No passado,
éramos conhecidos como a terra do café, carnaval e futebol... No entanto, um
ensaísta de nomeada, Edward W.Said,[1] em
um de seus livros nos comparou à Nigéria, como a nondescript country, um país
falto de características marcantes.
Desde que
colocou essas palavras no papel, já terá transcorrido decerto um bom tempo.
Mais tarde,
veio a época do acróstico dos Bric,
uma criação em 2001 de Jim O'Neill. Esse acrônimo é reunião de quatro
países (Brasil, Rússia, Índia e China), a que se agregou depois a União
Sul-Africana.
Na época, não
havia muitas dúvidas sobre as perspectivas da RPC (que já é, de resto, a segunda potência mundial e que caminha
para ser a primeira, ultrapassando os Estados Unidos), e as três outras,
cresciam de modo marcante. A África do Sul seria uma adição mais política do
que econômica aos Bric.
Nesta década,
porém, o ritmo mudou, notadamente para Brasil e Federação Russa. O crescimento desta última
tem sofrido por conta da crise do petróleo, cuja cotação vem baixando de forma
pronunciada. A crise econômica do Brasil
tem como bem sabemos uma causa principal que é o desgoverno de Dilma Rousseff. Não
nos tem favorecido igualmente a queda no mercado das commodities (entra século, sai século continuamos um país cuja
economia se funda precipuamente nos produtos de base).
Colocado diante da debilidade atual dos Brics, o inventor desse acrônimo partiu
para o outro, os chamados Mint: México, Indonésia, Nigéria e Turquia. O
futuro do mundo estaria então com a hortelã e não mais com os tijolos (brick) ?
Como idéia - e
o quarteto inicial realmente inspirava respeito, a começar pela China, já a
segunda potência econômica no mundo e runner-up
(rival) da superpotência. Os outros países também apresentavam crescimento
respeitável, e tinham todos o tamanho de grandes nações.
Poder-se-á
dizer o mesmo de Mint? De
todos é o México que melhor impressiona, mas não são pequenos os seus
problemas, notadamente o da corrupção rampante no Estado e a concomitante
presença do narcotráfico, que tem hoje seja talvez ainda maior do que tinha na Colômbia de Pablo Escobar o tráfico de
drogas.
Por outro
lado, a Nigéria é o país de maior potencialidade no continente africano, mas
enquanto o Estado não tiver força, e a corrupção não for a mola desse grande
conglomerado de tribos, pode-se dizer que o seu crescimento ordenado se afigura
economicamente possível ?
Tampouco
Indonésia e Turquia se afiguram hoje com PIB e credibilidade para subir nesse
pedestal. Dessarte, o mint semelha para mim mais uma bolação
inteligente, do que uma previsão de presença futura entre os realmente grandes
na economia mundial.
De qualquer
forma, a economia brasileira e a sua insegura posição atual se deve ao
desastroso governo de Dilma Rousseff, que não só nos trouxe de volta a inflação
(acima de dez por cento), quanto a mega-confusão que instalou na economia,
partindo para inversões altamente onerosas (bolsa-família - a ponto de o
relator do Congresso propor um corte de dez bilhões de reais), além de outros
programas ultra-concessivos (desonerações fiscais para favorecer a indústria automobilística,
que é estrangeira), a par de orçamento que registra um buraco de cento e vinte
bilhões de reais.
Parece que a
solução encontrada para esse problema será ver-se livre do chamado ajuste
fiscal. Junto com ele, como se fosse água de barrela, tudo indica que vá junto
o Ministro Joaquim Levy. Sendo o único que inspira confiança ao mercado, a sua
demissão, se não acrescenta muito à situação atual (dado o desgoverno de Dilma,
a sua grande fraqueza e consequente possibilidade de queda através do
impeachment), dá um basta para as perspectivas de recuperação. A única
previsível seria a substituituição de Dilma por Michel Temer, o atual vice, e
que de forma sempre mais visível se posiciona como a solução natural.
O que restaria
determinar, se o PT e Dilma forem por água abaixo, é como ficará a
governabilidade e a consequente capacidade de enxugar o orçamento, de forma a
recuperar de algum modo o equilíbrio fiscal. Não será tarefa fácil, pela grande
presença de dona Corrupção nas bancadas, e a consequente demagogia que só
sabe fabricar déficits (como se tem visto nos repetidos fracassos das
tentativas de Dilma - que criou a confusão - e Levy, que não a criou e é a sua
antítese, mas que fala outra linguagem que um Congresso demagógico e alienado,
que talvez nem se convença quando a previdência falir).
A crise não
governa e tampouco deixa governar. Enquanto permanecer formalmente no Planalto
a Administração Dilma Rousseff todos os planos para enxugar a economia e
arrumar a casa fazem parte da terra da Cuccagna.
É um país maravilhoso - segundo os italianos. O problema com ele é que só
existe na imaginação delirante dos senhores legisladores, muitos deles sob a
batuta de dona Corrupção.
Fora um deus ex-machina que instaure a ordem e
os bons costumes (o progresso, mesmo na bandeira, ficaria mais difícil), as
perspectivas são negras. Ora, a esperança de uma recuperação está na mudança de
governo. No entanto, como o impeachment é refém de um presidente de Câmara com problemas sérios de corrupção (conforme atestado pelo Ministério Público da União e a população em geral), como
é que ficamos nós, senhores brasileiros? Pois decerto não é possivel esperar
algo de quem criou toda essa confusão, e que está por ora no poleiro do
Planalto, supostamente encarregada do governo de Pindorama?
Haverá um outro país em que uma autoridade com
crimes já configurados, e formalmente acusada pelo M.P.U., continua a deter a
chave do processo de impeachment ? Como se fala de um contubérnio entre a
autoridade ameaçada de impeachment e aquela que tem a chave da abertura do
processo, como é que ficamos, senhores congressistas? Comprovada a falta de
isenção de quem tem a chave do cofrinho - eis que abrir o processo, seria, no
seu entender, assinar a própria perdição - estamos diante de uma situação
trágica, mas que deve poder ser resolvida ! Ou não é ??
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, VEJA )
[1] Edward D. Said,
(1935-2003) Intelectual palestino, radicou-se nos Estados Unidos, onde foi
professor universitário. Bateu-se pela causa de sua terra natal, e foi autor de
numerosas obras, entre quais, Orientalismo.
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