segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Brasil: Corrupção & Burocracia (X)


                     

        No seu segundo mandato, o Presidente Lula terá avaliado a possibilidade de concorrer a um terceiro, dentro do modelo chavista. Para o seu currículo, não cedeu a sugestões daqueles que insistiam tomasse este caminho. Cabia então escolher alguém para sucedê-lo e para surpresa de muitos, optou pela Chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff, que não tinha experiência alguma na carreira política - excetuado um posto em secretaria de governo estadual do PDT.

        Tal opção pareceu estranha a muitos petistas e terão havido alguns, como refere conhecido jornalista, que julgaram fosse matéria digna de ser pelo menos levantada junto ao chefe supremo do partido.

         Ver alguém totalmente verde em experiência político-partidária, máxime nessas altas esferas, seria interpretado por eles como risco desnecessário, inútil mesmo para o PT, que dispunha de alguns tarimbados militantes que fariam jus a enfrentar tal desafio. Mas as obtemperações não tiveram qualquer êxito. Dentro de um partido que tem traços estalinistas, essas manifestações discrepantes, além de não terem obviamente qualquer êxito, iriam desaparecer como tiros n'água se muito mais tarde o comportamento da sucessora não houvesse provocado a remembrança de tais malogradas gestões junto ao chefe máximo.

           De qualquer forma, se tugiram ou mugiram em protesto, ele foi tão discreto que sequer ultrapassou  os umbrais da Presidência. Uma vez mais, o Líder Máximo iria preponderar, posto que, sob muitos aspectos, o tiro lhe iria sair pela culatra.

           A ignorância política de Dilma era de chorar. No entanto, a popularidade do Presidente era tal que, a despeito das gafes e inabilidades da Mulher do Lula (assim ela era conhecida sobretudo no Nordeste), ela conseguiria, ainda que em segundo turno, vencer nas urnas o candidato do PSDB, José Serra.

           Este dispunha de um curriculum político que até humilhava a favorita de Lula. Mas no Brasil, infelizmente, o Coronelão político tem ainda muita força, e a tal ponto que é capaz de convencer boa parte do eleitorado que uma pessoa sem qualquer experiência em cargo executivo eletivo possa governar melhor do que alguém que militara na política desde a presidência da UNE[1] (nos tempos heróicos do governo João Goulart), que tinha sido Governador de São Paulo e brilhante ministro na Saúde, no governo de FHC. Quanto à qualidade política e sobretudo econômica da Presidenta, ela não impediria a sua reeleição (mas como esta proeza foi conseguida será contado depois).

           Por sua vez - e me é forçoso reconhecer - que dois fatores muito contribuíram para a vitória de Dilma no segundo turno. A virtual traição de Aécio Neves que não desejava de modo algum a vitória do correligionário Serra, sobretudo porque lhe faria esperar oito anos para que pudesse disputar a presidência. Assim, recusou-se a ser candidato a Vice na chapa de Serra (que acabou forçado a aceitar como companheiro  alguém que a ela muito pouco acrescentava), e além disso, se não o cristianizou em Minas, não se empenhou no próprio estado pela candidatura do paulista Serra. Nesse contexto, a sua derrota em Minas para Dilma na eleição de 2014, seria um irônico castigo para Aécio, sobretudo se se levar em conta a alta avaliação com que deixara a governança das Alterosas, e que era  insistente tônica de sua propaganda no segundo turno decisivo contra a Presidenta.

            Faltou mais personalidade à candidatura de José Serra, que às vezes parecia ter vergonha de ser o melhor candidato. Além disso - e terá sido talvez o cúmulo - já no segundo turno chegou a inserir, no próprio contexto de candidato, menção elogiosa a Lula. Se ele parecia desejar fazer esquecer que representava a oposição, essa atitude mostra claramente que, ou não acreditava nas próprias possibilidades, ou - o que é ainda pior - não tinha a convicção de apresentar-se como válida alternativa.

            O nosso eleitorado sendo o que é, Dilma venceria duas vezes, e na segunda então, sob a orientação do marqueteiro João Santana, ela abusaria do 'direito de mentir'. Sem embargo, a este ponto chegaremos oportunamente.

             Procurarei, a seguir, e para não cansar o leitor, ser breve, dado o caráter manifesto da presidência de Dilma Rousseff no seu primeiro mandato. Os podres do PT, podres esses que alimentam a Operação Lava-Jato, mais pertencem - no que concerne à sua divulgação - ao segundo mandato de Dilma Rousseff. Antes, eram como o assassínio do pobre Celso Daniel - o protomártir petista -  escândalos in fieri  (em processo de realizar-se), e que ainda hoje carecem de ser devidamente iluminados e esclarecidos.

             Quanto ao malogro da presidência Dilma Rousseff, ele é tão grande e tão manifesto que o eventual crítico chega a sofrer de certo desconforto, a tal ponto essa senhora foi desastrada na própria governança. Como o leitor não ignora, não me atrevo a chamá-la de principal responsável pelo pandemônio político, econômico e financeiro que ela nos deixou ao concluir o seu primeiro mandato. Porquê o principal responsável tem nome e apelido. Chama-se Lula da Silva, e resolveu patrocinar a candidatura de sua chefa de gabinete movido apenas por um sentimento egoísta, eis que não queria que ninguém - e muito menos algum medalhão do PT - lhe fizesse sombra. Por isso, empulhou o eleitorado com a Mulher do Lula, a quem fez vencer como os Coronéis do seu Nordeste elegem os próprios candidatos.

                Na segunda eleição - com todos os escândalos prestes a saírem de suas tocas - ele se tornaria figura patética, eis que se daria conta da força de que dispõe o(a) titular de qualquer posto nessa República, e ainda mais, o poleiro mais alto, que dá ao seu detentor uma força que ele, o presidente Lula da Silva, não soubera aquilatar, a ponto de sequer ter sido considerado como alternativa a Dilma Rousseff.

                Antes que atravessemos este rio de águas caudalosas que é a grande crise do Brasil, cumpre passar em revista - e como a exposição é daquelas que infunde mais raiva e vergonha - semelha melhor fazê-lo de forma veloz e sintética porque a estupidez humana tende a embotar os sentidos e a consequente percepção. Quanto mais rápido tratarmos dos fatos consumados, melhor será para o leitor e para o brasileiro em geral.

                Com todos os defeitos de Lula, ele não repassou para a sua discípula uma economia em má situação financeira. Pela própria irresponsabilidade, Dilma Rousseff traria de volta a inflação. Quem conhecia um pouco da matéria, não deixou de sinalizar-lhe os perigos. Ela que se diz economista, pôs a perder todo o sistema que os criadores do Plano Real tinham montado.  Teve inclusive a estultícia de pensar que a carestia poderia ser combatida através da retórica. O dragão terá sorrido e nós sabemos bem dos estragos que ele traz consigo.

                 Mostrou como a inépcia da governante despreparada pode ser desastrosa - e o foi em todos os campos da economia e finanças. Ela, Dilma Rousseff, é o próprio desastre encarnado, e a tal ponto, que depois das suas inomináveis proezas logrando trazer de volta a inflação, também se esmerou em ferir de morte o esquema laboriosamente montado pela Lei da Responsabilidade Fiscal.

                 Não sei se se deva cognominar Dilma Rousseff de energúmena em matéria econômica e financeira. Mas leitor amigo, depois de todos os erros do primeiro mandato, o que ela fez com um financista promissor, formado em Chicago, que lhe foi ofertado para que ela pudesse desfazer a barafunda econômico-financeira que nos aprontara no Primeiro Mandato (as Pedaladas fiscais são uma espécie de homenagem dos auxiliares, Ministro Guido Mantega e seu Secretário do Tesouro, Arno Augustin, à Presidenta). Em recente coluna, Miriam Leitão mostra que Joaquim Levy teve várias oportunidades de deixar o Ministério da Fazenda, porque Dilma continuou a proceder como ela fizera antes no Primeiro Mandato.  Ela não teve sequer a inteligência de intuir que Joaquim Levy, com a sua experiência e conhecimento, deveria ser aproveitado por ela, e não enfraquecido pelos seus (dela) sucessivos erros. Tampouco ela se deu conta que desprestigiar a Levy equivalia a avalizar, com risco grosseiro, que ela própria não tinha condições de ser salva, na medida em que não aceita a mão que lhe é estendida para livrar-se da areia movediça em que se meteu. Em outras palavras, se Joaquim Levy perdeu o seu prazo de validade foi por uma atitude nobre de querer salvar o insalvável. Predisse que mandar a proposta orçamentária com déficit para o Congresso faria com que a Agência de Classificação de Risco baixasse a nota do Brasil, tão duramente conquistada. E ela, com a sua claque, desconheceu estultamente a acertada previsão. E para ele será tanto melhor acabar com essa farsa em que se transformou o Segundo Governo Dilma, que mostra o quanto determinadas pessoas não são suscetíveis de serem salvas.

                    O desastre causado por Dilma Rousseff por ser tão grande - e ele vai muito além da área econômica e financeira, com a crise que ela provocou, e tantos empregos têm tirado da gente que ela diz amar tanto.

                    É triste, melancólico mesmo, que conquistas anteriores sejam cruelmente desfeitas pela militante ignorância da Presidenta. A inflação de dois dígitos já é um escândalo, e a sua volta nos facilita compreender agora melhor a estulta oposição do Partido dos Trabalhadores ao Plano Real e a tudo que a ele dissesse respeito.

                    Entrementes,  dorme um sono inquieto na Câmara dos Deputados a petição pelo impeachment de Dilma Rousseff. Assinada por um varão de Plutarco, o Dr. Hélio Bicudo, fundador do PT, que dele saíra prontamente quando estoura em 2005 a crise do Mensalão, e a podridão petista se torna manifesta, a referida petição está nas mãos do Deputado Eduardo Cunha, que é o Presidente da Câmara, que responde, outrossim, a processo na Comissão de Ética desta mesma Câmara.

                    E será por esse veio da corrupção, ainda não devidamente explorado e denunciado que a República Federativa do Brasil e o seu Povo soberano pacientam por    resposta a uma pergunta tão simples quanto incisiva.

                                                                                         ( a continuar )



[1] que naqueles tempos dialogava com o Presidente da Republica e  não era a quase função gratificada que hoje é.

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