quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A Conta da Crise

                                           

         Ainda é cedo para determinar qual será a conta da crise Dilma Rousseff.  Como reza o antigo conselho de que as assertivas de personalidades que fizeram por merecer um baixo crédito no que concerne à veracidade das confissões respectivas devam ser tomadas com boas doses de ceticismo, já de saída elas podem ser sacudidas nessa peneira e muito pouco sairá de aproveitável.

         Assim as boas intenções da Presidente que terá pensado em partilhar com o eleitor eventuais dúvidas sobre a  situação econômica e financeira do Brasil, que ela desvelou ao público na última entrevista, fazem parte da farsa pós-eleição. No segundo turno, mais ainda do que no primeiro (quando conseguira ver-se livre de Marina, a quem os estrategas do PT temiam mais do que o demo como adversária no segundo turno), com  arrogância  ela vestiu os andrajos da situação econômica com roupas de gala.

       O Brasil mergulhou e não por acaso na situação em que ora está por causa da herança de Lula e do primeiro mandato de Dilma. Não é só o que ora inquieta Nosso Guia com o avanço da Lava-Jato, as revelações na imprensa sobre o escândalo do Petrolão, e a ação segura do Juiz Sérgio Moro, mas também a mega-crise política que desabou sobre a segunda presidência da Rousseff. Nunca dantes na história de nosso país um primeiro mandatário se achou tão enfraquecido quanto a candidata da algibeira de Lula.    

       Dirão que ela dispõe na sua retaguarda de um grande partido. No entanto, a política diz respeito  sobretudo ao hoje e ao amanhã. O que o PT ora apresenta em termos de bancada é o reflexo de um ontem que só persiste porque a sua obra alcançou as bancadas inchadas da atualidade, agora consumidas pelas revelações e escândalos que não cessam de espoucar nesse prolongado pós-eleição.

      De certa maneira, repetiu-se neste pleito o estelionato eleitoral do boi-gordo e do Plano Cruzado, que já a dois dias do resultado estava esvaziado pela manobra do Cruzado II. Como dizia Magalhães Pinto, política é como nuvem, pela sua mutabilidade. Para o eleitor, porém, a raiva aumentará exponencialmente, se desmascarada a circunstância de que a vitória  baseou-se  na mentira.

      Aí tudo muda. Com a credibilidade perdida, desabam os Ibopes e os Datafolhas da vida. A política e as suas representações refletem o passado, mas também o futuro, porque é este o amálgama que aponta para o rumo a seguir e as alianças a firmar, se se deseja manter o poder. Se um partido ou aliança de partidos é julgado como se fora uma mentira ou embuste, ele passará a sofrer as consequências antecipadas do seu próximo inelutável castigo pelo corpo eleitoral.

       É esta a situação presente, não só do governo Dilma, mas também do PT. É enorme a rejeição à porta-estandarte e à escola, como se reflete na última pesquisa do Datafolha quanto à primeira mandatária (e, por consequência, ao cliente PT).

       Como a força política se compõe de dois elementos básicos (avaliação presente e o número da bancada de apoio), os dois elementos não se podem dissociar, como se verifica de resto na impossibilidade de o Governo Dilma sacar os seus supostos direitos sobre a sua chamada base de apoio.  Por falta de credibilidade política, os seus clientes tendem a rever as respectivas posições. Daí o fiasco quanto à aprovação do Ajuste Fiscal, e de qualquer outra medida que envolva o futuro. Além disso, a fraqueza política do governo Dilma aumenta o preço da respectiva sustentação, como se verifica pelas centenas de milhões desperdiçadas com bondades para os parlamentares, bondades essas que trarão muitos poucos dividendos para as questões do interesse da Fazenda e da situação econômica do Brasil. 

        

( Fonte:  O Globo )

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