terça-feira, 18 de agosto de 2015

FHC fura balão petista


                                       

         O círculo de correspondentes de Brasília, aferrando-se às fontes palacianas, bem sabe que, para ter trânsito na Corte, precisa mimetizar a linguagem do poder. Assim,  já no domingo, com os milhões de demonstrantes baixando às ruas para reiterar o Fora Dilma! repetiam eles a lição petista de, contra tudo e todos, afetar normalidade, como se gritar pelo Impeachment de Dilma faça parte do léxico político de todos os dias...

        Dentro da dinâmica da crise – e das revoluções, pacíficas ou não – a tendência de todos os governos é enfatizar a sua suposta legalidade e melhora nas próprias condições, em geral só discernível por gente do palácio. A postura de avestruz é mais humana de o que se pensa, e, em geral, o golpe que leva ao nocaute ou desorienta, vem de um canto inesperado.

         Dentro desta lógica, a declaração do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, havido por gregos e troianos como moderado, veio lançar a confusão nas fileiras do petismo, que pensava poder cinicamente abraçar a demonstração, para melhor sufocá-la e desencaminhá-la.

         O que disse Fernando Henrique ?  Se a própria Presidente não for capaz de gesto de grandeza (renúncia ou a voz franca de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional), assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de Lava-Jato.”

         Em análise sobre as manifestações de domingo último, FHC disse que “o mais significativo das demonstrações é a persistência do sentimento popular de que o governo,  embora legal, é ilegítimo. Falta-lhe a base moral, que foi corroída pelas falcatruas do lulopetismo.”

         E numa alusão direta ao boneco do ex-presidente Lula vestido de presidiário, que foi levado às ruas por manifestantes em Brasília, disse Fernando Henrique:

         “a Presidente, mesmo que pessoalmente possa se salvaguardar, sofre contaminação  dos malfeitos de seu patrono (Lula da Silva) e vai perdendo condições de governar.”

          Fernando Henrique Cardoso conclui a sua declaração com o seguinte vaticínio: a desarticulação se manterá “até que com algum líder com força moral diga, como o fez Ulysses Guimarães, com a  Constituição na mão, ao Collor: você pensa que é presidente, mas já não é mais.”

          Sobre as razões pelas quais FHC julgou oportuno intervir com tal contundência, especula-se que seriam sobretudo o tamanho  das manifestações (maiores que as de abril) e a circunstância de terem chegado ao Nordeste, principal reduto ‘lulopetista’.

          Além disso, nem o entendimento de cessar-fogo costurado no Senado há pouco mais de semana logrou tirar da inércia o governo Dilma. Poderia ter até permitido a aprovação de medidas do ajuste fiscal. Mas nada aconteceu. 

           As respostas petistas ao manifesto de FHC são chãs. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) chegou a dizer: “Será que ele está girando bem?”, enquanto aquele no Senado, Humberto Costa (PE) lamentou a declaração do ex-presidente e disse “ Foi um ato de pequenez política.”

          Na prática, não houve contestação.  As respostas são chochas, e o sentimento de que as assertivas do ex-presidente calaram fundo, persiste.

 

( Fonte:  O  Globo )    

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