Vice-Rei do Norte, José Sarney, o que acontecerá se o levarmos à mítica balança na qual se pesam intenções e realizações?

 

           Transcorridos quase três lustros de o que se prefigurava como radioso futuro de Nação a ser presidida por ex-retirante nordestino, um operário que de dirigente sindical se alçara a líder de partido novo, que encantava intelectualidade e a Igreja progressista, num momento ainda de transição, no qual o regime militar tentava recusar que a hora do discricionarismo se ía desfazendo, ao acercar-se do vintênio.

           

           Embora abundassem os sinais, João Figueiredo, como ele gostava que o chamassem, timbrava em não concordar. Mas com o passar do tempo, grande parte da Nação via como símbolo de nova era o Partido dos Trabalhadores, e sua principal estrela. O jovem PT era um grêmio aguerrido, zeloso e doutrinário, não titubeando em abraçar inflexível jacobinismo ao expulsar um punhado de militantes que, ouvindo o clamor nacional, decidira sufragar Tancredo Neves. Nessa linha radical, também recusou-se a assinar a  Constituição de 5 de outubro de 1988[2].

      

           Essas mudanças de curso foram escusadas a título de juvenil impetuosidade. O futuro mostraria, no entanto, que o oportunismo esteve sempre presente no PT, e se confirmaria como tendência predominante com a tomada do poder. Ficava o dito por não dito, porque um valor mais alto se alevantara. Só não se sabia então que essa regra era tão elástica e cínica, quanto o futuro o demonstraria.

 

          Tendo isso em mente, tratemos da atualidade e de seus desafios, porque o resto a Deus pertence. Mais acompanhe o descalabro do presente, mais me convenço de que o Brasil deve a quem se intitulou Nosso Guia a dúbia dádiva da dupla presidência de Dilma Rousseff, a primeira como a chamada Mulher do Lula, eleita por indicação do Coronelão federal (e pela lamentável campanha de José Serra, um insigne político, marcado pelo exílio e pela anterior exação e brilho político). Grande articulista,Ricardo Noblat, já esmiuçou o que está por atrás dessa indicação, que conduziu ao Palácio do Planalto quem não estava preparada para tanto. Sabemos por que Lula se absteve de sinalizar um grande nome, preferindo o de sua chefa de gabinete, a quem deu alturas que ela não tinha.

      

          Agora colhemos o fruto amargo dessa jogada que o autor terá pensado getuliana na sua habilidade. Apesar de haver tentado retomar em 2010 as rédeas do Planalto, ironicamente quem é inexperiente em política (se a ele comparada) logrou com certa facilidade preservar para si o suposto direito à reeleição.

 

          Patético de certa forma foi o naufrágio de Lula no intento de recandidatar-se. A reeleição de Dilma foi desastrosa e não só para o candidato das oposições, Aécio Neves. É fato notório que o PT tudo fez para evitar que a candidatura de Marina passasse ao segundo turno. Já tinha tentado fazê-lo – com aparente sucesso – pela rejeição do seu partido pelo TSE (na terra do multipartidismo levado a um consternador exagero) por intrincadas razões que a razão desconhece. O que o PT não poderia imaginar é que a vice da chapa do PSB de repente se visse guindada a cabeça de chapa pelo desastre aéreo de 13 de agosto de 2014, em Santos com a morte do governador Eduardo Campos, jovem e promissor candidato neto de Arraes.  Perdido o sono por um tempo, cuidaram os gerarcas petistas de fuzilar a candidatura de Marina com saraivada de mentiras. E assim Dilma chegou ao segundo turno com o tucano Aécio Neves pela frente, uma ameaça à petista muito menor do que a carismática, honesta, coerente e afro-americana Marina Silva.

 

            É de lembrar-se agora o velho dito. Não desejes muito uma coisa, porque ela pode acontecer. E foi o que ocorreu com Dilma Rousseff. Conseguiu vencer por 3% a Aécio, mas nisto ficou.  Ganhou o primeiro e o segundo turno com enxurrada de mentiras.  Os escândalos da Lava-Jato e do Petrolão começaram a espoucar. Não estamos em junho, mas a artilharia continua.

 

             A recusa do Povo Soberano à candidata - que se apoiara num cenário cor de rosa que a realidade pós-eleição destruiu impiedosamente - se vai firmando em uma série de manifestações populares, que se mantêm malgrado as ânsias de seus partidários. O desprestígio é tal que funcionário Cerimonial do Planalto chega a barrar-lhe a presença em cerimônia. Antes os funcionários demoravam em trazer o cafezinho, agora inovam.

    

            No entanto, pesa-me dizê-lo que ela é como o jabuti da anedota. Se ele está num galho de árvore, alguém lá o colocou. E assim a inefável Dilma está em Palácio por vontade exclusiva de Lula da Silva.

 

           Ao olhar em torno e ver o descalabro produzido pela Rousseff no seu primeiro mandato e hoje por nós colhido no segundo, seria injusto atribuir-lhe a maior parte da culpa. É verdade que por sua imprudência e incompetência, ela nos trouxe a inflação de volta, e com o dragão o seu séquito de miséria e incerteza.

 

           Estamos agora,pelas mesmas causas, em recessão. A nossa economia, estagnada por uma série de fatores, alguns deles dignos de impeachment, se apresenta nesse estado causado pela conjunção do egoismo de Lula e a incompetência de Dilma.

 

          E ainda para esfregar sal na ferida, nos vem dizer que o nosso PIB caíu tanto que só está melhor que o da Rússia (vítima do despencar de seu principal produto de exportação, i.e.,o petróleo) e o da pobre Ucrânia, de que tanto tenho escrito, e por causa da cínica agressão imperialista  por ela sofrida de parte do presidente russo, o Senhor Vladimir V. Putin...

 

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo, Ricardo Noblat )            



[1] Uma explicação para quem não leu a minha série ‘Cartas ao Amigo Ausente’: Pedro Neves da Rocha sempre se recusou a votar para Presidente (ou outro cargo executivo) em quem não tivesse curso superior.
[2] Mais tarde voltaria atrás, e pela porta dos fundos, com a conivência do Congresso, deu o dito por não dito, e ora consta como se a tivesse firmado a seu tempo.

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