sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A Rua e o Poder

                                        

         Com os primeiros sinais de que, nas palavras de Júlio Tavares, os alegres compadres de Brasília ameacem entender-se, com inflexões, aqui e ali, mais uma vez,se demonstra que a velha fronda ao poder estabelecido depende do rouco protesto das ruas.

         Vários observadores podem notar que, com o passar do tempo, a situação começa a recompor-se, dadas as suas disponibilidades de caixa e a abertura de perspectivas antes nunca vistas pelos interessados.

         Não é discurso de descrença na revolução, mas na sua capacidade de afirmar-se. Enquanto a situação se mantiver com um mínimo de estruturação, dificilmente a força inercial da mudança há de verificar-se, sem o auxílio de fatores imponderáveis.

         Torna-se difícil em ambiente pré-revolucionário que o poder contestado se desfaça como castelo de cartas, se não houver uma dinâmica que passe à frente da resistência do poder constituído, ou o torne irrelevante,  se for lograda a conjunção de fatores que corte o tempo como elemento de manobra da situação.

          Há duas frentes que podem determinar se o processo continua ou fica estacionário.

          Se não intervier nenhuma força que contribua para desestruturar as resistências localizadas, será inevitável a estagnação. Com ela deixa de funcionar o processo acima citado. Os fatores dinâmicos da revolução perdem a capacidade intrínseca de confundir e desmoralizar as forças da reação, se esta mesma reação  detiver o avanço da revolução. Nada realizando dos respectivos objetivos, sobrevém a paralisia e a consequente desmoralização.

          A única maneira de superar e confundir as forças do status quo é de quebrar o equilíbrio, e a consequente inação do processo revolucionário.

           Na situação presente, em que vemos um suposto partidário da revolução associar-se às forças do status quo, dar-lhes uma agenda (que lhe mascara a paralisia) e prejudica a ação de outro inimigo da situação, pois quebra o acordo de cooperação que entre eles passara a vigorar. Essa adesão é importante menos pelas forças que acrescente, do que pela sua capacidade de inviabilizar a ação do seu par no Congresso. Por outro lado, graças à sua postura anterior, se reforça a possibilidade de negociação com o TCU, tribunal burocrático e por natureza criatura do poder estatuído. Assim ficaria controlada a capacidade desse poder de julgar um poder mais alto, o que representa tarefa que vai bastante além da sua força intrínseca. Se as forças da composição ficam robustas o bastante para fornecerem a oportunidade do entendimento, o TCU o fará de bom grado, pois está no seu DNA a tendência  ao consenso burocrático e, dessarte  a dirimir óbices para criar  entendimentos que possam parecer-lhe oportunos.

              O outro desenvolvimento contrário às forças da crise ocorreu no Tribunal Superior Eleitoral.  Surpreendeu a alguns que dois ministros do TSE (Gilmar Mendes e João Otavio Noronha votassem a favor da continuação da ação – arquivada em fevereiro último – mas o Ministro Luiz Fux não surpreendentemente pediu vista do processo, e assim a ação para outra vez.  Este processo foi impetrado pelo PSDB para impugnar a chapa Dilma-Temer.

                A iniciativa de Fux fez o processo ficar novamente suspenso. Luiz Fux que entrou no Supremo indicado por Dilma, se submetera a que seu ingresso no STF implicasse em que ele optasse pelo atraso na vigência na Lei da Ficha Limpa. Posteriormente, Fux se entrosou bem com o Ministro Joaquim Barbosa, e contribuíu para as sentenças condenatórias do processo do Mensalão. Com a aposentadoria (voluntária) de Barbosa, Fux volta  a entender-se com o Governo Dilma.

                Portanto, como se verifica, o processo revolucionário claudica tanto no TCU (que pelas suas características sempre dera indicações de abertura à negociação e composição) e, pelo visto, igualmente no TSE, a menos que algum Ministro do TSE convença  Luiz Fux de o que significa a evolução dentro da Lei na presente crise.

               Levadas em consideração as involuções acima citadas, a única perspectiva de solução do problema Dilma Rousseff estaria em que o  Povo Soberano vocalizasse afinal o que tem amplamente dado a entender no que tange à sua posição.

               Se o Povo se manifestar de forma inequívoca e multitudinária em favor do Impeachment, se dissolve a reação dos poderes acima citados e se passa a outra situação, em que uma voz mais alta se alevanta.

                Seria o fim de papo não só para Dilma Rousseff, mas também para o governo corrupto do PT.

                 Ficará depois para as autoridades constituídas, que são pessoas de juízo, entenderem a  vontade do Povo Soberano, quanto esta é expressa em números e com intensidade tal que, ipso facto, afasta as opiniões minoritárias em contrário.

                 Não foi uma boa ideia da Presidente Dilma Rousseff de convidar a palácio o presidente da CUT, Vagner Freitas, que a folhas tantas, tomado de venezuelano entusiasmo, talvez por conta do rubro boné da CUT que achou oportuno botar na cabeça em pleno palácio presidencial, e, assim uniformizado, prometeu “pegar em armas” para defender o governo Dilma. Se Lula lá estivesse, veria decerto com tristeza que não mais se fazem líderes sindicalistas como antigamente...

 

 

( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo )

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