O bloqueio dos
organismos do Estado e, em especial, do Legislativo, pode ocorrer por uma
pluralidade de causas.
Nos Estados
Unidos, pela falta de espírito bi-partidário, o Congresso ficou, na prática,
paralisado, pela impossibilidade de
aprovação de legislações importantes para a Nação americana, de 2011 até início
de 2015.
Com a Câmara de
Representantes sob controle de uma facção radical, como são os adeptos do
movimento Tea Party, aliados do
Partido Republicano, um momento na vida do Estado americano (por força do
despreparo do jovem presidente Barack Obama) se transformou numa realidade antagônica
e virulentamente contrária ao sentir da Nação.
Esse espírito de raivoso reacionarismo faria
com que muitos estados americanos embarcassem na canoa do gerrymander, que viria no futuro a congelar na Câmara de
Representantes a momentânea realidade que gestara a derrubada da maioria
democrata na Câmara baixa. Tomando o freio nos dentes, e valendo-se das
pluralidades saídas da reação popular do chamado shellacking (tunda), e
através de Câmaras estaduais foram criadas as disformes disposições que
assegurariam o congelamento na prática de uma situação eventual, que o velho recurso
- de resto, ilegal - ao gerrymander
iria transmutar em permanente.
A inexperiência
do jovem Presidente democrata custaria caro e não só ao próprio partido, mas
sobretudo à Nação americana, eis que o artificial e o distorcido não estão aí
para espelhar a lídima vontade do Povo, mas realidade deformada desse sentir.
Como seria de
esperar, essa contraposição entre burgos podres (aqueles na Inglaterra do
início do século XIX que seriam desfeitos pela pacífica reação do povo de Sua
Majestade) e câmaras autênticas criaria estranhas projeções políticas, como as
estranhas diferenças no peso do voto em estados como Ohio, em que a realidade
da votação estadual geral (muito mais difícil de ser deturpada), e as circunscrições
para deputados e representantes na câmara legislativa espelhavam o claro enigma existente entre o sufrágio
real e o artificial.
Por causa
dessa fratura, a Câmara de Representantes, sob domínio do GOP, imporia a
paralisia legislativa. No biênio em que o Partido Democrata dispôs de maioria
bicameral, as duas Câmaras assegurariam reformas relevantes, no campo de Wall
Street e dos bancos, na Saúde (com o ACA) e com os subsídios indispensáveis
para reativar a economia, fragilizada
pela Grande Recessão.
Apesar de
reter maioria no Senado até o começo deste ano, o Partido Democrata pouco
proveito poderia tirar dessa situação, diante da resistência da Câmara de
Representantes, que abominava o bipartidismo, dentro de sólido reacionarismo.
Até mesmo a reforma da imigração, aprovada no Senado pelos dois partidos, foi
obstaculizada pela grande pedra do pequeno Tea Party, essa facção reacionária,
engendrada pelos irmãos petroleiros Koch (pronuncia-se Conq) que prevalecendo
na Câmara, inviabilizaria o que a maior parte da Nação americana já julga
necessário.
Que o leitor
me releve esse um tanto longo intróito, mas ele serve de útil lição. Para o
colunista Merval Pereira, na sua coluna de ontem - Baixa Política - são
espúrias (a palavra não é dele) as motivações do apoio de oposição e governo a
Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Essas duas entidades desejam preservar
Cunha, posto que por motivos contrapostos.
Os governistas
com o intúito de inviabilizar o impeachment, e a oposição, com a esperança de
viabilizá-lo.
Dada a baixa
confiabilidade de Cunha, já constitui jogada de alto risco confiar em tal
intermediário. Nas palavras de Merval Pereira, tal "demonstra quão baixo
nível atingimos, a ponto de um político desmoralizado pelos fatos ter ainda
fôlego para comandar as ações no Congresso."
Ambos as
partes contrapostas de modo inegável estariam inclinadas a tomar como prováveis
reações diversas do atual Presidente da Câmara. Acham - ou fingem achar - que
ele terá a hombridade de cumprir compromissos. Como são grandes as margens de
dúvida, a maior vantagem estaria, com os
aliados de dona Dilma, eis que esses contam com a inação do atual presidente,
diante do respectivo compromisso constitucional. E julgando que mais aproveita
ao Chefe da Câmara deixar inconclusas as questões, dentro dessa hipótese
fingiriam apoiá-lo, mantendo-o em vida burocrática pelo tempo que a eles mais
aproveita, antes que possam cortar o nó Górdio que pesa sobre a cabeça de Sua
Excelência, isto é, tão logo encontrado um porto seguro nesse mar traiçoeiro
que a dílmica nave tem de arrostar.
Dentro desse
contexto, aconteça o que acontecer, é
sumamente difícil negar a existência do momento de baixa política que ora
atravessamos.
( Fontes: O Globo, coluna de Merval Pereira )
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