Para entender a facilidade com
que o braço islamita atua em Paris e em outras cidades da França, carece ter-se
presente que a população francesa já incluía (em princípios do século XXI) cerca
de oito milhões de muçulmanos (total esse de resto não divulgado e que me fora
confidenciado por funcionário francês). Diante da respeitável taxa de
nascimento nessa comunidade, há de prever-se que a participação de descendentes
islâmicos na República Francesa terá continuado a aumentar, diante da baixíssima
taxa de natalidade da população natural do país.
Enquanto cresce
o percentual muçulmano da população do Hexágono, ainda não se percebe uma
preocupação do governo francês, seja ele de direita ou de esquerda, em criar
mais condições para a real integração da minoria islamita no Estado francês.
A sua maior
parte continua a viver nos HLM
(habitações na periferia, com aluguer controlado), que se converteram em
verdadeiros guetos, no entorno pobre e violento das principais cidades.
Hão de
recordar-se que o então Ministro do Interior (que cuida da polícia) Nicolas Sarkozy prometera aos franceses
em discurso, no ensejo de protesto generalizado desse proletariado
(caracterizado pelo incêndio de carros nos fins de semana), que ele enfrentaria a racaille (gentalha).
Essa promessa pode não ter sido acompanhada
da ação repressiva a que Sarkozy aludia, mas lhe foi de grande proveito para
aumentar-lhe a popularidade junto ao povo francês.
A colonização
da Argélia e a guerra pela liberdade naquele país (antes um departamento
francês) exigiu longo enfrentamento diante do FLN (Front Nacional pela
Libertação - da Argélia), sobretudo pelo número de pieds noirs (pés negros,
com que se designava a parte européia sediada no então departamento da
Argélia). A resistência francesa se explica pelo apelo da comunidade de origem
francesa lá radicada.
Somente de
Gaulle conseguiria chegar ao acordo, reconhecendo a independência da
antiga colônia. A transferência para a França continental não seria apenas dos
colonos franceses lá antes radicados, mas também incluíu os ditos harki que são aqueles argelinos que
tomaram o partido da França. Dados os ódios e os ressentimentos, deixá-los na
Argélia equivaleria a condená-los à morte.
Com o passar
dos anos, e a normalização das relações,
o fluxo provindo da Argélia (e dos outros países do norte africano) se
manteve. Se juntarmos a essas correntes demográficas, a taxa de natalidade desta
população - bastante superior à das francesas autóctones - terá contribuído
para o sensível incremento da parcela muçulmana no povo francês.
Quando o
Presidente francês, François Hollande,
ao pedir união contra o terrorismo, e promete renovada atenção, há de ter-se
presente que declarações similares foram feitas ao ensejo do massacre da
redação da revista Charlie Hebdo, há cerca de onze meses. O número de vítimas
desse ataque terrorista não está ainda fixado. Por ora, estão computados cerca de 140 mortos em
Paris.
Esse ataque
islamita radical pode ter muito a ver com a intensificação das operações de
guerra contra o estado islâmico.
A tal
propósito, o jihadista mais famoso do E.I.
parece ter sido liquidado por um ataque aéreo da coalizão ocidental a Raqqa (o
Pentágono dá 99% de probabilidade de
que esteja morto). Jihadi John -
identificado como Emwazi, homem de 27
anos, nascido no Coveite, e que vivia no Reino Unido desde os seis anos de
idade. Apesar de vigiado pelo serviço secreto, o jihadista logrou fugir para a
Síria em 2013, e se tornou notório por suas aparições como carrasco nas brutais decapitações de reféns do ISLI, inclusive a do
jornalista americano James Foley (video divulgado a 19 de agosto de 2014).
( Fontes: O
Globo, The New York Times )
Nenhum comentário:
Postar um comentário